A F.U.D.O.S.I. foi formada em 1934 “para proteger as liturgias sagradas, ritos e doutrinas das Ordens iniciáticas tradicionais de serem apropriadas e profanadas por organizações clandestinas”. A F.U.D.O.S.I. não era uma Ordem, mas uma Federação Universal de Ordens e Sociedades esotéricas e autônomas, portanto, um órgão administrativo antes de tudo.

“Algumas pessoas, cujas mentes ainda não receberam luz suficiente, desejam saber por que era necessária uma Federação Universal. As Ordens e Sociedades Iniciáticas que, no seu próprio campo de trabalho, desfrutam da mais absoluta e completa liberdade e perfeita autonomia e independência. A esta questão nós podemos responder que, mais que qualquer outra coisa, está no trabalho iniciático que a maior vigilância é indispensável e que uma disciplina internacional estrita e ativa deve ser exercida.

Nós devemos reconhecer e lamentamos a existência de muitos falsos profetas e vários auto-proclamados iniciados que usam, para propósitos egoístas e tirânicos de dominação, o pretexto da iniciação para explorar as pessoas crédulas e sinceras. Era tempo de advertir o público contra estes falsos líderes e contra doutrinas nocivas que eles ensinaram às almas confiantes.

Em cada país, cada Ordem autêntica e regular conhece seus imitadores e tais falsos profetas. Era necessário vigiar estes movimentos clandestinos, expor estes impostores ou instrumentos ocultos e evitar sua força, em todos os países, onde quer que eles estejam operando, e assim evitar qualquer confusão entre as Ordens regulares e autênticas e as Organizações falsas que são prejudiciais ou que ofereçam ensinamentos que nada têm a ver com a Tradição Universal e o Esoterismo.

E também era necessário que as Ordens autênticas tivessem cuidado ao selecionar os seus membros e oficiais e manter os seus adeptos e estudantes no caminho correto das verdadeiras doutrinas, obrigando-os a seguir uma linha estrita de disciplina, trabalho racional, sincero e consciencioso, para evitar ensinamentos radicais e heterodoxia. Este imenso trabalho que era pretendido e que protegia as Ordens contra os seus inimigos internos e exteriores foi efetuado com sucesso pela F.U.D.O.S.I. e continua ocorrendo.” (Jornal da F.U.D.O.S.I., novembro de 1946)

 

Saturday, December 03, 2005

A HISTÓRIA DA ORDEM HERMÉTICA DA AURORA DOURADA (HERMETIC ORDER OF GOLDEN DAWN) por Frater Aussik Aiwass, 718 ‘.’


Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.


A Ordem Hermética da Aurora Dourada, sociedade de Magia que atingiu o auge na década de 1890, conquistou uma fama legendária por vários motivos. Os que se interessem pelo ocultismo a considera um repositório singularmente autorizado de conhecimento e instrução mágickos. O fato do grande poeta inglês W. B. Yeats ter sido um membro da Ordem, tem intrigado os alguns acadêmicos, sobretudo na América, que hoje se preocupam com sua vida e obra. Até recentemente, as origens da Ordem eram cercadas de mistérios, um enigma aparentemente insolúvel apresentava sua própria fascinação peculiar. Sem dúvida, os ensinamentos da G. D. muito influenciaram as teorias e o trabalho de muitos grupos ocultistas de língua inglesa nos últimos cinqüenta anos ou mais. Era de fato o protótipo de uma Ordem Mágicka. Nada com tão estranha vitalidade existira antes de sua fundação em 1887-8, e as imitações posteriores nunca se igualaram ao seu sucesso.

A G. D. foi de certo modo um subproduto de vários fatores relacionados na história social da Inglaterra do século XIX. O movimento espírita atraiu interesse público generalizado e adeptos entre 1850 e 1890. Insatisfeitos com o espiritismo, com seus vários médiuns embusteiros e suas hipóteses não-confirmadas, alguns homens e mulheres voltaram-se para o estudo do “conhecimento rejeitado”, ou seja, o conhecimento tido como supersticioso, desprovido de fundamento racional, e assim por diante. Todas as variedades de ocultismo podem ser encaradas como “conhecimento rejeitado”. Essa nova e mais abrangente preocupação com o ocultismo coincidiu com um surpreendente aumento de interesse pela maçonaria, que se tomou evidente após 1860, quando se formaram novas Lojas. Um número considerável de homens identificados com o “conhecimento rejeitado” uniu-se à Ordem Maçônica. Formou-se uma agremiação de Mestres Maçons, a maioria dos quais se conhecia entre si, e que se preocupavam particularmente com o ocultismo; o ponto de encontro era a Sociedade Rosacruciana da Inglaterra, da qual só os Mestres Maçons podiam ser membros. Não era uma Loja Maçônica, mas antes o equivalente a uma sociedade literária. A Aurora Dourada surgiu desse ambiente, o fundador, seus principais colaboradores e vários dos membros originais da ordem eram maçons ‘rosacrucianos’.

A Ordem foi fundada pelo Dr. William Wynn Westcott (1848-1925), um médico legista londrino, com a ajuda de Samuel Liddell MacGregor Mathers (1854-1918), um excêntrico Escócia sem qualquer ocupação identificável, e o Dr. William Robert Woodman (1828-91), um médico aposentado.

Em relação aos primeiros anais da G. D., é importante lembrar que Westcott só concebeu seu plano de criar uma Ordem secreta e altamente exclusiva alguns meses depois de Helena Petrovna Blavatsky ter-se instalado permanentemente em Londres, em maio de 1887. A presença dela deu uma magnífica publicidade à Sociedade Teosófica, que até então era uma organização sem muito reconhecimento. A filiação à Teosofia aumentou tão rapidamente e muita gente passou a ter algum conhecimento da mistura de tradições ocultistas do Oriente e Ocidente de Madame Blavatsky. Westcott, visivelmente, pretendia que o projeto de sua Aurora Dourada proporcionasse uma alternativa muito mais exclusiva e, além disso, solidamente baseada na tradição hermética ocidental. Qualquer um podia entrar na Sociedade Teosófica, mas não se facilitava a admissão na G. D. Enquanto a maçonaria era (e ainda é) mais uma sociedade de segredos que uma sociedade secreta, a G. D. era essencialmente deste último tipo desde seus primórdios.


O MANUSCRITO CIFRADO


É necessário descrever um pouco detalhadamente o conceito e a história inicial da G. D. pois esses temas mostram hoje como Westcott, em 1877-8, e Mathers, em 1891-2, elaboraram uma fórmula quase perfeita para uma Ordem ocultista. Em agosto de 1887, o Reverendo A. F. A. Woodford, um velho pároco muito conhecido nos círculos maçônicos, embora não membro da Sociedade Rosacruciana, entregou a Westcott cerca de sessenta páginas de um manuscrito cifrado, ou, mais corretamente, escrito num alfabeto artificial. O papel era antigo, e algumas das folhas traziam uma marca d’água datada de 1809. A tinta marrom desbotada dava ao manuscrito uma aparência de antiguidade. Mas era uma produção recente, com certeza não anterior a 1870. Provavelmente jamais se conhecerá sua procedência. Quem quer que o tenha escrito conhecia a estrutura dos rituais maçônicos, e também tinha detalhado conhecimento da tradição ocultista ocidental, incluindo a Qabalah, o simbolismo da Alquimia e a Astrologia, para não citar as obras do mago francês Éliphas Lévi, que morreu em 1875.

Westcott, que conhecia bem a literatura hermética, sem dúvida logo descobriu a chave para o alfabeto artificial na “Polygraphiæ”, do Abade Johann Trithemius (1462-1516). Também, quando começou a transcrever o material, compreendeu imediatamente que ali estavam os esboços fragmentários de uma série de cinco rituais para algo que se auto-intitulava de “Aurora Dourada”. E também, como havia referências a Fratres e Sorores, a G. D., se existira afinal, não tinha qualquer ligação com a maçonaria comum, na qual não se admitiam mulheres.

A 4 de outubro de 1887, ele escreveu a Mathers e convidou-o a compor rituais em grande escala, que pudessem ser de fato “trabalhados”, baseados nas sugestões um tanto vagas existentes no Manuscrito Cifrado. Ao mesmo tempo, sugeriu que Mathers se juntasse a ele, como Co-Chefe de uma nova Ordem ocultista, a ser batizada de Aurora Dourada. “Devemos depois escolher um 3° (chefe)”, continuou, “e tentar divulgar um plano completo de iniciação o mais breve possível.” Convidaram o Dr. Woodman, Supremo Magista ou Presidente da Sociedade Rosacruciana, que aceitou o cargo como terceiro chefe.

Nesse estágio, não se tratava de oferecer instrução sobre teoria e prática de ritual mágicko. Westcott previa apenas uma aconchegante sociedade secreta de ocultistas, aberta a ambos os sexos. Trabalhariam os rituais que Mathers agora se ocupava em desenvolver a partir do Manuscrito Cifrado e estudariam os exames simples, a serem elaborados pelos três Chefes, que os membros teriam de fazer para progredir de um nível para o seguinte. Nada podia ser mais inócuo.

Maçom desde 1871, Westcott acostumara-se ao conceito de hierarquia, que é um ponto importante na “organização” da maçonaria. Os ingleses, por exemplo, não podiam fundar nenhuma nova Loja sem a autorização da Grande Loja Unida da Inglaterra. Westcott, obviamente, sentiu que não podia simplesmente apresentar a G. D. como se a tirasse de uma cartola mágicka. Faltavam provas para mostrar que a Ordem derivava sua existência de uma sucessão hierárquica que remontava a um passado muito distante, tendo portanto uma “autoridade” por trás, que seria a fonte de sua própria autoridade. Como isso não existia, era necessário inventar. Este subterfúgio de Westcott, do qual Mathers provavelmente sabia na época, infernizou a “história” da G. D. até bem recentemente, quando este autor descobriu um esconderijo de documentos originais da G. D., que tinham ficado escondidos por mais de cinqüenta anos, e pôde deduzir o que realmente aconteceu em 1887 e depois. O estranho é que os que tiveram acesso aos documentos no início do século XX nunca se deram conta de sua importância, ou talvez não quisessem tirar as conclusões lógicas, sobretudo a de que a Ordem se baseava numa série de artifícios engenhosos.

Alguém — mais provavelmente Westcott que Mathers — inseriu uma folha extra de papel envelhecido dentro do Manuscrito Cifrado e, usando o alfabeto artificial Tritemio, escreveu o seguinte: “Sapiens dom (inabitur) ast (ris) é um Chefe entre os membros da die Goldene Dammerung (a Aurora Dourada). É uma famosa Irmã. Seu nome é Fräulein Sprengel. Cartas lhe chegam por intermédio de Hert J. Enger, Hotel Marquand, Stuttgart. Ela é 7°=4(números em caracteres hebraicos) ou um Chefe Adepto.”

Dizendo que Fräulein Sprengel estava na Alemanha, Westcott tornava-a inacessível, e conferindo-lhe um posto elevado numa ordem ocultista germânica, convenientemente misteriosa, transformava-a numa fonte de autoridade digna de crédito, ao menos para os crédulos. Ele chegou até mesmo a criar uma conta do Hotel Marquand, com detalhes de lanches consumidos a l° de dezembro de 1887, no qual escreveu “SD Ast esteve aqui.” É pouco provável que o próprio Westcott tenha ido a Stuttgart desta ou talvez de qualquer Outra vez.

O embuste era agora complementado pela produção de uma série de cartas que se pretendia terem sido escritas a Westcott pelo eminente secretário da Soror, Frater In Utroque Fidelis. Ele as assinou com o lema dela em latim, como seu representante. Existem seis cartas de “S. D. A.”, todas supostamente escritas entre novembro de 1887 e dezembro de 1889. Todas são curtas e não transmitem nada além do que Westcott então necessitava como prova em apoio de sua afirmação de que a G. D. era a sucursal inglesa de uma ordem continental há muito estabelecida. Outra carta, datada de 23 de agosto de 1890, e numa caligrafia diferente —. assinada por Frater Ex Uno Disce Omnes — anunciava a morte bastante recente de Fräulein Sprengel numa “cidade perto de B”. O Frater dizia, também, que Westcott não receberia quaisquer outras comunicações da Alemanha. Àquela altura, Fräulein Sprengel já cumprira seu propósito, embora uma década mais tarde o “fantasma” dela fosse assombrá-lo.

Pode-se deduzir como se fabricava a correspondência. Westcott escrevia os rascunhos das cartas em inglês e entregava-os a uma pessoa não-identificada, a fim de que as traduzisse para o alemão. Quem as traduzia conhecia pouco a língua germânica, e proliferavam os anglicismos, portanto devia ser inglês. Outra pessoa produzia a carta que se pretendia remetida pelo Frater Ex Uno Disce Omnes, e também ele usava jargões. Uma vez de posse desses textos “germânicos”, Westcott os entregava a um Certo Sr. Albert Essinger, que nunca teve qualquer ligação com a G. D., para que as traduzisse de volta para o inglês. Anos depois, alguns antigos membros lembravam-se de que Westcott às vezes produzia as cartas, mas só por um breve período. Ninguém teve a oportunidade de submetê-las a qualquer investigação detalhada.

Em março de 1888, Westcott tinha escrito sua chamada “Conferência Histórica para Neófitos”, um curioso documento que se pôs à disposição dos membros recém-ingressos da Ordem. Mais uma vez, sugere-se que a G. D. da Inglaterra descendia diretamente de uma fundação há muito estabelecida na França e na Alemanha. Ele pôde até citar nomes de pessoas famosas — todas mortas, algumas bem recentemente — que haviam sido membros: por exemplo, na França, J. B. Ragon (m. 1862) e Éliphas Lévi (m. 1875), e na Inglaterra Frederick Hockley (m. 1885) e K. R. H. Mackenzie (m. 1886).

Mais uma falsificação dessa época. Por volta de março de 1888, com o auxílio da Srta. Mina Bergson — irmã de Henri Bergson (mais tarde famoso como filósofo) — que se casou com seu colega Mathers em junho de 1890, Westcott forjou uma Carta de Autorização para o Templo N° 3 de Ísis-Urânia, da Ordem Hermética da Aurora Dourada. Ele assinou o lema em latim de Fräulein Sprengel em nome dela, e tentou ineficazmente disfarçar a própria caligrafia.


OS GRAUS E OS CHEFES


Também se idealizou um sistema de graus.

Neófito 0°=0
Zelator 1°=10
Theoricus 2°=9
Practicus 3°=8
Philosophus 4°=7

Portal

Adeptus Minor 5°=6
Adeptus Major 6°=5
Adeptus Exemptus 7°=4
Magister Templi 8°=3
Magus 9°=2
Ipsissimus 10°=1

Os graus numerados do 10° ao 1° em ordem descendente referiam-se aos dez sephiroth (emanações do Divino) na Árvore da Vida Qabalística, com a adição do grau neófito 0°=0 . Inicialmente, os membros comuns da G. D. só podiam pertencer à Ordem Externa. Após prestarem um simples exame, podiam subir ao nível mais alto seguinte, sendo o Philosophus 4°=7 o mais graduado. Mathers criou rituais para todos esses graus, com base em pistas encontradas no Manuscrito Cifrado. No início, Westcott, Mathers e Woodman eram os únicos membros da Segunda Ordem, e assumiram seu grau mais baixo (5°=6). Diziam estar sujeitos à autoridade dos três Chefes Secretos, que eram 7°=4 e só conhecidos pelos seus lemas em latim. Esses Chefes Secretos eram nada mais, nada menos que Mathers, a inexistente Fräulein Sprengel e o Dr. Woodman. Dizia-se que eles, os Chefes Secretos da Segunda Ordem, eram governados pelos Chefes ainda mais Secretos da Terceira Ordem, que, supunha-se, existiam apenas no plano astral, e portanto eram espíritos desencarnados. Sem dúvida, a maçonaria comum jamais elaborou um Sistema de classificação com tanta probabilidade de atrair mortais apreciadores de uma aura de mistérios.

Numa de suas cartas. Fräulein Sprengel informava a Westcott que, tão logo ele promovesse três membros da Ordem Externa ao grau 5°=6 da Segunda Ordem, seria concedida ao Templo Ísis-Urânia uma existência independente. Em outubro de 1889, ele pôde reivindicar uma independência fictícia, i. e., com base na autoridade de uma carta falsa da Soror Dominabitur Astris, e depois se incumbiu de “liquidá-la”, pois ela não era mais necessária no verão de 1889, e no final de 1891 cerca de vinte iniciados da Ordem Externa receberam o status honorário de 5°=6.

Em março de 1888, Mathers já havia escrito o ritual de Neófito do 0°=0 e concluiu os Outros no outono. Assim, Sua campanha inicial de recrutamento começou na primavera de 1888. No fim do ano, o Templo Ísis-Urâinia de Londres tinha trinta e dois membros, entre os quais nove mulheres. Os primeiros doze iniciados vieram da Sociedade Rosacruciana. No mesmo ano, ele estabeleceu sucursais do Templo em Weston-Super-Mare (Osíris N° 4) e Bradford (Hórus N° 5). Foi só em 1893 que fundou o Amon-Ra N° 6, em Edimburgo. O Templo Osíris teve curta existência, mas Hórus, em Bradford, prosperou até 1900.

Os membros da G. D. eram todos respeitáveis pessoas da classe média com propensão ao ocultismo. Mas alguns podiam alegar origens aristocráticas. Um surpreendente número de médicos — não inferior a oito — entrou na Ordem antes de 1890. A literatura era representada pelo jovem W. B. Yeats, que ingressou no Templo Ísis-Urânia em março de 1890, com vinte e cinco anos. Naquela época, havia também um punhado de escritores menores, cujos livros caíram no esquecimento desde então. Arthur Machen e Algernon Blackwood só chegaram muito tempo depois, em 1899-1900, e nenhum dos dois eram famosos então.

Em seu primeiro período (1888-91), a G. D. não passava de um jardim de infância para candidatos ao ocultismo. Tendo Mathers, Westcott e Woodman como professores, eles seguiam um currículo elementar que incluía o estudo de assuntos como a Árvore da Vida Qabalística, com seus Sephiroth e vinte e dois caminhos, simbolismo alquímico, astrologia, geomancia, e o simbolismo dos vinte e dois trunfos do Tarot. Também trabalhavam os rituais da Ordem Externa, dos quais o do grau dos Neófitos era de longe o mais impressionante.


A ROSA DE RUBI E A CRUZ DE OURO


Em fins de 1891, mais de oitenta pessoas haviam ingressado no templo Ísis-Urânia de Londres, entre elas quarenta e duas mulheres. Também florescia em Bradford um grupo da G. D. de cerca de trinta membros. A G. D., essencialmente uma criação de Westcott, desabrochava mornamente, seguindo uma existência quase monótona. A situação se modificou radicalmente no início de 1892, quando Mathers efetuou uma reorganização de longo alcance e conseguiu, em grande parte, suplantar Westcott, de quem sem dúvida tinha ciúmes. O Dr. Woodman morrera em dezembro de 1891, e não se nomeara ninguém para o seu posto.

Nessa época, Mathers apresentou um impressionante ritual 5°=6, para o primeiro dos graus da Segunda Ordem, e concedera à Segunda Ordem um status inteiramente novo. Agora, ela passava a ser a Ordem da Rosa de Rubi e da Cruz de Ouro (Ordo Rosæ Rubeæ et Aureæ Crucis, abreviada para R. R. et A. C.), tendo ele próprio como seu único Chefe. Ele instalou-se definitivamente em Paris na primavera de 1892, e Westcott se contentou em agir como Chefe Adepto, em Londres. Daí em diante, a admissão na nova Segunda Ordem seria feita por meio de provas e de convites. A R. R. et A. C. era altamente secreta. Não se permitia aos membros da Ordem Exterior saber da sua existência, quem a ela pertencia, nem os endereços de suas sedes. Depois, enquanto o currículo da antiga Ordem Exterior era simplesmente teórico, os membros da Segunda Ordem recebiam instrução sobre a teoria e prática do cerimonial ou ritual mágicko.

O novo ritual 5°= 6 baseava-se na lenda do mítico Christian Rosenkreuz e na oportuna descoberta de seu túmulo ou cripta, muitos anos depois de sua morte. Segundo a história contada na Fama Fraternitatis, publicado em Cassel por um autor anônimo (provavelmente J. V. Andreæ) em 1614, o túmulo estava oculto por alvenaria. Quando seus sucessores, membros de uma Ordem esotérica que Rosenkreuz supostamente fundara há mais de um século, removeram a argamassa, descobriram uma câmara de sete lados, cada parede medindo 2,64m de altura por 1,65m de largura, e decorada com símbolos e inscrições. Também se via um altar circular e, abaixo dele, um ataúde, no qual viram o corpo de Christian Rosenkreuz em perfeito estado de conservação.

A performance para o ritual 5°=6 de Mathers exigiam a reconstrução física da cripta, completa até no altar e ataúde. Contudo, como a informação descritiva na Fama era vaga, ele usou sua própria e vívida imaginação e, com a ajuda de sua esposa Moina, que tivera formação de pintora na Slade School, reproduziu uma “réplica” em tamanho natural da cripta, onde os dois pintaram decorações simbólicas fantasticamente complicadas, segundo as famosas escalas coloridas ocultistas, que eram a característica predominante da cripta. Psicologicamente, isso foi de grande feito, pois nenhum candidato à iniciação que estivesse num estado de consciência suficientemente receptivo deixaria de impressionar-se. De fato, Mathers criou um verdadeiro “depósito” de energias espirituais e, ao mesmo tempo, oferecia a oportunidade de uma experiência iniciática que servia como prelúdio eficaz para um contato preliminar com os elementos do ritual mágicko.

Logo depois da iniciação, exigia-se de todo membro que criasse seus próprios instrumentos mágickos: o Lamen (símbolo) da Rosa Cruz usado pendurado por uma faixa em círculos as cerimônias da Segunda Ordem, a Vara, a Espada mágicka e quatro armas elementares, a saber, a Vara para o Fogo, a Taça para a Água, a Adaga para o Ar, e o Pentáculo para a Terra. Além disso, cada um dos objetos tinha de ser decorado segundo as escalas de cores ocultistas e, quando necessário, incluir os símbolos astrológicos ou alquímicos próprios. Todos esses objetos tinham de ser ritualmente consagrados, e para esse propósito Mathers compôs sete rituais curtos que o iniciado podia realizar na privacidade de seu lar ou nos recintos da R. R. et A. C., porém, o mais utilizado era um que consistia na adaptação do Ritual de Iniciação de Neófito para fins mágickos pessoais.

Não demorou muito para que Mathers elaborasse um fantástico currículo para uma série de oito provas que conduziam ao adiantado grau 5°=6, recém-criado, de Theoricus Adeptus Minor, o inferior sendo o do Zelator Adeptus Minor. Quem passasse nesse teste — não era compulsório, e provavelmente só uma minoria dos membros da Segunda Ordem tinha tempo ou resistência para terminar o curso podia afirmar que recebera uma instrução básica completa em quase todos os aspectos da tradição ocultista ocidental. A esse respeito, a Segunda Ordem representava o equivalente de uma universidade hermética, e era única.

Em muitos aspectos, tudo dependia da capacidade de Mathers de fornecer o material necessário para fins de estudo. Seus manuscritos eram enviados de Paris a Westcott, que os emprestava para serem copiados. Não se imprimia absolutamente nada, e todos esses manuscritos eram considerados documentos Secretíssimos. Em Londres, eram múltiplas as tarefas de Westcott. Ele ainda dirigia a Ordem Exterior, com suas freqüentes cerimônias de admissão aos cinco graus, conferências particulares e assim por diante. Ao mesmo tempo, havia uma enorme quantidade de trabalho relacionado à Segunda Ordem, como presidir iniciações (as famosas “Cerimônias da Cripta”); supervionar o sistema de exames e a correção ou avaliação de trabalhos; e verificar se os instrumentos mágickos de um membro estavam ou não corretamente elaborados e consagrados. Contudo, em 1892 ele tinha auxiliares entusiásticos, que o assistiam em suas várias funções, tanto no trabalho quanto na administração das Ordens Exterior e Segunda.


CHOQUE DE TEMPERAMENTOS



O período realmente grande da Ordem foi entre a primavera de 1892 e o final de 1896, cerca de cinco anos. Nesse ponto, porém, revelaram-se os primeiros sinais de decadência. Deu-se o inevitável choque de temperamentos. A culpa não foi de Westcott. Embora suas manobras em 1987-8 indicava que era capaz de atos suspeitos, ele era um homem bondoso, que gozava do afeto e respeito de todos ou da maioria dos membros londrinos. A causa de todo o problema que explodiu no final de 1896 foi o relacionamento anormal de Annie Horniman com Mathers.

Mathers era um excêntrico mandão, sempre mais que um pouco doido, mas obviamente talentoso, mesmo que seus feitos dificilmente recebessem a aprovação irrestrita dos demais. Basicamente, sem condições de arranjar um emprego — não servia para qualquer profissão ou ocupação convencionais — era a pessoa ideal para ser chefe de uma Ordem Mágicka. Alegava “dirigir” a Ordem, e dirigia-a de fato, exigindo absoluta obediência. Assim que Annie Horniman contestou sua autoridade, a coisa pegou fogo, pois ela era sua benfeitora financeira. Sem seus generosos subsídios, ele não teria um tostão.

Annie Horniman era filha de um rico importador de chá. Era uma integrante relativamente antiga da G. D. (iniciada em janeiro de 1890), e tornara-se amiga íntima de Moina Bergson, quando as duas estudavam pintura na Slade School. Após ligeira hesitação, filiara-se à Ordem em janeiro de 1890. Yeats, que conhecera Mathers antes na Sala de Leitura do British Museum, surgiu em cena dois meses depois e foi iniciado a 7 de março de 1890. Foi sem dúvida Yeats quem introduziu a atriz Florence Emely na G. D. Como Florence Farr, ela havia interpretado recentemente papéis de Ibsen no West End. Em certa época, G. B. Shaw a admirara muito, e ela fora sua amante por algum tempo na década de 1890, quando estava profundamente envolvida nos assuntos da Aurora Dourada. Não é provável que Shaw estivesse muito a par do interesse dela por rituais mágickos. Em comparação com Annie Horniman ou Florence Farr, W. B. Yeats nunca foi um membro destacadamente ativo da Ordem, embora tivesse alcançado breve destaque em 1900-1, durante um particular período de crise. Entre 1892-6, Annie Horniman e Florence Farr eram os principais membros femininos em Londres. Mina Mathers já havia partido para Paris na primavera de 1892.

Annie Horniman foi em parte responsável pela partida do Chefe e de sua esposa. Em 1891, ela os socorrera quando eles estavam sem vintém, e no início de 1892 dera a Moina dinheiro para umas férias em Veneza, a serem seguidas por um período não especificado em Paris para que ela estudasse pintura. Há pelo menos a sugestão de que as duas talvez tivessem tendências lésbicas inconscientes, e também de que Annie tramou um vago plano para separar Mathers da esposa. Contudo, o respeito dela por Mathers como professor de conhecimento oculto é incontestável.

Seus planos, quaisquer que fossem, fracassaram porque Mathers se recusou a separar-se de Mina, e em maio de 1892 acompanhou-a a Paris. A não ser por visitas ocasionais e breves, Mathers nunca voltou à Inglaterra entre 1892 e sua morte, vinte e seis anos depois, em 1918. Em 1892, portanto, Annie Horniman representava a única fonte de renda de Mathers. Entre 5 de março de 1891 e julho de 1896, ela lhe deu mais de 1.334 libras, uma média anual de 266 libras. Esse subsídio permitiu ao casal Mathers viver com total conforto, embora sua extravagância e pedidos de mais dinheiro preocupassem a generosa Srta. Horniman.

Tudo correu razoavelmente bem durante os primeiros quatro anos de Mathers em Paris. A R. R. et A. C. prosperava tranquilamente em Londres, com um fluxo pequeno, mas regular, de recém-chegados da Ordem Exterior. W. B. Yeats, por exemplo, foi iniciado na Segunda Ordem a 20 de janeiro de 1893. Quase um ano depois, Mathers prestou a Annie Horniman a homenagem de convidá-la para consagrar seu novo Templo Ahathoor N° 7, na Avenida Duquesne, 1, Paris, em janeiro de 1894. O Ahathoor era pequeno em comparação com o Ísis-Urânia em Londres; a maioria de seus membros era constituída de expatriados americanos.

O relacionamento de Annie Horniman com Mathers começou a deteriorar lentamente em 1895. Ela esperava que ele dedicasse todo seu tempo à Ordem, mas ele agora se deixava desviar por fantasias jacobinas de restauração da Casa de Stuart e por ambições marciais lunáticas. Mathers era um comandante de exército, sempre sonhando com grandes feitos militares e em conduzir suas tropas para a guerra. As divergências entre os dois chegaram ao auge na primavera de 1896, quando ela o repreendeu por negligenciar seu trabalho para a Ordem, perdendo tempo com “política”. Deve ter havido algum mexerico em Londres, pois ele a acusou de tentar solapar sua autoridade. Logo depois, ela renunciou ao seu cargo no Templo de Londres da Ordem Externa. Por fim, cansada das excentricidades e cartas fanfarrãs dele, informou-lhe em junho de 1896 que a remessa de dinheiro em julho seria a última.

A essa altura, os membros experientes da Segunda Ordem também já se tomavam inquietos. A 29 de outubro de 1896, Mathers enviou a cada um deles uma cópia de um manifesto extraordinário, exigindo-lhes que lhe enviassem, individualmente e sem demora, “uma declaração por escrito de voluntária submissão a todos os pontos referentes à G. D. no Exterior e à R. R. et A. C.”

A palavra “voluntária” foi uma designação incorreta, já que inexistia o elemento voluntário. Nesse megalômano documento, ele revelou que mantivera contato com os “Chefes Secretos” da Ordem, e recebera instrução deles. Escreveu: “Nem mesmo sei seus nomes terrestres, conheço-os apenas por certos lemas secretos [...]. De minha parte, acho que são humanos e vivem nesta terra; mas com poderes sobre-humanos.”

Parece que todos os que receberam o manifesto concordaram, com exceção de Annie Horniman. A resposta dela não satisfez o exigente chefe, que num ataque de despeito a expulsou da Ordem, em dezembro de 1896, alegando em particular que agia segundo instruções recebidas dos Chefes Secretos. A notícia da expulsão dela causou sensação nos círculos da Ordem. Só então ela contou a uns poucos confidentes que vinha sendo o único apoio financeiro de Mathers desde pelo menos 1891. No momento ela se manteve discretamente no fundo, mas não interrompeu o contato com vários antigos amigos na Ordem.

O golpe seguinte na estabilidade da G. D. ocorreu em março de 1897, quando as autoridades legais souberam da ligação de Westcott com uma Ordem ocultista. Há pelo menos a possibilidade de que Mathers, com um ciúme patológico de Westcott, lhes tenha vazado a informação. Com seu cargo de juiz de instrução ameaçado, Westcott renunciou a todos os cargos na R. R. et A. C., e a partir de então passou a evitar quase todos os antigos colegas.

Florence Farr sucedeu então Westcott como Principal Adepto na Ânglia e representante pessoal de Mathers na Inglaterra. Westcott era um administrador capaz e entusiástico. Florence Farr, indolente por natureza, jamais se dispôs a incomodar-se com os múltiplos detalhes do trabalho que Westcott obviamente adorava. Não demorou muito para que o ambicioso sistema de exames da Segunda Ordem começasse a desmoronar. Mathers não parece ter protestado, porque pelo menos fora aliviado da tarefa de ler os trabalhos dos candidatos. Como não havia mais estudos muito sérios em Londres, um expressivo número de membros começou a fazer experiências com “cristalomancia no plano astral”. Essas “viagens”, que às vezes eram feitas por pequenos grupos na cripta, se davam sem a ajuda de drogas alucinógenas. Os que participavam usavam apenas as técnicas aprendidas com Westcott e Mathers.

Enquanto isso, Mathers e a esposa levavam em Paris uma existência miserável, com frequentes crises financeiras. Desesperadamente sem dinheiro, ele resolveu publicar a tradução de um manuscrito francês de Magick do século XVII, que encontrara na Biblioteca do Arsenal. Após breves negociações, achou um patrocinador na pessoa de Frederick Leigh Gardner, um membro da R. R. et A. C. e corretor da bolsa por profissão. Gardner, que emprestou 50 libras a Mathers, esperava conseguir um lucro substancial com seu investimento na produção e publicação do livro, que finalmente apareceu em 1898, intitulado “O Livro da Magia Sagrada de Abramelin o Mago”.

Vieram crises após crises. Mathers conseguiu perder a maior parte de sua tradução do manuscrito num trem suburbano parisiense, e várias vezes caiu da bicicleta ao dirigir-se à Biblioteca do Arsenal. Supôs que o livro estava de algum modo enfeitiçado. Acabou avisando a Gardner que a posse física do manuscrito era perigosa, porque certas ilustrações a traço dos chamados quadrados mágickos eram “dotadas de uma espécie de vitalidade inteligente e automática”. Chegou a sugerir que a arte final de Mina para a página de rosto tinha sido alterada à noite, “e não por mão mortal”. Gardner distribuíra um prospecto anunciando que a edição se limitaria a 300 exemplares, mas apesar disso imprimiu 1.000. Só 120 exemplares foram vendidos nos doze meses seguintes à publicação do livro, em fevereiro de 1898.

Nessa época, Gardner já se retirara da Ordem. Mal mantinha relações com Mathers. Como Frater De Profundis ad Luceum, exigia-se que tratasse o Grande Honorável Frater Deo Duce Comite Ferro (Mathers) com a deferência devida. Contudo, como o Sr. F. L. Gardner, que emprestara dinheiro a Mathers e investira no livro de Abramelin, ele se sentiu no direito de escrever agressivas cartas a Mathers, que mal conseguia controlar sua irritação. Então, para piorar as coisas, teve uma tremenda briga com Florence Farr, que não estava disposta a tolerar bobagens de Gardner, de qualquer modo um indivíduo irritável. Ninguém pareceu lamentar muito sua saída.


A EXPULSÃO DE MATHERS


A Ordem passou por um período de relativa paz em 1898-9. Uma bomba explodiu em seu seio em fevereiro de 1900. Florence Farr fora ficando cada vez mais farta das excentricidades e da atitude ditatorial de Mathers. Escreveu-lhe sugerindo que talvez houvesse chegado a hora de deixar que a Ordem acabasse discretamente. Mathers, sempre desconfiado, supôs que isso era parte de um complô para trazer Westcott de volta e torná-lo Chefe dominante da Ordem. Revelou então imprudentemente que Westcott tinha forjado as cartas de Fräulein Sprengel no período de 1887-9. Além disso, deu a entender que soubera o que fora feito naquela época, mas fora obrigado a jurar segredo para que Westcott lhe contasse alguma coisa.

O leite estava agora derramado, pois se tudo aquilo era verdade, então a G. D., que suscitara tanta lealdade de seus membros, baseava-se em toda uma série de mentiras e logros. Houve uma imediata crise de confiança em Londres. Para piorar as coisas, Westcott negou-se a dar qualquer explicação, mesmo em defesa própria. Tudo isso se relacionava estreitamente com outra complicação incômoda. Um jovem visivelmente estranho, chamado Aleister Crowley, ingressara na Ordem Externa em novembro de 1898. Em dezembro de 1899, estava nominalmente qualificado para ascender à Segunda Ordem (R. R. et A. C.) por convite. Ele já sabia da existência desse círculo. Florence Farr e seus colegas insistiram entre si que ele não podia ser admitido. Percebiam que era uma pessoa em que não se podia confiar, e até mesmo potencialmente perigosa.

Ciente de que o pessoal de Londres o rejeitara, Crowley procurou Mathers, que prontamente o iniciou na Segunda Ordem, em sua casa em Paris. Essa iniciação não foi reconhecida em Londres, e pela primeira vez Mathers se viu diante de uma revolta total. A disputa atingiu o auge no inicio de abril de 1900 quando Crowley, depois de uma longa conferência com Mathers, retornou a Londres com plenos poderes para agir como seu Enviado Extraordinário. Deu-se um episódio de gostosa comicidade quando Crowley, vestindo o traje completo de montanhês escocês e uma máscara preta, tentou tomar posse das salas privadas da Segunda Ordem, na Blythe Road, 36, em Hammersmith. Nesse contexto, a tomada física da cripta destinava-se a ser o gesto simbólico mais significativo.

O plano Mathers-Crowley foi frustrado em grande parte pela vigilância de W. B. Yeats e alguns outros. A comédia terminou com os membros londrinos expulsando Mathers e Crowley, e também alguns outros de lealdade duvidosa. A R. R. et A. C. estava agora sem Chefe. Com os membros mais antigos tendendo a agir como coelhos assustados, Yeats logo assumiu o comando. Tomou-se Imperador do Templo Ísis-Urânia da Ordem Externa, e também figura destacada na comissão que tentava reorganizar a Ordem como um todo. Como não havia precedentes de qualquer forma de controle democrático, houve um contínuo estado de confusão. Enquanto isso, Annie Horniman retornara ao aprisco e se atarefava levantando pedras metafóricas e horrorizando-se com o que encontrava embaixo delas.

Descobriu, para seu horror, que o antigo sistema de exames ruíra completamente, que houvera tentativas de adulterar os rituais, e, ainda mais horrorizante, que havia agora um grupo secreto chamado de a “Esfera”, especializado em jornadas astrais. Para piorar tudo, Florence Farr e outros destacados membros da R. R. et A. C. estavam envolvidos. Supõe-se que ninguém convidara Yeats a juntar-se a eles porque não se desejava a sua cooperação. Annie conseguiu brigar com quase todos seus antigos auxiliares. Yeats fez o melhor que pôde para manter a paz durante um ano, e acabou renunciando a qualquer ligação muito ativa com a Ordem em fevereiro de 1901. Mas continuou como membro de uma das sucessoras da G. D. original — a Estrela Matutina — até por volta de 1923.

A Ordem original começou a fragmentar-se. Um punhado de membros manteve-se fiel a Mathers e fundou o Templo Alfa e Omega. O Ísis-Urânia original e, mais importante, a cripta passaram à posse de A. E. WAITE e de um grupo razoavelmente grande de pessoas da G. D., no início de 1903. Waite e seus seguidores abandonaram imediatamente o ritual mágicko pelo que ele chamava de “via mística”. A tradição mágicka da Ordem foi perpetuada, embora de uma nova forma, pelo Dr. R. W. Felkin e seus discípulos, que formaram a Ordem da Estrela Matutina. Eles se interessavam sobretudo pela viagem astral. Mathers, furioso por ter perdido tanta autoridade, esbravejava em Paris contra tudo e todos.

As sementes do grande motim de 1900-3 haviam sido plantadas há muito mais tempo, em 1896-7, quando Annie Hornimam fora expulsa e Westcott obrigado a retirar-se. Talvez fosse uma surpresa que ainda sobrevivesse alguma coisa depois de 1903. O cadáver da G. D., ativado pela curiosa vitalidade que Mathers lhe transmitira, recusava-se a ser enterrado. Embora houvesse chegado o momento em que todos, com umas poucas exceções, estavam fartos de Mathers, seu gênio como uma fonte de instrução mágicka jamais foi discutido, a não ser por Waite e seu grupo. Mas haviam até então aceitado, muito agradecidos, o que ele tinha a oferecer.

A tradição da Aurora Dourada sobrevive. Hoje ainda há dois templos na Inglaterra, e todo o ritual 5°=6 de iniciação à Segunda Ordem continua funcionando em Bristol. Sua influência se estende sobre um número considerável de ordens atuais que se dizem herdeiras da mesma. Seja como for, o sistema implementado por ela foi único, criativo e funcional. A OHGD oferece um histórico único.



Amor é a lei, amor sob vontade.



Fonte: Enciclopédia do Sobrenatural.

Pesquisa: Frater Aussik Aiwass, 718 ‘.’ - XIº - O.H.O. da OTO Draconiana -
Contatos com a Ordem:
www.otodraconiana.com.br