A F.U.D.O.S.I. foi formada em 1934 “para proteger as liturgias sagradas, ritos e doutrinas das Ordens iniciáticas tradicionais de serem apropriadas e profanadas por organizações clandestinas”. A F.U.D.O.S.I. não era uma Ordem, mas uma Federação Universal de Ordens e Sociedades esotéricas e autônomas, portanto, um órgão administrativo antes de tudo.

“Algumas pessoas, cujas mentes ainda não receberam luz suficiente, desejam saber por que era necessária uma Federação Universal. As Ordens e Sociedades Iniciáticas que, no seu próprio campo de trabalho, desfrutam da mais absoluta e completa liberdade e perfeita autonomia e independência. A esta questão nós podemos responder que, mais que qualquer outra coisa, está no trabalho iniciático que a maior vigilância é indispensável e que uma disciplina internacional estrita e ativa deve ser exercida.

Nós devemos reconhecer e lamentamos a existência de muitos falsos profetas e vários auto-proclamados iniciados que usam, para propósitos egoístas e tirânicos de dominação, o pretexto da iniciação para explorar as pessoas crédulas e sinceras. Era tempo de advertir o público contra estes falsos líderes e contra doutrinas nocivas que eles ensinaram às almas confiantes.

Em cada país, cada Ordem autêntica e regular conhece seus imitadores e tais falsos profetas. Era necessário vigiar estes movimentos clandestinos, expor estes impostores ou instrumentos ocultos e evitar sua força, em todos os países, onde quer que eles estejam operando, e assim evitar qualquer confusão entre as Ordens regulares e autênticas e as Organizações falsas que são prejudiciais ou que ofereçam ensinamentos que nada têm a ver com a Tradição Universal e o Esoterismo.

E também era necessário que as Ordens autênticas tivessem cuidado ao selecionar os seus membros e oficiais e manter os seus adeptos e estudantes no caminho correto das verdadeiras doutrinas, obrigando-os a seguir uma linha estrita de disciplina, trabalho racional, sincero e consciencioso, para evitar ensinamentos radicais e heterodoxia. Este imenso trabalho que era pretendido e que protegia as Ordens contra os seus inimigos internos e exteriores foi efetuado com sucesso pela F.U.D.O.S.I. e continua ocorrendo.” (Jornal da F.U.D.O.S.I., novembro de 1946)

 

Friday, October 28, 2005

Nicolas Ivanovich Novikov - Um dos fundadores do Martinismo por Robert Ambelain

Nicolas Ivanovich Novikov nasceu em 7 de maio de 1744 em Avdotino, perto de Moscou, e morreu nesse mesmo local em 12 de agosto de 1818, aos 74 anos.

Escritor russo que entrou na história, fundador de vários jornais satíricos (O Bordão, 1769-1770; O Pintor, 1772-1773; A Bolsa, 1777), foi um dos mais corajosos representantes da crítica social no reinado de Catarina II e chamou a atenção sobre a miséria do camponês russo. Diretor do diário As Notícias de Moscou a partir de 1779, foi também um dos introdutores da Franco-Maçonaria na Rússia, sendo por isto mesmo condenado à morte em 1792. Esta condenação foi comutada em quinze anos de detenção na fortaleza de Schlüsselburg. Novikov foi libertado em 1796, quando da elevação do Tzar Paulo I, um imperador muito liberal e dos mais progressistas, a quem retornaremos um dia, pois ele foi, muito provavelmente, um de nossos irmãos Martinistas. Franco-Maçom (ele foi levado à Maçonaria por seu amigo, o príncipe Kurakin), foi a esse título que avocou a si a libertação de seu irmão Novikov.

Tão logo foi libertado, este último renunciou a qualquer atividade literária. Ele havia então publicado importantes coletâneas de documentos sobre a história da cultura nacional, em particular uma Biblioteca Russa (1773-1784). Fora, por outro lado, o autor de brochuras e de livros destinados a erguer o nível moral da nação, pelo menos em intenção dos russos que sabiam ler, porque nesta época seu número não passava de alguns restritos milhares: comerciantes, burgueses, nobreza.

Como homem prático, havia instituído toda uma série de escolas populares, abrindo em seguida gráficas onde fazia imprimir manuais para essas escolas, assim como outras obras instrutivas e morais que custavam apenas alguns copeques, e às vezes absolutamente nada. Depois organizou hospitais, mas como uma parte ínfima da população podia aproveitá-los, estabeleceu farmácias que forneciam gratuitamente aos indigentes os remédios exigidos por seu estado. Fez ainda surgir em diferentes bairros de Moscou sociedades de benemerência e criou esta importante sociedade que tinha por objetivo fornecer pão e víveres de primeira necessidade aos pobres dos vastos territórios da Rússia, no caso, bastante freqüente, de más colheitas. Eis aí uma tarefa que, antes dele, nenhum homem, agindo a título privado, havia conduzido com sucesso. Deve-se admitir que a imensa fortuna de alguns de seus irmãos, os Martinistas e os Franco-Maçons russos, permitiram-no fazer. Foi assim que o discurso que pronunciou na abertura desta última instituição foi bastante inspirado e convincente a ponto de levar um rico negociante de Moscou a remeter-lhe vários milhões de rublos.

No antigo Museu Rumjansov, em Moscou, encontram-se as jóias e paramentos dos Maçons e dos Martinistas russos da época. Em sua obra Louis-Claude de Saint-Martin, Papus confirma havê-los examinado quando de sua primeira viagem a esta cidade. Encontravam-se lá, igualmente, alguns desses relatórios chamados "penitências", que os membros da Rosa+Cruz russa, oriunda da Rosa+Cruz Áurea fundada na Alemanha em 1570, deviam fazer chegar periodicamente aos Superiores da Ordem. Segundo Pypin, em um desses documentos, Novikov exprime-se assim: “Com um coração verdadeiro e puro, reconheço que não compreendi o sentido das preciosas colunas sobre as quais repousa a Ordem Sagrada, ou seja, o amor a Deus e ao próximo, ou melhor, que o compreendi mal, pensando que o homem era em si capaz de amar a Deus e ao seu próximo. Estava mesmo tão cego que acreditava cumprir os mandamentos de Deus; mas agora, agradeço com lágrimas ao meu Salvador, por haver-me permitido ver e reconhecer minha cegueira. Ele me fez compreender e sentir que o amor é um dom de Deus, que ele outorga aos seus santos. Há momentos em que eles experimentam do amor ao próximo e têm a firme persuasão de amar igualmente a Deus. Mas esses minutos são passageiros...”.

Em seus escritos, Nicolas Novikov ergueu-se com determinação contra os jesuítas. Ora, na época eles contavam com o favor e a proteção de Catarina II. Além do que o conjunto Iniciático constituído por Novikov e seus amigos Schwartz, Galitzin, etc., compreendia três etapas:

a. o Martinismo, onde estudava-se de maneira simplesmente didática o conjunto das Ciências ditas Ocultas (Astrologia, Magia, Alquimia) e os ensinamentos de L.C. de Saint-Martin, levados à Rússia pelos amigos russos do Filósofo Desconhecido;

b. a Estrita Observância Templária, vinda da Alemanha e no seio da qual existiam grupos secretos nos quais praticava-se o ensinamento teórico precedente;

c. a Rosa+Cruz, oriunda da Rosa+Cruz Áurea alemã, fundada em 1570, e no seio da qual estudavam-se as doutrinas Iniciáticas tradicionais: gnose Alexandrina, cabala hebraica, paganismo eslavo.

Sem se darem conta, o clero ortodoxo e os jesuítas desencadearam uma ofensiva contra esse conjunto e seus dirigentes. Sabemos bem o que aconteceu depois. Uma associação de homens afortunados, apaixonados pelos ensinamentos de um homem como L.C. de Saint-Martin, ardente defensor da Revolução Francesa em sua célebre carta, não podia deixar de atrair acusações. Elas não faltaram. Seus membros foram colocados sob a suspeita de exigir de seus aderentes e por escrito uma declaração contrária a todos os princípios dos estados monárquicos; que se esforçavam para conquistar a boa vontade do povo distribuindo víveres e medicamentos; que escondiam em seus lares todo um arsenal destinado a armar uma tropa facciosa.

Foi assim que as prevenções tomaram corpo. O chefe de polícia recebeu ordem de cercar as casas e efetuar perquirições. Não eram encontrados nem canhões nem grandes quantidades de pólvora. Mas como eram todos eles grandes caçadores, naturalmente possuíam fuzis e carabinas, além de pistolas para as saídas noturnas. E tudo isto bem à vista. Pois foi o suficiente para sustentar as acusações, e nossos irmãos Martinistas e Maçons foram lançados às celas geladas da fortaleza de Schlüsselburg, pés e mãos acorrentados, na primavera de 1792. Só viriam a sair de lá em 6 de novembro de 1796, por um decreto de seu irmão, o Tzar Paulo I. Haviam lá permanecido cerca de cinco anos... No entanto, e para sermos justos, acrescentemos que (condenados à morte pelos tribunais, viram suas penas comutadas em quinze anos de detenção por Catarina II), isto provavelmente salvou-lhes a vida, pois não se vivia quinze anos nas celas de Schlüsselburg.