Robert Vanloo e A utopia dos Rosacruzes - Anotações sobre a entrevista de Robert Vanloo ao site France Spiritualités

Vanloo em seu mais recente trabalho A utopia dos Rosacruzes do século XVII aos nossos dias (Editions Dervy) propõe uma pesquisa notável da “Augusta Fraternidade” dissipando muitas idéias preconcebidas e fantásticas que tem se especulado sobre a Rosa+Cruz.
Neste domínio, Vanloo critica a posição daqueles que querem a todo o preço reivindicar filiações fantásticas desde a mais alta Antigüidade ou de reuniões excepcionais, mas hipotéticas que nenhum investigador sério jamais irá querer levar em consideração e observa também que se deve a René Guénon o grande mérito do rigor e da imposição de critérios rígidos quando na pesquisa e na aproximação do Fenômeno Tradicional.
Para Vanloo, o trabalho da acadêmica britânica Frances A. Yates constituiu um retorno à aproximação de uma melhor compreensão e conhecimento das origens da Rosa+Cruz. Seu livro O Iluminismo Rosacruz constitui uma obra excepcional neste campo, porque foi a primeira a ousar falar de uma significação política contida no aparecimento do Fenômeno Rosacruz. Avaliou nesta obra o importante papel que o hermetista e cosmopolita John Dee poderia ter tido na gênese do mito de Christian Rosenkreutz, como Vanloo também o demonstra em sua Utopia dos Rosacruzes.
Sobre a tese de Roland Edighoffer (1982), Rosa+Cruz e a sociedade ideal de Johann Valentin Andreae, Robert Vanloo nos diz que assim como os trabalhos de Yates, os de Roland Edighoffer permitiram a ele compreender mais as origens da Rosa+Cruz e a entender o relevante papel do Pastor luterano Johann Valentin Andreae na criação do pai epônimo Christian Rosenkreutz e da mitologia rosacruz.
Observa neste sentido que o trabalho em questão é um monumento que toda a pessoa interessada pela história da Rosa+Cruz deveria ler porque explica este clima perfeitamente tão particular que reinou no princípio do século XVII na Alemanha, que não só se fez de rivalidades doutrinais entre Calvinistas e Luteranos, mas também e especialmente na implicação da hegemonia do Papa em Roma. Vanloo aponta que as propostas dos Manifestos rosacruzes estimam desde a renovação política, social e cultural da Europa, como também a superação pelas elites da nova fé evangélica do conservadorismo, da hegemonia da Igreja de Roma e dos Habsburgos.
Certamente, a utopia rosacruciana não é nova em si mesma e se reporta notavelmente a modelos anteriores, como A Utopia de Thomas Morus, A Cidade do Sol de Tommaso Campanella. O Christianopolis de Johann Valentin Andreae possui diferenças bastante pequenas das utopias anteriores, mas foi certamente inspirada por estas.
Sobre as relações entre o rosacrucianismo e as origens da Maçonaria inglesa Vanloo nos diz que a Rosa+Cruz do começo do século XVII teve uma influência considerável nas origens da Maçonaria anglo-saxã. Alguns historiadores alemães da Rosa+Cruz, tal como Hans Schick, vê nos trabalhos de Jan Amós Comenius a origem dos ideais de fraternidade e de democracia dentro da Maçonaria inglesa recém-nascida. Comenius é apresentado como um tipo de mediador privilegiado entre o pensamento rosacruciano de J. V. Andreae (e seu círculo de amigos) e os homens que patrocinaram o nascimento da Maçonaria Especulativa na Inglaterra antes da fundação da Grande Loja de Londres em 1717, como Hartlib e Dury.
Comenius permitiu que a herança espiritual de Andreae e as idéias de uma sociedade ideal fossem derramadas na Inglaterra e encontrassem acolhida lá. Em 1641 Comenius estava em Londres para aí fundar um círculo Pansófico. Mas na Inglaterra alastra-se a Revolução e o projeto é abandonado. Em 1642 Comenius publica Via Lucis (O Caminho da Luz) e que foi publicado mais tarde em Amsterdã no ano de 1666 com prefácio dedicado à Sociedade Real das Ciências da Inglaterra. O título simboliza a propagação da cultura, a via da educação como sendo um meio importante de um largo melhoramento geral. De certa forma, pode muito bem ter sido Comenius o elo entre o pai do Pensamento Rosa+Cruz, J. V. Andreae, e a ideologia rosacruciana autêntica e a Maçonaria inglesa.
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