A F.U.D.O.S.I. foi formada em 1934 “para proteger as liturgias sagradas, ritos e doutrinas das Ordens iniciáticas tradicionais de serem apropriadas e profanadas por organizações clandestinas”. A F.U.D.O.S.I. não era uma Ordem, mas uma Federação Universal de Ordens e Sociedades esotéricas e autônomas, portanto, um órgão administrativo antes de tudo.

“Algumas pessoas, cujas mentes ainda não receberam luz suficiente, desejam saber por que era necessária uma Federação Universal. As Ordens e Sociedades Iniciáticas que, no seu próprio campo de trabalho, desfrutam da mais absoluta e completa liberdade e perfeita autonomia e independência. A esta questão nós podemos responder que, mais que qualquer outra coisa, está no trabalho iniciático que a maior vigilância é indispensável e que uma disciplina internacional estrita e ativa deve ser exercida.

Nós devemos reconhecer e lamentamos a existência de muitos falsos profetas e vários auto-proclamados iniciados que usam, para propósitos egoístas e tirânicos de dominação, o pretexto da iniciação para explorar as pessoas crédulas e sinceras. Era tempo de advertir o público contra estes falsos líderes e contra doutrinas nocivas que eles ensinaram às almas confiantes.

Em cada país, cada Ordem autêntica e regular conhece seus imitadores e tais falsos profetas. Era necessário vigiar estes movimentos clandestinos, expor estes impostores ou instrumentos ocultos e evitar sua força, em todos os países, onde quer que eles estejam operando, e assim evitar qualquer confusão entre as Ordens regulares e autênticas e as Organizações falsas que são prejudiciais ou que ofereçam ensinamentos que nada têm a ver com a Tradição Universal e o Esoterismo.

E também era necessário que as Ordens autênticas tivessem cuidado ao selecionar os seus membros e oficiais e manter os seus adeptos e estudantes no caminho correto das verdadeiras doutrinas, obrigando-os a seguir uma linha estrita de disciplina, trabalho racional, sincero e consciencioso, para evitar ensinamentos radicais e heterodoxia. Este imenso trabalho que era pretendido e que protegia as Ordens contra os seus inimigos internos e exteriores foi efetuado com sucesso pela F.U.D.O.S.I. e continua ocorrendo.” (Jornal da F.U.D.O.S.I., novembro de 1946)

 

Tuesday, April 25, 2006

Uma breve história do Martinismo e da Ordem Martinista

Começaremos com a história do Martinismo e da Ordem Martinista. Devemos fazer uma distinção porque o Martinismo como grande movimento espiritual é muito mais antigo que qualquer organização com esse nome. As primeiras organizações conectadas com o Martinismo tiveram outros nomes e precisamos fazer a observação de que nem Martinez de Pasquallys nem Louis-Claude de Saint-Martin tiveram a intenção de criar Ordens com esse nome.

É necessário antes de tudo apresentar as diferenças que existem entre o sistema de Martinez de Pasquallys e a filosofia de Saint-Martin para que não haja confusões. Faremos uso aqui da palavra Martinismo para designar a todo Movimento, ainda que ao sistema do primeiro seja melhor nomear de Martinezismo.

O Martinismo começou com Martinez de Pasqually e com sua Ordem dos Elus-Cohen ou Sacerdotes Eleitos. Desenvolveu-se em diferentes direções para chegar a nós numa forma modernizada que deve muito a Papus e a seus associados. Seguiremos a evolução histórica de cada ramo do Movimento e também estudaremos a questão das origens iniciáticas e doutrinais do Martinismo. Tudo isso deve ser de grande interesse para todos, mas especialmente àqueles que são elos na Cadeia Iniciática que assegura a transmissão da Luz Gnóstica.


Principais Expoentes do Martinismo Tradicional

Martinez de Pasquallys e os Elus-Cohen

Podemos dizer que nenhum movimento maçônico exerceu maior influência na França no século XVIII que o iniciado por Pasqually, que foi logo conhecido como Martinismo. O nome completo de Martinez era Jaques de Livron Joachim de la Tour de la Case Martinez de Pasquallys. Nasceu em Grenoble, França, provavelmente em 1727. Seu pai nasceu em Alicante, Espanha e este possuía uma patente maçônica outorgada por Charles Stuart, “Rei de Escócia, Irlanda e Inglaterra”, com data de 20 de Maio de 1738, na qual o nomeava Deputado Grão-Mestre com o poder de fundar Templos à Glória do Grande Arquiteto. Essa patente e os poderes que lhe conferia, foram transmitidas, em sua morte, a seu filho, “o poderoso Mestre Joachim Don Martinez Pasquallys, de 28 anos de idade”. Vemos, portanto, que aos 28 anos, Martinez era Mestre Maçom.

Martinez trabalhou durante toda sua vida na criação de um grande movimento espiritualista dentro do marco da Maçonaria. Quando pôde organizar este movimento como Ordem, não maçônica no sentido estrito da palavra, mas composta, exclusivamente, por Maçons, deu-lhe o nome de Ordem dos Cavaleiros Maçons Elus-Cohen do Universo.

A missão espiritual de Pasquallys começou provavelmente ao redor de 1759, mas não há dúvida de que antes desse período, trabalhou ativamente na promoção da Ordem Maçônica como tal. Essa foi a época em que o Alto Grau foi introduzido na Maçonaria, para completar os três graus básicos da Maçonaria Simbólica, ou Azul: Aprendiz, Companheiro e Mestre.

A introdução de graus superiores (Altos Graus) foi amiúde desaprovada pelas autoridades maçônicas que controlavam os Graus Simbólicos. Martinez mesmo não estava envolvido ativamente em criar graus maçônicos, mas que trabalhava para formar uma espécie de organização colateral que tivesse um caráter mais espiritual que a Maçonaria. Contudo, admitia nesta organização somente a Mestres Maçons que houvessem tomado o grau adicional de Eleito.

Já dissemos que antes de fundar a Ordem dos Elus-Cohen, Pasquallys havia trabalhado dentro do marco da Maçonaria. Assim, em 1754, fundou em Montpellier o capítulo maçônico Os Juízes Escoceses.

Entre 1755 e 1760 viaja por toda a França, recrutando seguidores para seu próprio sistema. Em 1760, estava em Toulouse onde foi recebido nas Lojas Unidas de São João. Depois, no mesmo ano, foi recebido na Loja Josué de Foix onde iniciou vários maçons e formou o Capítulo chamado O Templo Cohen.

Em 1761 estava em Bourdeaux onde, graças a sua Patente Stuart e com a recomendação do Conde de Maillial d’Alzac, do Marquês de Lescourt e dos irmãos d’Auberton, foi recebido na Loja La Française.

É nesse local que abre seu “Templo Particular” sob o nome de A Perfeição Escocesa Eleita. Os membros fundadores foram: Conde M. d’Alzac, Marquês de Lescourt, os dois irmãos d’Auberton, de Oasen, de Bobié, Jules Tafar, Morrie e Lecombard. Em 26 de Maio de 1763, Pasquallys mostrou sua Patente Stuart à Grande Loja da França e lhes informou do Templo que havia fundado em Bourdeaux, à Glória do Grande Arquiteto, um Templo com cinco graus de Perfeição dos quais era o Depositário sob a Constituição de Charles Stuart, Grão-Mestre de todas as Lojas espargidas pela face da Terra. O nome dessa Loja se mudou, então, à La Française Elue Ecossaise. Em 01 de Fevereiro de 1765, a Grande Loja da França a aprovou e outorgou patente a essa Loja.

Naquela época a Grande Loja da França não reconhecia os Altos Graus. Os maçons visitantes foram, portanto, recebidos na forma de Loja Azul nos Templos dos Elus-Cohen (o termo Loja Azul se refere aos três primeiros Graus Simbólicos de Aprendiz, Companheiro e Mestre, que constituíam a Primeira Classe dos Elus-Cohen, sob o nome de Maçonaria de São João).

A Segunda Classe, a dos Graus de Portal, era ainda externamente maçônica, mas continha pontos de uma doutrina secreta subjacente.

A Terceira Classe, formada pelos Graus do Templo, constituía os Altos Graus da Ordem. Utilizava artefatos e simbologia maçônica, mas o catecismo estava baseado na Doutrina Geral de Pasquallys. No grau de Grande Arquiteto, idêntico ao do Cavaleiro do Oriente, o membro praticava uma purificação física mediante uma dieta sob a qual se abstinha de alguns tipos de carnes e órgãos de certos animais, algumas gorduras, etc. Esta dieta que era altamente seletiva e que não há o que confundir com o estrito vegetarianismo era similar à dieta dos Levitas, prescrita no Antigo Testamento. O “Grande Arquiteto” realizava “operações” dirigidas a expulsar os Poderes da Escuridão que invadiram a Aura da Terra. Colaborava também em espírito com as operações especiais que realizava o Grão-Mestre, Pasquallys. Esse grau de Grande Arquiteto constituía, na prática, o grau de Aprendiz Réau+Croix.

O Grau Superior de Templo, o de Comendador do Oriente ou Grande Eleito de Zorobabel, é um grau passivo no qual o membro não realiza nenhuma operação. É um período de repouso antes da ordenação na Ordem Sagrada de Réau+Croix. O ensinamento se baseia na lenda de Zorobabel e nele se menciona a Ponte misteriosa que deve ser cruzada pelo candidato aos Mistérios. A palavra Réau+Croix não deve ser confundida com Rose+Croix e não tem nada que ver com rosacruz.

No grau secreto de Réau+Croix, o iniciado é posto em contato com o Mundo do Mais Além (as Esferas dos Poderes Celestiais) mediante a Alta Magia, ou Teurgia. Evoca os Poderes Celestiais na Aura da Terra. Manifestações auditivas e visuais capacitam ao Réau+Croix avaliar sua própria evolução (e a de outros evocadores) e ver se ele (ou eles) foi reintegrado em seus poderes originais.

O grau secreto “desconhecido” de Grande Réau+Croix se supunha que era a permissão para a Prova Suprema da Ordem, a nunca alcançada “operação final” que era a evocação de Cristo Glorioso, o Reparador, Adam Kadmon Reintegrado.

Tenhamos em conta que os Graus de Portal estavam separados dos Graus Simbólicos pelo Grau de Grande Eleito ou Mestre Particular. Este foi o que seria conhecido como “grau de vingança” no qual os votos de segredo são renovados em uma cerimônia realizada para ter o poder mágico de dar castigo ao que renuncie à sua obrigação.

Antes de sua morte, Martinez de Pasquallys havia nomeado como seu sucessor a seu primo Armand Cagnet de Lestère, Secretário Geral do Exército em Port-au-Prince, Haiti. Esse Irmão tinha pouquíssimo tempo para dedicar-se à Ordem e somente podia supervisionar os Templos Cohen de Port-au-Prince e Léogane em Haiti. Ocorreram divisões entre os Templos na Europa. A. C. de Lestère morreu em 1778 depois de haver transmitido seus poderes para Sebastian de las Casas. Este novo Grão-Mestre não intentou reconciliar os diferentes ramos dos Elus-Cohen nem unificar o Rito. Pouco a pouco, os Templos Elus-Cohen foram se fechando.

A Doutrina continuou sendo transmitida, contudo, de pessoa a pessoa ou dentro dos Aeropagoi Cabalísticos compostos por nove membros. Em 1806, “operações” seguiam sendo feitas nas datas de equinócios. Um dos últimos representantes diretos dos Elus-Cohen foi o Venerável Mestre Destigny que morreu em 1868.

Muitos dos discípulos de Martinez se distinguiram por seus escritos, tais como o Barão d’Holbach, que escreveu O Sistema da Natureza, o erudito hebreu e cabalista Duchanteau que é o autor do Calendário Mágico; Jacques Cazotte, famoso autor do Demônio Enamorado; Bacon de la Chevalerie; Jean-Baptiste Willermoz que desempenhou um papel muito importante na Maçonaria; e o célebre “Filósofo Desconhecido” Louis-Claude de Saint-Martin.

Antes que a Ordem dos Elus-Cohen perdesse sua vitalidade, dois eminentes membros preservaram a doutrina original: o primeiro, Jean-Baptiste Willermoz, integrando-a com alguns Ritos da Maçonaria; o outro, Louis-Claude de Saint-Martin, incorporando-a em um sistema modificado de filosofia perpetuado por iniciações pessoais.


Jean-Baptiste Willermoz e os Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa

Jean-Baptiste Willermoz nasceu em Lion, França, em 10 de Julho de 1730. Seu pai, Claude Willermoz foi um comerciante de tecidos. J. B. Willermoz foi educado no Colégio Trindade de Lion. Abriu seu próprio negócio no início de 1754.

Desde 1750, quando tinha vinte anos, Willermoz era Maçom. Em 1752, foi nomeado Venerável Mestre de sua Loja Maçônica. Em 1753 fundou a Loja A Perfeita Amizade da qual foi eleito V.’. M.’. no dia de São João, 24 de Junho. Em 1756 essa Loja se uniu à Loja Mãe de Lion. Sua Patente de regularização pela Grande Loja da França é datada de 21 de Novembro de 1756.

Em 04 de Maio de 1760 os Veneráveis Mestres da Loja A Amizade (20 membros), A Perfeita Amizade (30 membros) e Os Verdadeiros Amigos (12 membros) erigiram, com a aprovação da Grande Loja da França, uma Loja Mãe Provincial chamada Grande Loja dos Mestres Regulares de Lion. Willermoz foi o Grão-Mestre Provincial entre 1762-63 e logo Guardião dos Selos e Arquivista. Em 1763 fundou o Capítulo Soberano dos Cavaleiros da Águia Negra – Rosa+Cruz.

Em Maio de 1767, Willermoz empreendeu uma viagem à Paris, onde se encontrou com Bacon de la Chevalerie, Deputado Grão-Mestre dos Elus-Cohen. Foi iniciado por Martinez mesmo em Versalhes. Em 1772, Willermoz conheceu a existência de uma Ordem Maçônica na Alemanha, chamada de Estrita Observância Templária. Em 14 de Dezembro de 1772 escreveu pedindo ser aceito como membro. Recebeu uma resposta datada de 18 de Março de 1773 de Count Weiller. De 11 a 13 de Agosto de 1773 Count Weiller esteve em Lion onde fundou pessoalmente a Loja da Estrita Observância, chamada Loja Escocesa Retificada A Beneficência.

Em Dezembro de 1777, três anos depois da morte de Martinez, chegou a Lion Rodolphe Salzmann, Mestre dos Noviços do Diretório de Estrasburgo, onde foi recebido como Elu-Cohen. Sabemos que nessas datas a Ordem dos Elus-Cohen sofria divisões internas e falta de liderança. Como muitos outros membros sinceros, Willermoz podia ver que a Ordem estava fracassando e estava ansioso para preservar tudo o que pudesse ser salvo. Com a ajuda de Salzmann e com a aprovação de Bacon de la Chevalerie, Willermoz concebe o projeto de implantar a doutrina secreta dos Elus-Cohen no Rito da Estrita Observância. Planejou fazer isto juntando as duas primeiras classes da Estrita Observância, uma classe superior chamada a Professão que continha dois graus: Cavaleiro e Professo, nos quais a doutrina dos Elus-Cohen seria transmitida, aliviando assim o desaparecimento dos Réau+Croix. Não era sua intenção implantar as “operações” dos Elus-Cohen na Estrita Observância.

Uma reunião, chamada O Convento de Gaul, se desenvolveu de 25 de Novembro a 10 de Dezembro de 1778, em Lion, por provocação de Willermoz. Dedicou-se a reformar a “Província Auvergne da Estrita Observância” e os Templários da França tomaram o nome de Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa (C.B.C.S.) que constitui hoje em dia o Rito Escocês Retificado. Os graus eram: 1º Aprendiz, 2º Companheiro, 3º Mestre, 4º Mestre Escocês, 5º Escudeiro Noviço, 6º C.B.C.S. aos quais se juntam as categorias de Professão dos graus: 7º Cavaleiro Professo e 8º Cavaleiro Grande Professo.

Depois desta reforma Willermoz decidiu que seria correto levar isso ao seio do ramo original, a Estrita Observância alemã. Com isso em mente organizou o Convento de Wilhelmsbad em 1782. Encontrou apoio para seu plano nos Príncipes Fernando de Brunswick e Carlos de Hesse, mas encontrou forte oposição por parte dos Illuminati da Baviera e a hostilidade de François de Saint-Amand, representante dos Philaletos e de Savalette de Lange. Depois de calorosos argumentos, Willermoz e os que o apoiavam tiveram êxito e o título de Cavaleiros Benfeitores (C.B.C.S.) foi adotado por todos os membros da Ordem interna. Formou-se um comitê sob a direção de Willermoz para preparar os rituais dos Altos Graus e os dos graus secretos de Professão. Esse trabalho estava bem avançado quando a Revolução Francesa interrompeu a tarefa de Willermoz. Os Templos “Retificadores” dos C.B.C.S. e dos Elus-Cohen ainda ativos tiveram que se encerrar. Os Irmãos se dispersaram por toda a França.

Depois da Revolução, em 1806, os C.B.C.S. se fizeram ativos de novo na França e se uniram ao Grande Oriente da França, com o qual a Estrita Observância tinha relações amistosas. Em contrapartida, os Elus-Cohen não haviam reiniciado oficialmente seu trabalho. Seu último Grão-Mestre, Sebastian de las Casas, havia dado os arquivos da Ordem aos Philaletos. Em 1806, contudo, Bacon de la Chevalerie, Deputado Grão-Mestre para o Hemisfério Norte, foi aceito com essa capacidade no Grão-Colégio de Ritos do Grande Oriente da França. Tratou de obter a autorização para reorganizar a Ordem dos Elus-Cohen dentro do Grande Oriente, mas foi rechaçado.

O Rito dos Cavaleiros Benfeitores passou à Suíça quando o Diretório de Burgundia transmitiu seus poderes ao Diretório de Helvetia. É desta jurisdição suíça, agora dirigida pelo Grande Priorado de Helvetia, de onde os C.B.C.S. foram reativados na França depois de sucessivas guerras e particularmente a Segunda Guerra Mundial.

Em 05 de Maio de 1824, Jean-Baptiste Willermoz morreu em Lion.


Louis-Claude de Saint-Martin e os Superiores Desconhecidos

Louis-Claude de Saint-Martin nasceu em Amboise, na Província francesa de Turena, em 18 de Janeiro de 1743. Foi advogado em Tours, mas cansado das intrigas dessa vida, entrou no Regimento de Foix e por recomendação de Choiseul; e foi no exército onde conheceu a Grainville que era Elu-Cohen.

Saint-Martin foi iniciado nos Elus-Cohen em 1768. Durante seis anos praticou os trabalhos da Ordem. Gradualmente se sentiu intranqüilo com as “operações” teúrgicas. Ao final de 1770 Saint-Martin deixou o exército e se fez secretário de Martinez. No curso dessa nova atividade visitava a Lion, que havia chegado a ser o centro do Martinismo. Durante essas visitas foi quando escreveu seu livro Dos Erros e da Verdade que publicou em 1775.

Saint-Martin se foi apartando do lado “prático” dos trabalhos dos Elus-Cohen, quer dizer, a prática das operações teúrgicas, preferindo ao “Caminho Interior”. Em 1777, residia em Versalhes, três anos após a morte de Pasquallys. Saint-Martin tentava levar aos Elus-Cohen suas idéias e o misticismo “especulativo” puro. Fracassou em convertê-los e permaneceram fiéis às Operações que Martinez de Pasquallys lhes havia ensinado. Saint-Martin completamente desinteressado nesse tipo de trabalho e havendo fracassado em sua intenção de reformar os Elus-Cohen, transladou sua ação aos círculos herméticos e esotéricos de sua época. Publicou outras obras e sem dar-se conta assumiu o papel de um Mestre. Em Estrasburgo encontrou a Rodolphe Salzmann que era, então, conhecido por suas tradições e comentários sobre as obras de Jacob Boëhme. Saint-Martin se contentou com a Ordem dos Filósofos Desconhecidos e seguiu com sua missão pessoal, fazendo seguidores e discípulos, mesmo sem o querer, viajando extensamente. De Janeiro a Julho de 1787 esteve em Londres e em Setembro do mesmo ano na Itália, estabelecendo contatos em todos os países.

Em 1790 Saint-Martin se separa totalmente de seu trabalho anterior. Em 4 de Julho abandonou a Maçonaria, pedindo que seu nome fosse retirado de todos os registros maçônicos. Isso o forçou, também, dar baixa nos Elus-Cohen. Saint-Martin viajou, então, para a Rússia, onde o Príncipe Galitzin se fez seu discípulo, difundindo os ensinamentos místicos de Saint-Martin dentro da Ordem Russa da Estrita Observância Templária.

Negou-se várias vezes que Saint-Martin houvesse criado uma organização de algum tipo. Isto se apóia na bem conhecida aversão de Saint-Martin pelas sociedades organizadas sobre o modelo maçônico e pelas cerimônias completas, assim como pela falta de evidência positiva. Em respeito a este último ponto, não obstante, não se deve esquecer a diferença essencial entre Sociedades Secretas de tipo maçônico que são conhecidas oficialmente e que deveriam ser mais bem denominadas como “discretas” ou “privadas”, e as Sociedades Secretas reais, cuja existência é desconhecida de forma geral. Na correspondência privada vemos referencias à existência do que, às vezes, se definiu como Sociedade de Iniciados e outras vezes como a Sociedade dos Íntimos. Há que ter em conta o fato de que em ambos os casos essa sociedade escondia seu nome sobre as siglas S:::I:::. Em efeito, todos esses nomes só serviam para indicar que a organização em questão estava constituída por pessoas que levavam o título de Superiores Desconhecidos.

A Sociedade de Iniciados de Saint-Martin estava baseada na Iniciação. Essa era quase sempre uma transmissão ritual, pessoal e privada, de caráter íntimo, que conferia a qualidade de Superior Desconhecido ou S:::I:::.

Sabe-se, por registros e sinais usados depois da assinatura, que Saint-Martin era um Réau+Croix dos Elus-Cohen. Também se conhece por uma carta de Joseph Pont, sucessor de Willermoz, a J. F. Mayer, senador de Metz, enviada em 1829, que Saint-Martin havia transmitido um alto grau dos Elus-Cohen a seu amigo Gilbert. Há que assinalar, ademais, que antes que Pasquallys viajasse ao Haiti, designou Bacon de la Chevalerie como sucessor ao comando dos Elus-Cohen de França com cinco S:::I::: para ajudá-lo: Saint-Martin, Willermoz, de Serre, Duroy d’Hauterive e Lusignan. Essa informação vem do Príncipe Christian de Hesse, Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa e membro da Sociedade Saint-Martin de Estrasburgo. É óbvio, portanto, que Saint-Martin estava capacitado a transmitir os graus dos Elus-Cohen. Contudo, é duvidoso que o grau de S:::I::: transmitido por Saint-Martin dentro da Sociedade dos Iniciados fosse o grau S:::I::: que havia tido nos Elus-Cohen e que correspondia, provavelmente, ao grau de Juiz Soberano, grau administrativo. A Iniciação transmitida por Saint-Martin constituía, portanto, um laço com os Elus-Cohen, devido à sua própria posição dentro dessa Ordem. Não obstante, é duvidoso também que conheçamos exatamente quanta influência dos Elus-Cohen penetrou no Rito de Iniciação de Saint-Martin. Parece razoável aceitar o princípio de que a “essência” da Iniciação, que é “passada” no momento mais íntimo da cerimônia, venha diretamente da Ordem dos Filósofos Desconhecidos e que haja sido revestida com um ritual inspirado parcialmente nos Ritos dos Elus-Cohen. A Sociedade dos Filósofos Desconhecidos existiu pelo menos por 75 anos antes que a Grande Loja Maçônica da Inglaterra. A transmissão pessoal não tinha que ver com a Maçonaria.

Saint-Martin morreu em 1803 deixando muitos discípulos em vários países europeus. Depois de sua morte, seus discípulos prosseguiram a transmissão da Iniciação e a difusão da doutrina do Filósofo Desconhecido. Foram particularmente ativos na França, Alemanha, Dinamarca e Rússia. Em 1821, tiveram lugar iniciações de pessoa a pessoa, pois desde dois anos antes, certos grupos de Iniciadores levavam a transmissão por todos os lados e particularmente pela Itália e Alemanha.


Papus e a Ordem Martinista

Depois da morte de Saint-Martin em 1803, a Iniciação S:::I::: continuou sendo transmitida de pessoa a pessoa dentro de uma organização livremente entrelaçada. Durante o séc. XIX o ensinamento oculto de Pasquallys havia sido transmitido:

a) No seio dos Areópagos Cabalísticos, compostos, cada um, de nove Elus-Cohen que recusaram conformar-se com a decisão de fechar a Ordem e remeter os arquivos aos Philaletos de Savalette de Lange;

b) Por alguns Maçons do Rito Escocês Retificado que haviam recebido as instruções secretas de Willermoz e dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa; e

c) Pelos últimos S:::I::: de Louis-Claude de Saint-Martin.

Nesta última categoria podemos seguir duas linhas distintas de sucessão: Saint-Martin havia iniciado, entre outros, ao Abade de Lanoüe e Chaptal, Conde de Chanteloup. O primeiro iniciou a J. A. Hennequin que, por sua vez, iniciou Henri de la Touche, que iniciou a A. Desbarolles, Conde d’Hautercourt que iniciou Amélia de Boisse-Mortemart. Esta irmã iniciou a Augustin Chaboseau. É interessante assinalar que foi o Abade de Lanoüe quem iniciou a André Chénier, o poeta francês que morreu na guilhotina durante a Revolução Francesa. Chaptal, Conde de Chanteloup, havia iniciado a um Irmão, cuja identidade nunca foi descoberta, mas que iniciou, por sua vez, a Henri Delaage. Quando estava em seu leito de morte, Henri Delaage iniciou a Gérard Encausse, muito mais conhecido como Papus. Isto foi em 1880.

Naqueles dias Gérard Encausse, Augustin Chaboseau e outros jovens intelectuais tinham o costume de se alimentarem juntos, enquanto debatiam assuntos de interesse mútuo. Foi assim que Papus e Chaboseau descobriram que ambos haviam recebido a Iniciação S:::I:::. Papus tomou essa coincidência como um sinal do Céu e começou a trabalhar para criar uma organização que unisse, em seu seio, a todos os que haviam recebido o legado misterioso e que serviria como centro de estudos da Doutrina Martinista e como meio de propagar o Movimento. Em 1884 se realizou um rascunho da constituição desta organização ao qual se deu o nome de Ordem Martinista. Em 1890 se decidiu colocar a Ordem sob o Supremo Conselho de doze membros, com Papus como Presidente e Grão-Mestre. Os doze membros originais desse Primeiro Conselho foram: Papus, Augustin Chaboseau, Stanislas de Guaita, Chamuel, Sédir (Yvon Leloup), Paul Adam, Maurice Barrès, Jules Lejay, Montiére, Charles Barlet, Jacques Burget e Joséphin Péladan. Logo dois deles se demitiram do Conselho: Barrès e Péladan, sendo substituídos por Marc Haven (Lalande) e Victor-Émile Michelet.

Parece que quando Papus criou a Ordem Martinista existiam, ainda, desconhecidos para ele, representantes diretos dos Elus-Cohen e dos Primitivos Martinistas em Lion e fora da França. Por exemplo: os irmãos Bergeron e Bréban-Salomon em Lion, Karl Michelson na Dinamarca e Edward Blitz nos Estados Unidos. Este último entrou em contato com Papus e chegou a ser a “cabeça” visível da Ordem Martinista nos Estados Unidos. Blitz se associou com a Maçonaria e tratou de dar um aspecto maçônico à Ordem Martinista e, nesse sentido, teve seguidores na França: Fugarion e Charles Détré (Téder).

Desgraçadamente Blitz foi demasiado longe em sua interferência com o espírito da Ordem Martinista, que devia fugir do formalismo maçônico, e sua patente foi retirada. Foi substituído pela Srª. Margaret B. Peeke que chegou a ser Imperatriz Geral para os Estados Unidos. Morreu em 1908.

Naquela época as principais obediências maçônicas da França, especialmente o Grande Oriente, eram predominantemente materialistas e compostas por livre-pensadores. À margem do movimento maçônico existiam pequenas Obediências de caráter mais espiritualista. A maioria dos Martinistas estavam conectados com um ou outro desses Ritos. Em particular, como veremos mais adiante, o Rito Antigo e Primitivo da Maçonaria, que compreendia 33 graus, havia se juntado com os Ritos Orientais de Memphis e Mizraïm, compostos de 90 e 96 graus respectivamente, formando uma organização com a qual muitos Martinistas estiveram conectados. Ademais, a Igreja Gnóstica Universal e outras organizações estiveram representadas entre os membros do Supremo Conselho. A Ordem Martinista teve um período de atividade florescente na França e em outros países. Papus foi infatigável em seu labor e introduziu a Ordem inclusive na Corte Russa, onde o Martinismo era conhecido a um século. Diz-se que o Czar Nicolau II foi Mestre de uma Loja que havia dentro do Palácio Real.

Em 1908 Papus e Téder organizaram em Paris um Congresso de Ritos Maçônicos Espirituais, com a intenção de conectar a Ordem Martinista com os Altos Graus da Maçonaria. Em 1911 o Supremo Conselho emitiu um decreto reconhecendo a Igreja Gnóstica Universal como a Igreja oficial do Martinismo. Nessa mesma época Papus entra em contato com algumas Ordens Sufis do norte da África, em especial a Argélia, que à época era uma colônia francesa, mantendo uma relação de amizade com o Shaykh Sidi Ahmad al-Alawi, que havia assumido a Grã-Mestria da Ordem Sufi Darqawiyya em 1909.

Em 1914 Papus e Téder acordaram com Ribeaucourt, Grão-Mestre do Rito Escocês Retificado para criar um Grande Capítulo Martinista, que estaria composto exclusivamente por Maçons de Alto Graus e que atuariam como “ponte” entre a Ordem Martinista e a Maçonaria Escocesa. Desgraçadamente a Primeira Guerra Mundial impediu essa aliança. A morte de Papus em 1916 e a mudança na Grã-Maestria do Rito Escocês Retificado deram fim a esse projeto.

Papus morreu de tuberculose, que havia contraído enquanto trabalhava como médico no exército francês. Teve um papel vital na perpetuação do Martinismo, criando uma Ordem com esse nome e conservando-a unida enquanto esteve vivo. Com sua morte a Ordem Martinista perdeu sua unidade e se dividiu.

Papus foi sucedido por Téder cujo nome real era Charles Détré, que era ajudado por Victor Blanchard que era seu Deputado. Téder morreu em 1918 e foi sucedido por Jean Bricaud. Bricaud decidiu que a Ordem Martinista deveria ganhar se fosse estabelecida sobre uma base firme de Simbologia Maçônica. Decretou, portanto, que a Ordem Martinista admitisse somente Maçons do Terceiro Grau (M.’. M.’.) de qualquer rito e a Sede da Ordem foi transferida para Lion. É por isso que esse ramo da Ordem Martinista chegou a ser conhecido como a Ordem Martinista de Lion.

Essa “maçonização” da Ordem Martinista não agradou a todos os Martinistas e muitos recusaram reconhecer o novo regime que estava impondo restrições a alguns membros e particularmente às mulheres e Irmãs. Decidiram voltar ao sistema das Iniciações Livres, inerentes ao grau de Iniciador Livre e prosseguiram suas atividades de forma independente da Ordem de Bricaud.


A Ordem Martinista pós-Papus

Entre os membros que decidiram preservar o caráter original da Ordem Martinista estava Victor Blanchard, que havia sido Deputado Grão-Mestre de Téder e Bispo da Igreja Gnóstica. Os Martinistas que não aprovavam o caráter maçônico e as restrições impostas na Ordem Martinista dirigida por Jean Bricaud e conhecida sob a denominação de Ordem Martinista de Lion, porque seu Supremo Conselho se reuniu nessa cidade, ficaram muito tempo desorganizados, ainda que trabalhassem segundo a constituição original da Ordem e aceitavam tanto maçons como não, mulheres e homens. Seria errôneo considerar a posição nessa época como o resultado de uma “cisão”. Havia só uma Ordem Martinista, mas nem todos os Irmãos reconheciam a legalidade das restrições impostas por Jean Bricaud e atuavam de acordo com isso. Victor Blanchard estava já formando um núcleo dentro daqueles que queriam manter o sistema das Iniciações Livres. Contudo, Jean Bricaud, morreu em 21 de Fevereiro de 1934 deixando a sucessão a Victor Blanchard. Este sentia que não podia aceitar o Grão-Mestrado da Ordem Martinista de Lion, pois não estava de acordo com sua estrutura e sua natureza maçônica. Constant Chevillon foi eleito, então, Grão-Mestre e a Ordem Martinista de Lion manteve sua estrutura maçônica. Tinha um círculo externo de difusão no Colégio de Ocultismo na Rua Washington, nº. 17, Paris e, como uma antecâmara da Ordem, as duas Lojas de Memphis e Mizraïm Jerusalém Egípcia e Nova Era proporcionavam as qualificações maçônicas que se requeriam para ser membro da Ordem Martinista. Esses membros progrediam simultaneamente nas duas organizações tendo que qualificar-se como Mestre Maçom em Memphis e Mizraïm antes de serem admitidos como Associados e, depois ter que obter outros graus em dito Rito antes de serem admitidos nos graus de Iniciado e de S:::I:::. Entre 1936 e 1939 a Ordem Martinista de Lion manteve sua “Papus” aberta em Paris.

Depois de recusar a sucessão de Bricaud, Victor Blanchard reuniu os Irmãos livres e formou um ramo da Ordem Martinista que se aderia à constituição original da Ordem e desaprovava os requerimentos maçônicos da Ordem Martinista de Lion.

Em 1934, em Bruxelas na Bélgica, em conexão com um Congresso de Ordens Espirituais não-Maçônicas, se desenvolveu uma Convenção Internacional de Martinistas. Em 09 de Agosto, Victor Blanchard foi eleito, por unanimidade, Soberano Grão-Mestre Universal da Ordem, por representantes da França, Bélgica, Áustria, Suíça, América do Norte e do Sul, Dinamarca, etc. O Conselho Supremo da Ordem foi reconstituído e se decidiu acrescentar o adjetivo Sinárquica ao nome da Ordem para distingui-la da Ordem Martinista cuja sede estava em Lion. As qualificações maçônicas para ser membro foram abolidas. Dessa forma renasceu oficialmente a Ordem Martinista e Sinárquica, que marcava o retorno à tradição original da constituição do Supremo Conselho de 1890. Nessa ocasião, no Congresso de Ordens Espirituais não-Maçônicas, estas se organizaram em uma federação conhecida como F.U.D.O.S.I. (Federação Universal de Ordens e Sociedades Iniciáticas) tendo Victor Blanchard como Soberano Grão-Mestre da Ordem Martinista e Sinárquica, e como um dos primeiros três Imperators desta Federação.

Nem todos os Martinistas que divergiam da organização maçônica de Chevillon aceitaram a autoridade de Blanchard. Um deles foi Augustin Chaboseau, que havia estado com Papus desde o princípio. De sua correspondência privada parece deduzir-se que Chaboseau se considerava a si mesmo como um dos fundadores e não podia admitir a autoridade de Blanchard, que era mais moderno na Ordem. Junto com outros Irmãos, Augustin Chaboseau fundou uma terceira Ordem Martinista, que se chamou de Ordem Martinista Tradicional e cujo primeiro Grão-Mestre, Victor-Émile Michelet, foi prontamente sucedido por Chaboseau mesmo. Devido ao prestígio do nome de Chaboseau e as muitas qualidades deste Irmão, esta Ordem, bem organizada, se desenvolveu rapidamente na França, enquanto que a Ordem Martinista e Sinárquica seguia dominante em outros países, particularmente em Suíça e Bélgica.

Em 1939 a Ordem Martinista Tradicional era a Ordem Martinista não-Maçônica mais numerosa. Em 1946 Augustin Chaboseau morreu e deixou sua sucessão ao seu filho, Jean Chaboseau. Contudo, de acordo com a constituição desta Ordem, essa sucessão devia ser confirmada pelo Supremo Conselho. Jean Chaboseau não recebeu o apoio requerido, nem foi confirmado como Grão-Mestre. Essa divisão ameaçava destruir a Ordem e Jean Chaboseau renunciou a sua pretensão e abandonou a Ordem, junto com outros membros do Supremo Conselho.

Como Augustin Chaboseau havia sido, também, Imperator na F.U.D.O.S.I. na qual representava o Martinismo, essa função ficou vaga e foi ocupada por um Imperator interino até que a sucessão da O:::M:::T::: fosse esclarecida. Formou-se um comitê interino, conhecido como o Conselho de Regência, com o fim de manter unida a Ordem enquanto se faziam esforços para tratar de encontrar um Grão-Mestre que pudesse obter o apoio necessário. Enquanto isso, a maioria das Sociedades que compunham a F.U.D.O.S.I. estavam desgastadas com os métodos de propaganda que utilizava uma delas (a A.M.O.R.C.). Realizou-se uma reunião geral, mas a citada Ordem não quis abandonar seus métodos, pelo que a F.U.D.O.S.I. foi dissolvida em 1951. Com ela desapareceu o Comitê de Regência da Ordem Martinista Tradicional e os restos dessa organização foram dissolvidos também. A Ordem Martinista Tradicional desapareceu de cena, deixando um ramo americano que se manteve vivo graças ao corpo rosacruciano associado a ela (a A.M.O.R.C.) e que viria a se expandir – sem autorização – mundialmente nos anos seguintes através do oportunismo de Ralph Lewis (Imperator da A.M.O.R.C.).

Depois da abdicação de Chaboseau e a dissolução da Ordem Martinista Tradicional, um membro do Supremo Conselho da O:::M:::T:::, Irmão Jules Boucher, de Paris, tentou reunir os membros da Ordem Martinista Tradicional em uma nova Ordem, que ele fundou em 1948 e que chamou de Ordem Martinista Retificada. Seu êxito parece haver sido limitado. Jules Boucher morreu em 1955 e não foi empossado como chefe da O:::M:::R:::.

Depois da dissolução da Ordem Martinista Tradicional, muitos martinistas, sobretudo na França, ficaram sem uma organização própria. Alguns encontraram seu caminho na Ordem Martinista Retificada de Boucher, outros na Ordem Martinista de Philippe Encausse, filho de Papus, que havia reativado a Ordem Martinista original, de acordo com a constituição criada por seu pai, mas já com sua Cadeia Iniciática interrompida e com seus rituais originais alterados. O Grão-Mestre da Ordem Martinista de Lion transmitiu a liderança desta Ordem para Philippe Encausse. Essa Ordem teve seu Supremo Conselho, cuja sede estava em Paris e se desenvolveu rapidamente e em 1960 era a Ordem Martinista com maior número de membros. Encausse deixou a Ordem nas mãos de Irenée Séguret, mas posteriormente voltou a tomar as rédeas. Em 20 de Maio de 1978, Encausse cedeu o comando ao Irmão Sitael (Emílio Lorenzo) que preferiu o título de Presidente ao de Grão-Mestre. Sitael é ajudado por sua esposa, a Irmã Sephora, filha de Josep de Via. Ambos nasceram em Barcelona e foram iniciados na Ordem Martinista em 1957.

Depois da 2ª Guerra Mundial alguns Irmãos que possuíam o grau de C.B.C.S. da Maçonaria Escocesa Retificada, decidiram reviver o Martinismo de Willermoz. Nasceu, assim, a Ordem Martinista dos Elus-Cohen, que trabalha nos três graus normais do Martinismo e que é a antecâmara da Ordem “operativa” reativada sob o nome de Ordem dos Cavaleiros Maçons Elus-Cohen do Universo como nos tempos de Martinez de Pasquallys. Foi dirigida pelo Irmão Aurifer (Robert Ambelain).

Robert Ambelain estava de posse da filiação de Chaboseau e em 1942 iniciou a dois amigos. No ano seguinte já havia 25 círculos operando não só em Paris, mas por toda a França. Quando Chevillon foi assassinado, também se uniram a Ambelain alguns membros da Ordem Martinista de Lion. A Ordem ficou estruturada nos seguintes graus:

1ª Série (Ordem Exterior)

1. Associado;

2. Iniciado;

3. Superior Desconhecido.


2ª Série (Ordem Interior)

4. Mestre Cohen ou Superior Desconhecido Iniciador Livre;

5. Mestre Eleito Cohen (equivalente ao Escudeiro Noviço dos C.B.C.S.);

6. Grão-Mestre Cohen (equivalente ao Grande Arquiteto e Aprendiz Réau+Croix);

7. Cavaleiro do Oriente (equivalente ao Grande Eleito de Zorobabel, Cavaleiro Professo e Companheiro Réau+Croix);

8. Comendador do Oriente (equivalente ao Cavaleiro Professo I, Mestre Réau+Croix);

9. Réau+Croix (equivalente ao Cavaleiro Grande Professo, Grão-Mestre Réau+Croix).

Em 1967 Robert Ambelain (Irmão Aurifer) demitiu-se da direção da Ordem Martinista dos Elus-Cohen, cujo comando transmitiu a André Mauer (Irmão Andreas), que a sua vez iniciou e transmitiu sua sucessão a Joël Duez (Irmão Iacobus). Este foi iniciado e nomeado, recentemente, representantes seus nos Estados Unidos (1994) e Espanha (1996).

Em 14 de Março de 1953 Victor Blanchard, Soberano Grão-Mestre Universal da Ordem Martinista e Sinárquica, morreu em Paris com 75 anos de idade. Sob o nome de Paul Yesir havia dirigido durante muitos anos a Igreja Gnóstica Universal da qual era seu último representante. Foi um místico Cristão, um homem de ideais.

À morte de Blanchard foi reconhecido como Soberano Grão-Mestre Sâr Alkmaion (Edward Bertholet) da Suíça. Foi através dele que Louis Bentin (Sâr Gulion), Grão-Mestre da Grande Loja do Reino Unido e a Commonwealth, recebeu sua patente. Sâr Gulion, antes de falecer em meados de 2003, outorgou patentes de Lojas Nacionais da Ordem Martinista e Sinárquica para Barbados, Canadá, França, Nigéria e Brasil.

A Ordem Martinista e Sinárquica (O:::M::: & S:::) – das Ordens Martinistas conhecidas e derivadas de Papus – permanece como a única Ordem Martinista com uma Linhagem ininterrupta, e de forma regular. Mesmo com o enfoque teúrgico acrescido por Blanchard nesta Ordem, sem dúvida, a Sinárquica é a Ordem Martinista que mais se aproxima da Ordem original.

Sâr Gulion já vinha se afastando de suas atividades e com o seu falecimento, a Loja-Mãe do Reino Unido passou por momentos de dificuldades e o sucessor escolhido por ele, que atualmente vive na Irlanda, foi colocado em dúvida quanto a sua sucessão.

No momento, no Reino Unido a O:::M::: & S::: continua viva e ao que parece restam 2 Lojas, sendo a principal delas em Londres que já existe há quase 30 anos. Alguns falam em trabalho silencioso por parte dos britânicos, mas fomos informados também da falta de membros e interesse no Reino Unido. Assim, planeja-se para os próximos anos, talvez em 2007, uma Convenção Mundial da O:::M::: & S::: a ser realizada na Inglaterra ou Irlanda; antes disto, a Loja-Mãe, aquela de Sâr Gulion, lançará seu site na web que poderá ser acessado através de www.martinism.org
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