A F.U.D.O.S.I. foi formada em 1934 “para proteger as liturgias sagradas, ritos e doutrinas das Ordens iniciáticas tradicionais de serem apropriadas e profanadas por organizações clandestinas”. A F.U.D.O.S.I. não era uma Ordem, mas uma Federação Universal de Ordens e Sociedades esotéricas e autônomas, portanto, um órgão administrativo antes de tudo.

“Algumas pessoas, cujas mentes ainda não receberam luz suficiente, desejam saber por que era necessária uma Federação Universal. As Ordens e Sociedades Iniciáticas que, no seu próprio campo de trabalho, desfrutam da mais absoluta e completa liberdade e perfeita autonomia e independência. A esta questão nós podemos responder que, mais que qualquer outra coisa, está no trabalho iniciático que a maior vigilância é indispensável e que uma disciplina internacional estrita e ativa deve ser exercida.

Nós devemos reconhecer e lamentamos a existência de muitos falsos profetas e vários auto-proclamados iniciados que usam, para propósitos egoístas e tirânicos de dominação, o pretexto da iniciação para explorar as pessoas crédulas e sinceras. Era tempo de advertir o público contra estes falsos líderes e contra doutrinas nocivas que eles ensinaram às almas confiantes.

Em cada país, cada Ordem autêntica e regular conhece seus imitadores e tais falsos profetas. Era necessário vigiar estes movimentos clandestinos, expor estes impostores ou instrumentos ocultos e evitar sua força, em todos os países, onde quer que eles estejam operando, e assim evitar qualquer confusão entre as Ordens regulares e autênticas e as Organizações falsas que são prejudiciais ou que ofereçam ensinamentos que nada têm a ver com a Tradição Universal e o Esoterismo.

E também era necessário que as Ordens autênticas tivessem cuidado ao selecionar os seus membros e oficiais e manter os seus adeptos e estudantes no caminho correto das verdadeiras doutrinas, obrigando-os a seguir uma linha estrita de disciplina, trabalho racional, sincero e consciencioso, para evitar ensinamentos radicais e heterodoxia. Este imenso trabalho que era pretendido e que protegia as Ordens contra os seus inimigos internos e exteriores foi efetuado com sucesso pela F.U.D.O.S.I. e continua ocorrendo.” (Jornal da F.U.D.O.S.I., novembro de 1946)

 

Sunday, November 19, 2006

SPENCER LEWIS por Erik Sablé (*)

Harvey Spencer Lewis nasceu em 25 de Novembro de 1883 em Frenchtown, New Jersey, Estados Unidos da América, mas passou uma boa parte de sua juventude em Nova York.

Sua mãe era professora e o pai era calígrafo.

Lewis recebeu uma educação Protestante, coisa comum na cultura americana, e se filiou a uma igreja Metodista a qual permaneceu sempre fiel.

Aos 20 anos de idade trabalhava como jornalista no Evening Herald, no qual se ocupava da parte artística. Depois foi fotógrafo e ilustrador, antes de descobrir sua veia na publicidade.

Segundo o testemunho de seu filho, Ralph M. Lewis, ele possuía múltiplos dons para o desenho, pintura, música e se apaixonou bem cedo por línguas estrangeiras, com destaques para o Esperanto e o Ido.

Paralelamente começou a estudar o Ocultismo. Com a ajuda do jornal Evening Herald, tornou-se, em 1904, um dos fundadores e o presidente do New York Institute for Psychical Research. Foi neste momento que nasceu o seu interesse pelo movimento Rosacruciano, primeiro por meio de uma comunidade de Pietistas alemães instalados na cidade de Germantown, Pensilvânia desde 1694.

Esta comunidade Pietista foi fundada por um certo Johannes Kelpius (1673-1708) que teria herdado um antigo manuscrito Rosacruciano e o teria usado como base de uma regra de vida. Este manuscrito na verdade estava em uma versão dos “Símbolos Secretos dos Rosacruzes dos Séculos XVI e XVII” (1786-1788), como mostrou Julius Friedrich Sachse em “The German Pietists of Pennsylvania” (1895).

Ocorre que Spencer Lewis pensava que descendia dessa comunidade que havia desaparecido desde 1801 por um dos seus parentes, e ele se sentiu chamado a fazer reviver o movimento Rosacruciano.

Portanto, criou dentro do Instituto que ele presidia a Rosicrucian Research Society e, ainda em 1909, ele teria entrado em contato com o redator-chefe de um jornal parisiense para interrogá-lo sobre possíveis grupos sobreviventes rosacruzes na França. Foi-lhe respondido com o endereço de um professor de línguas que vendia gravuras e fotografias na Boulevard Saint-Germain.

Na seqüência desta troca de cartas, ele embarcou com o pai a bordo do navio América.

O professor de línguas o enviou a Montpellier e, de lá, ele foi para Toulouse, na França.

Foi no torreão do Capitólio que Lewis teria encontrado o secretário dos rosacruzes (aliás, arquivista da cidade) trajado com um vestido branco bordado de símbolos, apressado no meio dos arquivos da Ordem em um cômodo repleto de livros. Ele lhe disse que havia sido eleito após um exame do seu tema astrológico (mapa astral). Deu-lhe uma carta de recomendação e lhe mostrou documentos antiqüíssimos.

De lá, foi para um templo rosacruciano situado perto das ruínas da antiga Tolosa, onde teria recebido uma importante iniciação que o integrava à Ordem Rosacruz. Depois, teria assistido em um mosteiro rosacruciano às margens da Garonne, ao “conclave dos Illuminatis”. E cita alguns nomes: o de Bellcastle-Ligne, o secretário, e de Verdier, o Grão-Comendador.

Muitos se interrogam sobre essa “iniciação”. Pesquisas foram feitas para tentar encontrar traços desses misteriosos rosacruzes. Serge Caillet soube o nome do arquivista da época, um certo François Galabert.

Mas a seqüência da sua investigação lhe deu prova de que não teria podido, de modo algum, conservar arquivos rosacrucianos privados ao lado dos arquivos públicos da cidade em que era funcionário público. Paralelamente, todos os nomes dados se revelaram falsas pistas. Nem Verdier, nem Bellcastle correspondiam a personagens que tivessem existido. E muitas incoerências foram reveladas nesse relato. Segundo toda verossimilhança, essa “iniciação” foi, portanto, puramente imaginária.

Então, impõe-se a pergunta: “Quais foram as fontes reais do fundador da A.M.O.R.C.? Quais foram as bases doutrinais e rituais sobre as quais ele se apoiou?”.

Para responder a essa pergunta, podemos primeiramente observar que os nove primeiros graus da A.M.O.R.C. são muito semelhantes aos graus da S.R.I.A., etc. E, Gérard Galtier desenvolve a hipótese interessante de uma total influência desta última organização. Pois Spencer Lewis conhecia realmente o trabalho de Sylvester Clark Gould, o dirigente da S.R.I.A. norte-americana, já que fala dele na sua “História da Ordem Rosacruz”. Lewis chega a mencionar que “empreendeu um trabalho de pesquisa para encontrar os rituais de origem da Fraternidade”.

De fato, Gould tinha a intenção de ir à Europa em 1909 em busca desses ensinos que lhe faltavam. Porém, morreu em 19 de Julho. Ocorre que foi precisamente em 24 de Julho que Spencer Lewis saiu dos Estados Unidos para ir à França, como que para realizar o projeto de Gould.

Mas, em compensação, é certo que ele se correspondeu com Theodor Reuss, o dirigente da Ordo Templi Orientis, e que recebeu dele uma Carta provando que fora admitido ao sétimo grau da Ordem. Tornou-se, aliás, o representante da O.T.O. nos Estados Unidos da América.

De qualquer modo, a A.M.O.R.C. foi fundada em 1915 em Nova York com a benção de uma certa Sra. May Banks-Stacey, admitida como representante do Grão-Mestre rosacruz do ramo indiano.

Foi na seqüência dessa criação que ele efetuou uma transmutação do zinco em ouro na presença de um jornalista do New York World. Essa operação foi contestada. E parece difícil ainda hoje saber a verdade. Mas é preciso lembrar-se de que Jollivet Castelot (com o qual Lewis manteve relações nos anos 1930) produzia fenômenos semelhantes, que ele chamava de “arquímicos” para distingui-los dos que pertenciam à alquimia, propriamente dita.

A seguir ele fez outras viagens. Em 1926, retornou à França e à Suíça com sua segunda esposa Martha. Lá também, teria participado de um “conclave rosacruciano” em Toulouse, ao qual assistiam delegados rosacruzes do Egito, Índia, África, América e do Colégio dos Mestres do Tibet.

Em 1929, ele foi novamente com alguns membros da A.M.O.R.C. para o Egito. Em Luxor, teria recebido uma nova iniciação e é certo que esse país o impressionou vivamente, já que ele atribui na seqüência o nascimento da Ordem ao Faraó Tutmosis III. Depois, o grupo visitou a França, a Suíça, a Alemanha, a Inglaterra.

Por volta de 1930, ele se associou a Heinrich Traenker (1880-1956), um amigo de Aleister Crowley que tinha tomado uma sucessão contestada na chefia da O.T.O.. Mas essa colaboração mútua não durou.

Em 1933, enfim, ele entrou em contato com a Rosacruz Belga, mais especificamente com Jean Mallinger. Desses encontros ia nascer a F.U.D.O.S.I., uma organização que queria confederar todos os grupos iniciáticos.

Apesar das fortíssimas reservas de numerosos membros, Spencer Lewis será um dos três Imperators, juntamente com Victor Blanchard e Émile Dantinne.

Foi nessa ocasião que ele conheceu este último, ou melhor, Sâr Hiéronymus, que lhe causou uma profunda impressão.

Quando Spencer Lewis morreu, em 2 de Agosto de 1939, Jean Mallinger escreveu o que pensava a maioria dos membros da F.U.D.O.S.I.:

– “Apesar dos erros cometidos por Sâr Alden (mote de Spencer Lewis), guardo uma boa lembrança dele, pois nos soube compreender e reconhecer a superioridade do nosso mestre, Sâr Hiéronymus ou Émile Dantinne”.

Pois, Émile Dantinne foi provavelmente o único autêntico mestre rosacruciano que ele conheceu...


(*) Dictionnaire des Rose-Croix, Erik Sablé, Éditions Dervy, 1996.