A F.U.D.O.S.I. foi formada em 1934 “para proteger as liturgias sagradas, ritos e doutrinas das Ordens iniciáticas tradicionais de serem apropriadas e profanadas por organizações clandestinas”. A F.U.D.O.S.I. não era uma Ordem, mas uma Federação Universal de Ordens e Sociedades esotéricas e autônomas, portanto, um órgão administrativo antes de tudo.

“Algumas pessoas, cujas mentes ainda não receberam luz suficiente, desejam saber por que era necessária uma Federação Universal. As Ordens e Sociedades Iniciáticas que, no seu próprio campo de trabalho, desfrutam da mais absoluta e completa liberdade e perfeita autonomia e independência. A esta questão nós podemos responder que, mais que qualquer outra coisa, está no trabalho iniciático que a maior vigilância é indispensável e que uma disciplina internacional estrita e ativa deve ser exercida.

Nós devemos reconhecer e lamentamos a existência de muitos falsos profetas e vários auto-proclamados iniciados que usam, para propósitos egoístas e tirânicos de dominação, o pretexto da iniciação para explorar as pessoas crédulas e sinceras. Era tempo de advertir o público contra estes falsos líderes e contra doutrinas nocivas que eles ensinaram às almas confiantes.

Em cada país, cada Ordem autêntica e regular conhece seus imitadores e tais falsos profetas. Era necessário vigiar estes movimentos clandestinos, expor estes impostores ou instrumentos ocultos e evitar sua força, em todos os países, onde quer que eles estejam operando, e assim evitar qualquer confusão entre as Ordens regulares e autênticas e as Organizações falsas que são prejudiciais ou que ofereçam ensinamentos que nada têm a ver com a Tradição Universal e o Esoterismo.

E também era necessário que as Ordens autênticas tivessem cuidado ao selecionar os seus membros e oficiais e manter os seus adeptos e estudantes no caminho correto das verdadeiras doutrinas, obrigando-os a seguir uma linha estrita de disciplina, trabalho racional, sincero e consciencioso, para evitar ensinamentos radicais e heterodoxia. Este imenso trabalho que era pretendido e que protegia as Ordens contra os seus inimigos internos e exteriores foi efetuado com sucesso pela F.U.D.O.S.I. e continua ocorrendo.” (Jornal da F.U.D.O.S.I., novembro de 1946)

 

Wednesday, December 21, 2005

O Mundo Secreto – para uma compreensão do mundo das Sociedades Secretas por Rémi Boyer

A Sociedade Secreta constitui um fenômeno universal. Presente desde a Antigüidade, manifestando-se em todos os domínios da vida, quer seja a esfera política, a esfera econômica, a esfera militar, científica, religiosa, artística, notadamente literária, ou nesta que nos concerne a esfera da Tradição e do Ocultismo. No domínio político, por exemplo, muitos dos movimentos políticos internacionais são nascidos nas ante-salas onde alguns obscuros desconhecidos se reúnem para mudar o Mundo. No domínio artístico, certos Círculos surrealistas funcionaram como Sociedades Secretas.

A Sociedade Secreta empresta formas múltiplas, mais ou menos adaptadas aos tempos e aos espaços em que estão inseridas. Das crianças aos velhos, todos os elementos de nossa sociedade fizeram, ou ainda farão uso de uma Sociedade Secreta.

A Sociedade Secreta constitui o vetor habitual de manifestação do mundo do Ocultismo, da Tradição, da Iniciação. Este mundo se interpenetra com todos os registros de expressões da natureza humana. O sublime costeia o medíocre, o vulgar costeia a beleza, o horror, a verdade, a mentira, o conhecimento, em um paradoxo vivo que permite a emergência do Ser.

O Divino eleva-se mesmo no meio do vício. A fascinação do humano pelo secreto, sua tendência natural à auto-alucinação e ao maravilhoso recobriram a noção de Sociedade Secreta (SS) de um verniz de superstição e de crenças que tornam sua compreensão difícil. Nossa época moderna, pela multiplicidade de SS de pretensão Iniciática, cujo exame demonstra não serem, nem secretas, nem Iniciáticas, gerou uma confusão sem precedentes sobre o cenário já obscuro do Ocultismo e atraiu a atenção, entre outros de pesquisadores tradicionais ou universitários, do grande público e dos jornalistas, como dos serviços governamentais da maior parte dos Estados.

Tentaremos aqui fornecer alguns elementos de discriminação às numerosas pessoas que se interessam pelo Ocultismo, Tradições, ou mais freqüentemente pelas SS, a fim de colocarem-se em condição de passar da confusão ao discernimento. A confusão permanecerá malgrado tudo, no geral e no particular, neste domínio, porque sem dúvida é ela indispensável para dissimular algumas SS de características verdadeiramente Iniciática e desqualificar a massa dos curiosos ou dos desequilibrados que são atraídos por este tema. Citemos Lança del Vasto que descreveu perfeitamente a situação no prefácio do livro de Louis Cattiaux: Le Message Retrouvé (A Mensagem Reencontrada):

A conjuração dos imbecis, dos charlatões, e dos Sábios foi perfeitamente bem sucedida. Esta conjuração teria como objetivo esconder a verdade. Uns e outros serviram a esta grande causa, cada um segundo seus meios; os imbecis por meio da ignorância, os charlatões por meio da mentira, os Sábios por meio do segredo”.

Nossa intenção é de fornecer àquele que procura, não a felicidade, mas a libertação, o despertar, alguns índices suficientes para detectar as pistas autênticas como as vias sem procedência, e tirar proveito dos erros que não deixará de cometer, como todos os questionadores autênticos fizeram antes dele.


Ensaio de definição da Sociedade Secreta

Não será possível fornecer uma definição precisa e satisfatória de Sociedade Secreta. Diremos simplesmente que a Sociedade Secreta, no domínio Tradicional, se caracteriza, não pelo segredo, não pelo caráter fechado ou clandestino, mas pelo Rito. Entendemos por Rito, a existência de um Corpo doutrinal e de uma praxe Iniciática. Esta não implica necessariamente de práticas rituais como temos, por exemplo, nas sociedades Maçônicas, Cavalheirescas, Rosacrucianas.

Conhecidas, sobretudo pela presença de uma técnica do Despertar, de Libertação, precisa e verificável, veiculada no geral por um Corpus doutrinal exprimido em um modelo de mundo particular no centro de origem da Sociedade (Hermetismo, Martinismo, Budismo, Shivaísmo).

Semelhante definição restritiva, mas consoante com a Tradição, eliminaria a quase totalidade das autodenominadas Sociedades Secretas desconhecidas, por sinal, muito conhecidas.

Examinaremos, portanto, o conjunto destas que são geralmente recobertas pela expressão Sociedades Secretas, a saber, toda organização que se apresenta como Espiritual, Esotérica, Ocultista, Tradicional, Iniciática, ou toda outra qualificação análoga.


Iniciação e Sociedades Secretas

Todas as Sociedades Secretas tradicionais se pretendem Iniciáticas. Bem poucas as são, a maior parte entre elas assumem outras funções que não a Iniciática, funções que apresentaremos posteriormente. A noção geral de Iniciação envolve de fato vários níveis de lógicas, onde algumas não tratam de Iniciação em seu sentido esotérico. Neste último sentido, a Iniciação é uma questão técnica. Trata-se da conquista de estados de seres não-humanos, ou mais que humanos, ativando de fato e em realidades estes centros, chamados Estrelas em certas Escolas, Rodas em outras, e mais freqüentemente de Chakras, antes de proceder a uma série de separações (do Corpo Saturnino do Corpo Lunar, depois do Corpo Mercurial, até o Corpo Solar segundo o Hermetismo) para a constituição final do Corpo de Glória (ou Corpo Crístico ou Corpo Arco do Céu, etc.), atividade colocada em obra e desenvolvida por técnicas precisas, freqüentemente perigosas, de Chamada de Si, de Alta Magia, de Alquimia interna, técnicas de acesso ao Ser ou Absoluto.

Aqui, a definição, ainda conforme a Tradição é restritiva. Rejeitaremos a conhecida crença segundo a qual a “vida é Iniciação”. Isto é sem dúvida verdade, mas necessitaria tratar-se de uma vida totalmente consciente e unificada. Sobretudo, este é um dos argumentos colocados antes por aqueles, muito numerosos, que inventam todo logro nos autodenominados sistemas Iniciáticos com Cadeias sucessórias remontando à Antigüidade. Em um sentido mais largo e, entretanto, mais aceitável, Iniciação é a Ciência da mudança.

A verdadeira mudança, isto é, a passagem de um nível lógico a um nível imediatamente superior comporta uma mutação, um salto, uma descontinuidade ou transformação, do mais alto interesse teórico, e da mais alta importância prática, porque permite deixar um mundo reconhecido como sombra, para entrar em um outro, mais “real”, mesmo que ele não seja a “Realidade”.

Os níveis lógicos devem ser reconhecidos e rigorosamente separados se desejamos evitar a confusão e usar do paradoxo para mais tempo de compreensão. Heráclito já havia ressaltado a estranha interdependência dos contrários que chamava de enantiodromia.

Quanto mais uma posição é extrema, mas é provável uma enantiodromia, uma conversão em seu contrário. A história das Sociedades Secretas é rica em comportamentos enantiodrômicos. De fato, na ausência da técnica real de iniciação, o indivíduo fica na impossibilidade de se elevar ao nível lógico (ou alógico) superior, passa a oposição de sua posição inicial. Ocorre que passar de um sistema ao seu oposto não é uma mudança.

Isto ilustra, teoricamente, o mito ocidental segundo a qual, o iniciado deve se colocar para além das duas colunas opostas, situadas na entrada do santuário. Resulta disto que o iniciado que deve passar de um mundo “A” a um mundo “B”, imediatamente superior, somente saberia encontrar aquilo que produz a passagem no mundo “A” ele mesmo, daí a necessidade de uma ingerência do sistema “B” no sistema “A”. Motivo, igualmente, da importância do discernimento, na verdade da sagacidade, no candidato à Iniciação.

Esta noção de ingerência se exprime perfeitamente nas estruturas piramidais das SS, e na articulação natural que existe entre os três grandes tipos funcionais de SS.


Tipologia funcional das SS

As SS assumem três funções particulares nitidamente distintas, mas complementares: exotérica (ou exo-esotérica segundo alguns autores), mesotérica e esotérica.


Sociedades do tipo 1: função exo-esotérica

Esta função é primeiramente de natureza terapêutica. Consiste em restabelecer no indivíduo o alinhamento, a congruência, entre o corpo, a emoção e o pensamento. Trata-se de reconciliar o indivíduo com ele mesmo e seu meio ambiente. Esta função implica igualmente um componente cultural não negligenciável, o indivíduo é convidado a estudar, a meditar, e se possível a integrar, um modelo de mundo, qualificado de espiritual, que permita encontrar uma resposta satisfatória para o mental, tranqüilizadora para o coração, dos grandes problemas que a vida não cessa de lhe impor. Esta função, importante para o indivíduo beneficiado, é igualmente reguladora do plano social. Ao ajudar o indivíduo a encontrar um equilíbrio no mundo como ele é, as SS deste tipo favorecem a estabilização e a lenta evolução dos sistemas políticos, econômicos e sociais dominantes. A totalidade das SS exteriores, mas pode-se falar ainda de SS, assumem esta função exo-esotérica.


Sociedades do tipo 2: função mesotérica

Estas Sociedades, menos numerosas e mais restritivas, já constituem verdadeiras Escolas tradicionais. Elas se esforçam de fato em fornecer aos seus alunos as qualificações de base indispensáveis para pretender abordar uma via Real. Estas qualificações podem variar segundo as Correntes tradicionais, assim sobre a Corrente Rosacruciana, o conhecimento e a mestria do Trium Hermeticum será exigido, a saber, a Alquimia, a Astrologia e a Magia, segundo o eixo da Cabala (das organizações espiritualistas, como a A.M.O.R.C., não abordam a questão fundamental da Alquimia Operativa, nem nenhuma das outras Ciências de Hermes, e não pode de modo algum se pretender Rosacrucianas).

Duas correntes vão caracterizar esta função e se encontram invariáveis em todas as organizações deste tipo.

A experimentação do Universo como “resposta” por uma vontade comandante. Obter resposta do Universo é de efeito, se esta não é a definição, do Mago, deste que tendo vontade, faz responder o Universo (1).

A busca do estado objetivo. A fim de ilustrar o que entendemos por estado objetivo ou despertar, citaremos aqui um extrato da notável obra de Ouspensky, Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido (Pensamento, S. P., 1985, págs. 166-167).

“O terceiro estado de consciência é a lembrança de si mesmo ou consciência de si mesmo, consciência de seu próprio ser”. Admite-se habitualmente que possuímos esse estado de consciência ou que podemos tê-lo à vontade. Nossa ciência e nossa filosofia não viram que não possuímos esse estado de consciência e que o nosso simples desejo é incapaz de criá-lo em nós mesmos, por mais clara que seja nossa decisão.

O quarto estado de consciência é a consciência objetiva, nesse estado, o homem pode ver as coisas como são. Às vezes, em seus estados inferiores de consciência, pode ter vislumbre dessa consciência superior. As religiões de todos os povos contêm testemunhos da possibilidade de tal estado de consciência, que qualificam de “iluminação” ou de diversos outros nomes e que dizem ser indescritível. Mas o único caminho correto em direção a consciência objetiva passa pelo desenvolvimento da consciência de si.

Um homem comum, artificialmente levado a um estado de consciência objetiva e trazido depois ao seu estado habitual, não se lembrará de nada e pensara, simplesmente, que perdeu os sentidos durante certo tempo. No estado de consciência de si, porém, o homem pode ter vislumbres de consciência objetiva e deles guardar a lembrança.

O quarto estado de consciência representa um estado completamente diferente do anterior; é o resultado de um crescimento interior e de um longo e difícil trabalho sobre si. No entanto, o terceiro estado de consciência constitui o direito natural do homem tal como é, e, se o homem não o possui, é unicamente porque suas condições de vida são anormais. Sem exagero, pode-se dizer que, na época atual, o terceiro estado de consciência só aparece no homem por muitos breves e muitos raros lampejos e que é impossível torná-lo mais ou menos permanente, sem um treinamento especial.

Para a grande maioria das pessoas, mesmo cultas e intelectuais, o principal obstáculo, no caminho da aquisição da consciência de si, é acreditar que a possuem.

Esta referência a um estado de ser central, a um eixo do mundo, a um Reino do Centro é comum a todas as tradições, sua importância é considerável.

Assim o Mestre Maçom é recebido na Câmara do Meio, referência a um Reino do Centro, acessível a aquele que pode cessar de pensar o universo pelo jogo das múltiplas representações, para perceber o Universo, deixar o mundo dissolvendo do ter e do fazer para o do ser.

O processo da Chamada de Si provoca uma destruição das identificações e das cristalizações mentais, conseqüentemente as crenças que subtendem a personalidade profana, a Persona, a máscara, vão ser destruídas ao curso desta busca do ser.

Poucos estão prontos para perder a imagem que fazem deles mesmos e do mundo, produtos de seus condicionamentos múltiplos, fonte de seus sofrimentos, mas também de alguns efêmeros prazeres.

Veremos, portanto, que poucas organizações assumem esta função e convidam seus membros a deslancharem este processo.


Sociedades do tipo 3: função esotérica

Provavelmente, o qualificativo de Iniciático somente se aplique a este terceiro tipo de SS. Estas sociedades, normalmente Colegiadas, são concebidas como verdadeiros laboratórios de pesquisas. Conduzindo seus adeptos às fases terminais das Vias Reais, Vias do Despertar, Via do Corpo de Glória, Via da Pedra ao Vermelho, Via Essencial, Via Estrema, são numerosas as nomeações para designar esta fase onde o indivíduo liberto de tudo isto que é humano, liberto mesmo da libertação, acede realmente à imortalidade consciente e se torna um Deus, em relação ao seu antigo estado humano.

Tendo este estado, é quase deslocado falar de organizações, ou de Sociedades, criações humanas, os termos de Regra, de Ordem no sentido sacerdotal do termo (2) serão mais adequados.

A relação entre o instrutor e o aluno, ou o discípulo (aquele que aplica a Disciplina), constitui a base destas Sociedades muito fechadas, cujos nomes são raramente pronunciados, e permanecem desconhecidos, mesmo dos historiadores do Esoterismo. Em certos casos, menos raros que podemos pensar, as Regras, Veículos das Vias Secretas, são preservadas nas tradições familiares, freqüentemente famílias aristocratas ou religiosas, mas não necessariamente e cada vez menos. A família concebida como Escola iniciática é de fato um conceito muito tradicional.

Assim o mestre indiano Krishnamacharya, depositário de uma filiação Pitagórica indiana, desenvolveu todo um ensinamento visando fazer da família uma Escola esotérica. Na Itália, famílias aristocráticas de Veneza ou de Florença seriam depositárias de um Segredo iniciático. Villiers de l’Isle Adam fala explicitamente deste assunto em seu romance Clef Isis (Chave de Ísis).

Hoje mesmo, é somente nos círculos restritos das famílias, às vezes alargados a alguns amigos próximos, que, por razões técnicas, certas operações secretas podem ser praticadas (Via d’Erim, Via de Afrodite Vermelha, Via Shivaísta do Deus Azul, Tradição Rosa+Cruz Lascari, por exemplo) exatamente como no passado ou Antigüidade era o caso das famílias de Kham ou das famílias faraônicas.


Tipologia estrutural das Sociedades Secretas

Os três tipos de SS correspondem normalmente a três tipos de estruturas.

Estruturas externas, facilmente acessíveis, fazendo freqüentemente propaganda nas ruas, tornam-se às vezes uma Potência financeira admirável.

Estruturas semi-internas, chamadas às vezes também de Sociedades de quadros, muito discretas, mas não menos presentes, conhecidas de especialistas.

Estruturas internas, inacessíveis, muito flexíveis, por serem Organismos vivos antes de organizações.

As relações entre estas estruturas são ricas, com modelos variados e às vezes contraditórios, e foram brilhantemente expostas em um estudo publicado na obra de Michel Monereau, Magie et Sociétés Secrètes, estudo o qual reportamos o leitor.


As oscilações do cenário Maçônico e Ocultista

Existe, e constatamos, uma articulação natural entre as funções exotérica (ou exo-esotérica), mesotérica e esotérica. Esta articulação não se manifesta nulamente sobre o cenário Tradicional, Maçônico e Ocultista, nas relações entre as SS de tipo 1, 2 ou 3.

Uma das tentações das Sociedades exotéricas, que naturalmente recrutam largamente, em uma lógica quantitativa, reside na sua pretensão para assumir a função Iniciática. Ora, há uma contradição aguda entre o Iniciático e o hedonismo pessoal pregado por estas Sociedades, e entre o número de seus aderentes e as exigências do procedimento Iniciático.

A conquista da felicidade situa-se nas antípodas da Questão Iniciática. Seria perigoso para o pesquisador acreditar que as SS deste tipo oferecem as Vias de Libertação. Úteis, como vimos, por sua característica terapêutica, transformam-se na via do adormecimento a partir do momento que pretendem uma função para qual não estão habilitadas a desempenharem.

Mais ainda, ao tomar emprestados abusivamente os nomes das Ordens Iniciáticas semi-internas e internas, obrigaram estas últimas a ocultarem-se cada vez mais, escapando às vezes por pouco do desaparecimento. Esta é a razão, de todos estes desvios, que cada um pode seguramente reconhecer, das constantes denúncias feitas por personagens tão diversas quanto Émile Dantinne, Jean Mallinger (que combateu a A.M.O.R.C.), Giuliano Kremmerz, Louis Cattiaux e outros autores Hermetistas de valor.

A articulação natural entre as funções requer que as Sociedades do tipo 1, exotéricas e externas, venham a confiar seus elementos mais promissores às Sociedades do tipo 2. Aqueles que atravessarem as dificuldades inerentes à uma autêntica preparação poderão então abordar as Vias Reais sob a condução de instrutores qualificados em uma Sociedade do tipo 3.

Este esquema ideal parece raramente ter funcionado, malgrado os esforços reiterados das Ordens Iniciáticas, de características verdadeiramente esotérica, para suscitar a emergência de organizações sérias, assumindo conscientemente o trabalho pré-Iniciático.

A articulação entre as funções somente aplica-se mais ordinariamente hoje aos incondicionais que, remexendo estruturas e idéias recebidas, adotam a atitude heróica (3), e forçam a natureza a lhes abrir as Chaves da Via, pois nenhum humano, nenhuma Sociedade, parece poder ajudá-los. Mas poderia ser de outra forma no Kali-Yuga?


O caso da Franco-Maçonaria

A Franco-Maçonaria oferece múltiplos casos de figuras, diferentes umas das outras. Em primeiro lugar, as Obediências Maçônicas constituem freqüentemente as organizações externas mais estáveis e as mais úteis. Ignorando constantemente a existência e a função das Ordens mais internas e de características mais Hermetistas, não sendo mais que suas antecâmaras.

No seio da Franco-Maçonaria, os Ritos Egípcios possuem um lugar à parte. Durante longo tempo, os Ritos Egípcios funcionaram exclusivamente como sistema de altos graus. Hoje, a Ordem de Memphis-Mizraïm, tornou-se uma grande Obediência Maçônica, como o Grande Santuário Adriático do Rito de Mizraïm e Memphis, que continua bem confidencial, embora abrindo Lojas Azuis.

As Ordens semi-internas, como a Ordem Martinista, a O::H::T::M:: (Ordem Hermetista Tetramagista e Mágica ou Ordem Pitagórica), e algumas outras, foram consideradas, às vezes concebidas, como devendo aperfeiçoar a Franco-Maçonaria, ou ao menos absorver os melhores elementos a fim de dirigi-los para às estruturas mais internas, suscetíveis de qualificá-los para às Altas Ciências.

Em todo caso, A Franco-Maçonaria constitui ainda uma Escola preparatória para as Correntes mais Herméticas, tanto na Europa continental quanto nos países anglo-saxões (a S.R.I.A., Sociedade Rosacruciana in Anglia recruta, por exemplo, na Maçonaria) ou na América do Sul (caso das organizações da ex-F.U.D.O.F.S.I., sempre presente no continente sul-americano).

Entretanto, se o desprezo pela Franco-Maçonaria demonstrado por personagens como Jean Mallinger é ainda partilhado por alguns, a maioria dos membros dos Colégios semi-internos e internos conservaram um profundo respeito pela Maçonaria, inclusive pelos graus Azuis (4).

Muitos acreditam que ao manifestarem todo o valor simbólico e operativo de cada grau, a Franco-Maçonaria constitui-se somente em “uma simples escola primária de iniciação”. Alhures, muito discreto e pouco conhecido, as Lojas, Capítulos e outros Aéropagos reunindo estudiosos sinceros e especialistas do Hermetismo são menos raros que a crença geral, e isto na maior parte dos Ritos, na maior parte das Obediências, e freqüentemente, onde menos os esperamos.

O Rito Escocês Retificado é igualmente um Rito particular, funcionando às vezes como uma Ordem semi-interna conduzindo à uma operatividade secreta (a da Ordem dos Elus-Cohen). Assim já vimos certas Lojas do R.E.R. recrutarem nas Ordens Martinistas.

Na quase totalidade das Ordens semi-interna, o Mestrado Maçônico é exigido, o que demonstra a importância desta para a compreensão dos diversos Corpus que propõem estas organizações.


Algumas experiências bem sucedidas

Existem ainda alguns exemplos de colaborações com êxito entre as organizações externas, semi-internas e internas. O caso mais conhecido é do sistema colocado em prática por Robert Ambelain, e largamente desenvolvido por Gérard Kloppel, seu sucessor.

A Ordem de Memphis-Mizraïm tornou-se hoje uma organização Maçônica importante, membro do C.L.I.P.S.A.S., onde certos membros podem ser convidados a participar da Ordem Martinista Iniciática.

Encontramos também no sistema de Ambelain, uma Ordem dos Elus-Cohen, e uma estrutura terminal reunindo várias filiações, incluindo a da Rosa+Cruz do Oriente. O conjunto continua funcionando bem graças a uma forte centralização, e esta, malgrado os problemas inerentes à estrutura Maçônica, é muito importante para manter-se como um componente estritamente Tradicional, outras “entradas” são constatadas.

Assinalamos que a Tradição Ambelain é manifestada igualmente por outros Colégios internos que reúnem um conjunto de afiliações, Reais ou de Desejos, mas desenvolvidas segundo uma concepção diferente e muita reservada, às vezes como complemento a outras filiações Hermetistas.

A Sociedade Rosacruciana in Anglia constitui a SS da Grande Loja Unida da Inglaterra. Na França, é naturalmente na G.N.L.F. que esta Sociedade rosacruciana recruta. Parece, entretanto, que existem algumas exceções, os membros da S.R.I.A. se desinteressam atualmente do Hermetismo.

Um dos casos mais interessantes reside na tentativa feita no início do século passado por certos adeptos da Ordem de Osíris. A Ordem de Osíris recrutaria habitualmente entre os membros dos Arcana Arcanorum Maçônicos, isto é, nos quatros últimos graus do Rito Maçônico Oriental de Mizraïm ou do Egito, escala de Nápoles.

Como este sistema não era sempre satisfatório, Giuliano Kremmerz (1868-1930) criou a Fraternidade Templária e Mágica de Myriam. A F+T+M+M foi uma formidável organização preparatória às operatividades Osírianas, mesmo que certas personalidades eminentes desta Corrente como o Príncipe Caetani, e o próprio Kremmerz no fim de suas vidas, tenham considerado a criação da F+T+M+M como um erro. A F+T+M+M bem como a Ordem de Osíris, ainda possui, atualmente, sobreviventes.


Os Arcana Arcanorum

Os Arcana Arcanorum, dos quais fizeram correr muita tinta, péssimas a propósito, nestes últimos anos, criando assim um mito bastante inútil, constituem os graus terminais de várias Ordens semi-internas, ou ainda as práticas “terminais” de vários sistemas Tradicionais. É necessário distinguir o sistema dos irmãos Bédarride, baseado na Cabala e na Regra de Nápoles que constituem o verdadeiro sistema dos A::A::.

Os A::A:: estão presentes na O::H::T::M::, e nas Ordens ou Colégios Hermetistas. Os A::A:: são definidos por Jean Pierre Giudicelli de Cressac Bachelerie, em seu livro De la Rose Rouge à la Croix d’Or, Ed. Axis Mundi (Paris-1988), na pág. 67: “Este ensinamento concerne em uma Teurgia, i. e., a entrada em relação com os éons-guias que devem tomar a direção para fazer compreender um processo, mas também uma Via Alquímica muito fechada que é um Nei Tan, isto é, uma Via interna”.

Os A::A:: Maçônicos parecem ser em realidade, mais que os graus terminais da Maçonaria Egípcia, a introdução a um outro sistema. De fato, não encontramos atualmente nenhum responsável por organizações tradicionais Maçônicas e outras detendo a totalidade do Sistema, a maioria ignora mesmo o conteúdo real dos A::A::.

Os A::A:: constituem de fato uma qualificação para outras Ordens mais internas ligadas às Correntes Osíriana ou Pitagórica ou ainda à Correntes dos antigos Rosa+Cruzes, como a Ordem dos Rosa+Cruzes de Ouro do antigo Sistema, a Ordem dos Irmãos Iniciados, e outras, que permanecem desconhecidas, escapando assim à pesquisa histórica e sobretudo aos problemas humanos. J. P. G. de Cressac Bachelerie, faz referência a Brunelli, em seu livro já citado, na pág. 79, que os A::A:: constituem de fato a introdução para outras Ordens: “Como indicou G. M. Brunelli em seus formidáveis trabalhos sobre os Ritos de Mizraïm e Memphis, outras Ordens sucedem aos A::A::”.

Saindo dos aspectos Maçônicos, descobrimos quatro ou cinco outras Ordens (Grande Ordem Egípcia, Ritos Egípcios, assim como outras três que não podemos mencionar). Cada vez mais certas organizações Tradicionais não utilizam o nome A::A::, detendo a totalidade ou parte do conjunto Teúrgico dos A::A::, caso por exemplo, da Ordo Aurum Solis que constitui uma emanação da Escola de Florença e não têm nenhum laço, contrariando a afirmação de alguns, com a Corrente anglo-saxônica da Golden Dawn.

Os Sistemas completos dos A::A::, cuja Maçonaria Egípcia não detêm que uma parte, comporta de fato três disciplinas.

Teurgia e Cabala Angélica: com notadamente as Invocações dos 4, dos 7, e a grande Operação dos 72.

Alquimias metálicas: entre diferentes Vias, os documentos em nossa posse parecem dar prioridade à Via do Antimônio, mas outras Vias, notadamente a Via da Salamandra parece constituir um elemento central do Sistema, porque dependente, por sua vez, da Via externa e da Via interna.

Alquimias internas: segundo as Correntes internas, as Vias práticas diferem menos tecnicamente que pelos detalhes filosóficos e míticos respectivos, às vezes totalmente opostos. As Alquimias internas, como alhures as Alquimias metálicas, encontram sua origem no Oriente e, mais particularmente, segundo Alain Daniélou, no Shivaísmo. Independente de onde sejam, já fazem parte da herança Tradicional ocidental pelo menos há dois milênios, como atesta certos papiros egípcios.

Naturalmente, é neste último aspecto das Alquimias internas que encontramos os aspectos mais especificamente Osírianos dos A::A::. É provável que na Idade Média e na Renascença, este Sistema fosse exclusivamente Caldeu-Egípcio, e seria pouco a pouco, e principalmente em seus aspectos Mágicos e Teúrgicos, que o Sistema teria sofrido em certas estruturas Tradicionais uma “cristianização” ou uma “hebraização”. Encontramos às vezes com relação a isto a expressão “cristianismo caldeu”.

Em conclusão a esta introdução, instigação à Viagem pelo Mundo Secreto, convém lembrar a característica heróica da Queste, atestada por todas as sagas. Todas as Tradições descreveram as Vias Reais por metáforas guerreiras. Isto não é somente uma figura de estilo, é a indicação precisa das qualidades requeridas para partir ao assalto da Cidadela do Ser. O conhecimento é Ciência e Arte; Ciência, porque cada frase é verificável experimentalmente, Arte porque o Adepto é um criador, não um simples ator deste mundo, mas realmente seu criador e seu ordenador.


Notas

(1) Referencia à obra de Giordano Bruno, e à Eros et Magie à La Renaissance de Couliano;

(2) Mantêm-se no ocidente alguns círculos muitos fechados de organizações Tradicionais, de Espertos, de depositários das Vias Internas, pertencentes às Correntes Maçônicas Egípcias, Rosacruzes (antigas filiações R+C), Martinistas, Gnósticos, Pitagóricos, Hermetistas; as mais representativas da Tradição. Trabalham notadamente na manutenção das Regras Tradicionais, na primazia do Iniciático sobre o profano, no próprio seio das SS, quer sejam de características exotérica, mesotérica ou esotérica, recusando todos os compromissos com os quais nosso século de facilidade cedeu lugar;

(3) Ler La voie magique du héros de Cesare de la Riviera, Ed. Arche, Milano;

(4) Trata-se dos três primeiros graus simbólicos (Aprendiz, Companheiro e Mestre) da Maçonaria. – Nota do Tradutor.


Bibliografia

Bibliografia sucinta para aprofundamento da filosofia do Ocultismo e do Hermetismo, e da história e a especificidade das SS presentes ou ativas no curso do século XX:

AMADOU, Robert: L’occultisme, esquisse d’un monde vivant, Ed. Chanteloup, Paris, 1987;

BACHELERIE, J. P. G. de Cressac: De la Rose Rouge à la Croix d’Or, Ed. Axis Mundi, Paris, 1988;

BARRUCAND, Pierre: Les Sociétés Secrètes, entretiens avec Robert Amadou, Ed. Pierre Horay, 1978;

CAILLET, Serge: Sâr Hiéronymus et La F.U.D.O.S.I., 1986, Cariscript, Paris;

INTROVIGNE, Massimo: Il cappello del mago, Sugarco Ed., 1990;

KREMMERZ, Giuliano: Introduction à la science hermétique, Ed. Axis Mundi, Paris, 1986.

Monday, December 19, 2005

Rosacrucianismo – Obras recomendadas para estudo e investigação das idéias, convicções e práticas da Fraternidade

O Movimento Rosacruciano recebeu seu impulso inicial a partir da publicação de três textos bem conhecidos, os Manifestos da Fama Fraternitatis e o Confessio Fraternitatis em 1614 e 1615 respectivamente, seguido pelo Casamento Alquímico em 1616. Aqueles que desejam penetrar o mistério dos Rosacruzes inevitavelmente devem retornar a estes documentos para tentar perceber um pouco as idéias da Fraternidade, suas convicções e suas práticas. Existem, porém, outros textos do período que igualmente tem contribuído para a compreensão do movimento. Entretanto muitos destes têm sido quase completamente negligenciados.

A seguir, algumas obras recomendadas para estudo e investigação das idéias, convicções e práticas da Fraternidade.



1 – A SUBTLE ALLEGORY - Michael Maier;

2 – ALLEGORY OF THE MOUNTAIN - Thomas Vaughan;

3 – ARA FOEDERIS THERAPHICI - Raphael Eglinus;

4 – ATALANTA FUGIENS – The Flying Atalanta or Philosophical Emblems of the Secrets of Nature, 1617 - Michael Maier;

5 – AULA LUCIS OR THE HOUSE OF LIGHT - Thomas Vaughan;

6 – CARTA FILOSÓFICA DE MIGUEL SENDIVOGIUS - Michael Sendivogius;

7 – MOSAICAL PHILOSOPHY – CHAPTER 1-2-3 - Robert Fludd;

8 – LETTERS OF MICHAEL SENDIVOGIUS TO THE ROSEYCRUSIAN SOCIETY FOUND IN AN OLD MANUSCRIPT BY EBENEZER SIBLY M. D. 1791;

9 – LUMEN DE LUMINE - Thomas Vaughan;

10 – A SHORT, EASY AND COMPREHENSIVE METHOD OF PRAYER - Johannes Kelpius;

11 – THE NEW CHEMICAL LIGHT - Michael Sendivogius;

12 – THE AURORA OF THE PHILOSOPHERS - Paracelso;

13 – ROSICRUCIAN APHORISMS AND PROCESS - Sigismund Backstrom;

14 – ENIGMA OF THE SAGES - Michael Sendivogius;

15 – SPECULUM SOPHICUM RHODOSTAUROTICUM - Daniel Mogling;

16 – CONSIDERATIO BREVIS - Philip à Gabella;

17 – THE HIEROGLYPHICAL SEAL - Michael Sendivogius;

18 – THE PARABOLA OF MADATHANUS - Henricus Madathanus;

19 – ROSIE CRUCIAN PRAYER TO GOD - John Heydon;

20 – THEMIS AUREA – The Laws of the Fraternity of the Rosie Crosse - Michael Maier;

21 – COELUM TERRAE - Thomas Vaughan;

22 – TWO PRAYERS FOR ALCHEMISTS - Karl von Eckartshausen (1752-1803);

23 – VAUGHAN'S PREFACE TO THE ROSICRUCIAN MANIFESTOS - Thomas Vaughan;

24 – MONAS HIEROGLYPHICA - John Dee;

25 – OPUS MAGO-CABALISTICUM ET THEOSOPHICUM (1735) - Georg von Welling;

26 – FAMA FRATERNITATIS (1614);

27 – CONFESSIO FRATERNITATIS (1615);

28 – CASAMENTO ALQUÍMICO DE CHRISTIAN ROSENKREUTZ (1616);

29 – SÍMBOLOS SECRETOS DOS ROSACRUZES DOS SÉCULOS XVI E XVII (1785);

30 – AMPHITHEATRUM SAPIENTIAE AETERNAE (1609) - Heinrich Khunrath;

31 – 52 ARTIGOS PUBLICADOS POR SINCERUS RENATUS - Sigmund Richter;

32 – CÓPIA DA ADMISSÃO DO DR. BACKSTROM NA SOCIEDADE ROSA+CRUZ PELO CONDE DE CHAZAL NAS ILHAS MAURÍCIO, 12 DE SETEMBRO DE 1794;

33 – A NUVEM SOBRE O SANTUÁRIO - Karl von Eckartshausen;

34 – A NOVA ATLÂNTIDA - Francis Bacon.

Algumas possíveis referências para todo o Blog


A.M.O.R.C., Biblioteca Rosacruz. Manual Rosacruz;

A.M.O.R.C., Biblioteca Rosacruz. Perguntas e Respostas Rosacruzes, Harvey Spencer Lewis;

AMADOU, Robert. Documentos Martinistas. 1979, Edi-Repro;

AMBELAIN, Robert. O Martinismo - História e Doutrina. 1946, Edições Niclaus;

ANES, José Manuel. Introdução aos Ritos e Rituais Herméticos e Alquímicos do século XVIII;

BAYARD, Jean-Pierre. De Rozenkruisers. Historie, Traditie en Rituelen. 1998, Tirion - Baarn - Nederland;

BERTHOLET, Edouard. La Pensée et le Secrets du Sâr Péladan;

BIBLIOTHECA PHILOSOPHICA HERMETICA, Amsterdã;

BOGAARD, Milko. Geschiedenis van de occulte en mystieke broederschappen;

CAILLET, Serge. Sâr Hiéronymus et La F.U.D.O.S.I., 1986, Cariscript - Paris;

DANTINNE, Émile. L’Oevre et La Pensée de Péladan. 1948, S. C. - Bruxelles, F.U.D.O.S.I.;

KOENIG, Peter R.. Das O.T.O. Phaenomen;

L’INITIATION, Revista;

McINTOSH, Christopher. A Rosa e a Cruz. A História, Mitologia e Rituais, 1997;

MONEREAU, Michel. Les Secrets Hermétiques de la Franc-Maçonnerie et les rites de Misraim et Menphis, Paris, Ed. Axis Mundi, 1989;

PALOU, Jean. A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática, Ed. Pensamento;

PRINKE, Rafal T.. Michael Sendivogius and Christian Rosenkreutz;

PRINKE, Rafal T.. The Jagged Sword and Polish Rosicrucians;

REDOLAR, Clemente. Las Mentiras de los Rosacruz A.M.O.R.C.;

ROGGEMANS, Marcel. Geschiedenis van de occulte en mystieke broederschappen;

SABAH, Lucien. Une police politique de Vichy: le service des Sociétés Secrètes. 1996, Ed. Klincksieck - Paris;

VANLOO, Robert. Entrevista ao site France Spiritualités;

VANLOO, Robert. Les Rose-Croix du Nouveau Monde. 1996, Claire Vigne - Paris;

WITTEMANS, Franz. Geschiedenis der Rozenkruisers. 1924, Uitgeverij W. N. Schors - Amsterdã.

Sunday, December 18, 2005

Rosacrucianismo Histórico – Temas para estudos


Para alguns, é difícil a percepção de ganhos não especulativos quando se está lidando com o estudo das Sociedades Secretas como a dos Rosacruzes. Observa-se que, a maior parte dos pesquisadores se reúne para encontrar algo que não é especulativo, e acredita-se que com todos os fragmentos de fatos históricos que os historiadores da Rosa+Cruz sabem juntos, poderiam ser capazes de resolver um par de problemas históricos e filosóficos, e pôr pedaços no quebra-cabeça muito mais pela lógica do método histórico do que por especulações esotéricas.

É nesta esfera que se tenta abordar a R+C desde o início do século XVII com os seguintes temas para estudos:



Tema 1 – A Política Hermética dos Rosacruzes

Em seu livro l'Utopie des Rose-Croix, Dervy, 2001, Robert Vanloo discute a aliança protestante entre a França, Inglaterra, os Estados alemães protestantes e a Dinamarca nos anos 1580 como fixando o tom político para a mensagem do Rosacrucianismo, descrita na obra Naometria de Simon Studion, impresso em 1604 (data simbólica da abertura do túmulo de C.R.C.). Ele também enfatiza o jubileu da prisão do reformador religioso Johann Hus em 1414 e sua morte na fogueira em 1415 como sinalizado e comemorado pelos Manifestos Rosacruzes em 1614 e 1615. (Esse assunto foi discutido na Rosencreutz als Europäische Phänomen conference, em 1994). A partir de então, passou-se a valorizar o estudo das heráldicas das casas reais, descobrindo nos Manifestos Fama e Confessio, as relações entre os selos das Monarquias (Leão, Inglaterra e Frederico V, Flor de Lys, França. Unicórnio, simbolizava a pureza evangélica do movimento protestante – União Evangélica, Confoederatio Militiae Evangelicae). O livro de Vanloo deste modo justifica a interpretação de Frances Yates.


Tema 2 – A Rainha Cristina e os poetas italianos da Rosa+Cruz de Ouro

Em seu livro A Rosa+Cruz sobre o Báltico: A expansão do Rosacrucianismo na Europa Ocidental, Susanna Akermann discute a relação da Rainha Cristina da Suécia com os Irmãos da Rosa+Cruz de Ouro. O círculo era constituído por membros da Rosa+Cruz de Ouro, que envolvia além do Marquês Massimiliano de Palombara, a própria Rainha Cristina que havia renunciado ao Trono da Suécia, e alguns poetas italianos. O Marquês mandou construir um monumento alquímico conhecido na Itália como A Porta Hermética. O principal signo da Porta localizado na parte superior faz parte do frontispício da obra do Rosacruciano Henricus Madathanus, Aureum Seculum Redivivum publicado a primeira vez em 1621, e posteriormente em 1785 foi inserido na coletânea de trabalhos herméticos conhecidos como Símbolos Secretos dos Rosacruzes dos Séculos XVI e XVII, reunidos e emitidos do Círculo Maçônico Gold und Rosenkreuz (uma mutação posterior da Rosa+Cruz de Ouro, provavelmente a partir das reformas de Hermann Fictuld em 1777).


Tema 3 – Christian Rosenkreutz e os Rosacruzes - As dimensões míticas

Bernard Gorceix, no prefácio que escreveu para o livro La Bible des Rose-Croix (PUF, 1970), chamara a atenção para o fato do tema do túmulo misterioso, contendo um corpo morto e um tesouro precioso ser relativamente freqüente na literatura da Idade Média e na literatura alquímica: cita o exemplo da Tabula Chemica, de Ibn Umail, uma obra bem conhecida do século XVIII, em que se conta a visita à uma casa subterrânea cujas paredes estão cobertas de frescos e onde um ancião defunto aperta nas mãos um livro ilustrado. Gorceix cita ainda a lenda que circulava no tempo de Johann Valentin Andreae, segundo a qual teriam descoberto debaixo do grande altar de uma Igreja de Erfurt, as obras de Basílio Valentin. O estudo do tema abarcaria as dimensões míticas de Christian Rosenkreutz. Afinal de contas, segundo Susanna Akermann, é a partir da narrativa mítica da vida de C.R.C. contada no Fama que poderemos falar num Rosacrucianismo Histórico. Christian Rosenkreutz é o pai epônimo da Rosa+Cruz, é a partir de sua lenda que o Movimento é nomeado e divulgado.


Tema 4 – Milenarismo e Rosacrucianismo - A Reforma Universal e Geral do mundo inteiro

O Milenarismo que espera de um reino deste mundo, reino que seria uma espécie de paraíso terrestre reencontrado, está, por definição mesma, estreitamente ligado à noção da Idade de Ouro desaparecida. Os Rosacruzes do século XVII viveram a nostalgia do paraíso perdido, muito detectável nas utopias reformistas dos Manifestos, da Cidade do Sol de Tommaso Campanella, na obra Christianopolis de J. V. Andreae e na inacabada obra de Francis Bacon, A Nova Atlântida. O Milenarismo apresenta-se na maioria das vezes como um retorno a um modelo de princípio e um aperfeiçoamento da matriz. Como todas as pretensas “restaurações”, os “paraísos reencontrados” são “paraísos perdidos”. No contexto dos Manifestos, o Rosacrucianismo apresentou-se em muitos momentos como uma reação de pessoas ansiosas por desfrutarem uma nova realidade social. O retorno de Elias Artista, a Aureum Seculum Redivivum de Madathanus, as visões de Sendivogius sobre a quinta monarquia, a influência das idéias de Joachim de Fiore, fazem parte da conjuntura da época e permitem o estudo do Fenômeno em sua temporalidade histórica.


Tema 5 – A Expansão Geográfica do Rosacrucianismo nos Séculos XVII e XVIII

Conforme ainda teremos ocasião de ver, as viagens permanentes faziam parte do cotidiano dos irmãos da Rosa+Cruz e teriam contribuído de certa forma e à sua maneira para a expansão do Colégio Invisível pelo globo. Podemos citar as viagens de John Dee pelo continente antes do fim do século XVI, centros da Fraternidade na Inglaterra, na Alemanha podemos citar Halle, Hannover, Hague, Tübingen, Kassel; em França temos Paris; na Polônia temos Gdansk (Dantzig) e Cracóvia, a Boêmia; na Itália temos o Marquês Massimiliano de Palombara em Roma; sobre o Báltico, na Suécia, a Rainha Cristina e seu Círculo; na Rússia encontramos o Fama numa edição de 1794, além das tentativas de Quirinus Kuhlmann - antes ainda do final do século XVII - de levar à Rússia os ideais da Fraternidade, e as ligações de Novikov com a Rosa+Cruz de Ouro russa já no século XVIII; na América do Norte, Johannes Kelpius estabelece-se na Pensilvânia, vinha da tradição de Boehme e pode ter tido alguma ligação real com a Fraternidade; nas Ilhas Maurício, o Dr. Sigismund Backstrom é iniciado na Fraternidade; Cagliostro havia estabelecido laços com rosacruzes na Ilha de Malta.


Tema 6 – Rosacrucianismo, Cristianismo e Hermetismo

De acordo com a doutrina reunida no Geheime Figuren (Os Símbolos Secretos dos Rosacruzes dos Séculos XVI e XVII), e a evidência exposta nas publicações da Fraternidade durante os séculos XVII e XVIII, percebe-se que a Venerável Fraternidade Rosa+Cruz dos Adeptos procurava levar o estudioso por vias enigmáticas à uma Iniciação progressiva nos mistérios inefáveis de Deus, do Homem e do Universo, combinando ASTROLOGIA, SANTA CABALA, ALQUIMIA, TRÊS PRINCÍPIOS DE JACOB BOEHME, MISTÉRIO DA CRIAÇÃO DO GÊNESE, CARRO DE EZEQUIEL, FILOSOFIA DO LOGOS E AS VISÕES APOCALÍPTICAS DE SÃO JOÃO. Estes tópicos faziam parte da Fraternidade Crística da Rosa+Cruz como mostra o frontispício da obra Geheime Figuren em todo seu engajamento Iniciático e essencialmente Cristão, de modo que os rosacruzes tinham na doutrina Cristã o fundamentum da doutrina hermética refletidos em axiomas da Fraternidade tais como: Jesus Mihi Omnia (Jesus é tudo para mim) ou Ex Deo nascimur, In Jesu morimur, Per Spiritum Sanctum reviviscimus (Em Deus nascemos, em Jesus morremos e pelo Espírito Santo renascemos).


Tema 7 – J. V. Andreae e a Sociedade Frutuosa

É fato comum para a maioria dos historiadores que J. V. Andreae escrevera o Casamento Alquímico e sabemos que ele estava envolvido na Fruchtbringende Gesellschaft (Sociedade Frutuosa) que havia sido fundada pelo Príncipe Ludwig von Anhalt. Resta saber qualquer coisa desta Sociedade, qual era a base para sua existência e que pensamentos estavam por detrás desta organização.


Tema 8 – Raízes Inglesas do Rosacrucianismo

Ron Heisler em um artigo do Hermetic Journal, The Forgotten English Roots of Rosicrucianism, comenta sobre as ligações de Michael Maier com o Círculo de amigos de Shakespeare, por outro lado, é sabido através de Frances Yates, que os atores ingleses tiveram grande influência sobre J. V. Andreae, além de estarem presentes nas bodas de Frederico V do Palatinado com a filha de Jaime I.


Tema 9 – Personagens

John Dee, Rudolph II, Michael Sendivogius, Robert Fludd versus Padre Marin Mersenne, Isaac Casaubon, etc...

Saturday, December 17, 2005

Émile Dantinne por Milko Bogaard

Nasceu na cidade de Huy, Bélgica, no dia 19 de abril de 1884. Em sua juventude girou o mundo inteiro e foi um estudante excelente e aplicado com um grande talento para línguas: aprendeu Italiano, Português, Grego, Latim e Russo. Em 1909 estudou Hebraico e Árabe na Universidade de Liège (Luik), na Bélgica. Em 1913 Dantinne encontra-se com C. Virollaud, diretor da Babylionaca, em Paris e começa a estudar as Tabuletas Sumerianas, desta maneira, se transforma também num perito na língua Assíria antiga.

Em 1904 Dantinne encontra-se com Joséphin Péladan quando este (Péladan) dava uma conferência no hotel Ravenstein em Bruxelas. O hotel Ravenstein era um lugar de reunião para os membros da Ordem da Rosa+Cruz Católica e Estética do Templo e do Graal de Péladan, fundada originalmente em 1891 por Joséphin Péladan depois que ele deixou a Ordem Cabalística da Rosa+Cruz. Depois que Péladan fundou sua nova Ordem, organizou os famosos Salões da Rosa+Cruz em Paris aonde chegou a reunir 170 artistas famosos que colaboraram nas exibições de arte. Na terceira exibição do Salão, realizada em Bruxelas em 1894, uma filial da Ordem de Péladan foi estabelecida na Bélgica. A filial belga foi dirigida pelo famoso pintor Simbolista Jean Delville.

Após a primeira reunião com Péladan em 1904, Dantinne transformou-se em um visitante regular da filial de Péladan, no hotel de Ravenstein em Bruxelas. A filosofia da Rosa+Cruz floresceu então na Bélgica.

Bruxelas transformou-se na sede das Ordens e das sociedades esotéricas européias. Em 1918 Joséphin Péladan morreu. Sua morte foi causada por ingestão de comida envenenada. A Ordem da Rosa+Cruz Católica foi então reorganizada por seus discípulos. A Ordem dividiu-se em diversas filiais. Gary de Lacroze continuou a Ordem original da Rosa+Cruz Católica na França, com o pintor Jaques Brasilier. Brasilier era o editor de um jornal periódico chamado Les Feuillets de la Rosace, renomeado mais tarde para Feuillets des Dunes, organe de la Rosace, que se tornou um órgão da Ordem Rosa+Cruz.

Na Bélgica a Ordem foi reorganizada por Émile Dantinne sob o nome de Rosa+Cruz Universal com a ajuda de Du Chastain.

Depois da morte de Péladan ele tornou-se o Sâr Hiéronymus que reascendeu a tocha da Ordem e restaurou a tradição antiga da Rosa+Cruz Real (como citado na obra: O Louvre e o pensamento de Péladan, escrito por Émile Dantinne em 1952). Sâr Hiéronymus é, como mencionado antes, o Nome Místico de Émile Dantinne.

O título: SÂR foi usado na Ordem original da Rosa+Cruz Católica. Este título foi revelado somente aos iniciados dos graus mais elevados da Ordem. O significado do título SÂR é: Filho de Rá (Sa = filho, R = Rá). O SÂR foi usado também entre os reis antigos da Assíria. Uma explanação mais plausível pode ser encontrada nas cartas que Joséphin Péladan (SÂR MÉRODACK) escreveu a seus amigos. Um exemplo pode ser visto na obra A Via Suprema (primeira novela de Péladan), em que encontramos uma carta endereçada a um determinado príncipe de Courtenay. Se fizermos um exame detalhado das palavras de abertura, lemos:

S.A.R. MONSEIGNEUR LE PRINCE de COURTENAY. Na abreviatura, está escrito: para a SON ALTESSE ROYALE (VOSSA ALTEZA REAL). O Nome Místico SÂR foi copiado, possivelmente, por SÂR HIÉRONYMUS e mais tarde usado junto aos Dignitários da F.U.D.O.S.I..

Em 1923 Dantinne reorganizou a Ordem da R+C (ORDO AUREAE & ROSAE CRUCIS - OARC) em 3 Ordens separadas. A Ordem da Rosa+Cruz Universitária foi organizada em 9 graus. A Ordem da Rosa+Cruz Universal, sob a liderança do Imperator François Soetewey (SÂR SUCCUS) foi, do mesmo modo, dividida em 9 graus. Ambas as Ordens serviram à mesma causa, a não ser pelo detalhe de que a Ordem da Rosa+Cruz Universitária admitia somente os membros universitários e que tivessem sido treinados em Ciências Ocultas. Finalmente havia a ORDRE de la ROSE+CROIX INTERIEURE, sob a liderança do Imperator Jules Rochat de Abbaye (SÂR APOLLONIUS), dividida em 4 graus. A Ordem da R+C foi dividida conseqüentemente em um total de 13 graus, um deles, o último (13º), seria o grau de Imperator.

Em 31 de Dezembro de 1925 Dantinne fundou um CENTRO R+C em Bruxelas (Bélgica) sob a liderança de François Soetewey com Jean Mallinger como auxiliar na secretaria e na administração. Em 1927 Dantinne fundou a ORDRE HERMETISTE TETRAMEGISTE et MYSTIQUE. A Ordem era uma reconstrução da Ordem de Pitágoras. A Ordem foi conduzida por Dantinne (Sâr Hiéronymus), François Soetewey (Sâr Succus) e Jean Mallinger (Sâr Elgrim), líder da filial belga do Rito Memphis-Mizraim.

Dantinne trabalhou como bibliotecário para a cidade belga de Huy. Sabemos que Dantinne atendeu e auxiliou enormemente a diversas universidades em toda sua vida. Publicou artigos numerosos no famoso jornal suíço INCONNU, editado pelo rosacruciano Pierre Gillard, primo de Edouard Bertholet (SÂR ALKMAION) - líder da Rosa+Cruz do Oriente e da Ordem Martinista & Sinárquica (sucessor de Blanchard). Gillard era um membro da Grande Loja suíça da A.M.O.R.C..

Dantinne foi também o fundador da Commision de Recherches Scientifiques sur l'Occultisme (C.R.S.O.), estabelecido em Huy, Bélgica. Fundou também o Institut scientifiques sur l'occultisme e a Societe Metaphysique em Bruxelas. O governo e o rei da Bélgica recompensaram Dantinne diversas vezes por suas contribuições à instrução e à cultura. Em 1962 Dantinne foi admitido em De Leopoldsorde (um dos títulos honoráveis mais elevados do Estado da Bélgica). Seria uma redundância dizer que Émile Dantinne foi um escritor realizado. Durante sua vida publicou algo em torno de 30 títulos a respeito de tópicos tais como línguas estrangeiras, história local, metafísica, Ocultismo, etc.. Émile Dantinne morreu em Huy no dia 21 de Maio de 1969, com a idade de 85 anos.

Golden Dawn por Bruno Bertolucci


A Hermetic Order of the Golden Dawn, ou Ordem Hermética da Aurora Dourada, foi sem dúvida, uma escola esotérica de grande importância em sua época e foi decisiva para o surgimento de muitas outras seitas, Ordens e cultos.

Foi uma Ordem com influência maçônica e da S.R.I.A., uma Ordem supostamente rosacruz. O molde hierárquico, assim como os cargos, foram retirados dessas duas sociedades muito famosas nessa época. Porém, a Golden Dawn era muito jovem para ter acesso aos antigos manuscritos que continham os rituais da Alta Magia, já há muitos séculos recolhidos pela Igreja Católica, pelas Ordens seculares, e por pesquisadores progressistas. Mesmo assim vemos Mathers (um dos fundadores da Golden Dawn) e seus companheiros, enterrados nas bibliotecas da Europa, garimpando os manuscritos de magia cerimonial da idade média, o que o levou a publicar posteriormente duas obras que ficaram famosas: As Clavículas de Salomão, e O Livro da Magia Sagrada de Abramelin.

Voltemos às origens da Golden Dawn. Duas pessoas foram importantes para o surgimento da Ordem: William Wynn Westcott e Samuel Liddell Mathers. Mathers foi iniciado na Franco-Maçonaria em 1877; e em 1882 na Societas Rosicruciana In Anglia, ou S.R.I.A., onde mais tarde conheceu Westcott. A S.R.I.A. era uma Ordem supostamente de origem rosacruz, com marcante influência maçônica e dirigida ao estudo do ocultismo. Ela foi fundada em 1866 por Robert Wentworth Little, e segundo Christopher McIntosh, “Little adaptou o sistema de graus usado na Ordem Rosa+Cruz Áurea alemã, possivelmente com a ajuda de outro ocultista, Kenneth Mackenzie”. (Os Mistérios da Rosa-Cruz, editora Gnose). Mackenzie entrou para a S.R.I.A. em 1872, mas desentendeu-se com Little e saiu em 1875. Após isso, em 1881, Mackenzie entrou em contato com Westcott, por meio dessa carta:

Eu não tenho rituais da Sociedade Rosacrucianista Inglesa em minha posse, exceto quanto ao grau de Zelador, que, como você sabe, Little remodelou do grau (uma palavra ilegível) americano e realmente nada tem a ver com o verdadeiro rosacrucianismo. É por isso que sempre me mantive distante da Sociedade Inglesa nos últimos anos. Possuo os verdadeiros graus, mas não tenho autoridade para dá-los a quem quer que seja no mundo sem longa e severa provação, a que poucos consentiram submeter-se. Levei um quarto de século para obtê-los e todos os graus são diferentes de qualquer coisa conhecida da Rosi. Society of England - os poucos que têm esses graus não ousam transmiti-los. Leia novamente Jennings (Hargrave) e Zanoni (Bulwer-Lytton). Mesmo Lytton, que sabia tanto, era apenas um neófito, e não foi capaz de responder quando eu o testei anos atrás. Como então pode Little sustentar os que tem? Eu sei quantos verdadeiros rosacrucianistas existem nesta ilha”. (Os Mistérios da Rosa-Cruz, editora Gnose).

Também se sabe que Lytton foi eleito como Honorário Grande Patrono em 1878 pela S.R.I.A., porém este escreveu a John Yarker, importante membro dessa sociedade, que lhe respondeu pedindo desculpas, dado que Lytton nunca participou ou demonstrou qualquer simpatia pela S.R.I.A.. Temos, portanto, três personagens importantes que influenciaram Westcott antes da criação da Golden Dawn:

- Little, que fundou a S.R.I.A., onde Westcott conheceu Mathers;

- Mackenzie que era o Grande Secretário da Ordem Maçônica do Ritual Swedenborgian, que pertenceu à S.R.I.A. , e lá travou contato com Westcott;

- John Yarker, um criativo colecionador de rituais que era membro da S.R.I.A. e que em 1886 controlava uma Ordem supostamente indiana chamada Sat B’hai. A essa Ordem pertencia também Mackenzie, o qual tomou os rituais da Sat B’hai para sua Ordem Maçônica, pois pretendia atualizá-los. Tais esboços retirados da Sat B’hai foram codificados na intenção de preservá-lo da curiosidade de sua esposa e colegas maçônicos. Porém em 1886, Mackenzie morreu e Westcott tomou seu cargo na Ordem Maçônica do Ritual Swedenborgian. A viúva de Mackenzie entregou a Westcott os manuscritos codificados. Westcott possuía agora todos os planos de Mackenzie para atualizar seus rituais, e então lhe surgiu a idéia de fundar uma nova Ordem, a Hermetic Order of The Golden Dawn. O famoso manuscrito cifrado que Mathers e Westcott diziam ter sido entregues a eles pela Srta. Anna Sprengel, um dos Chefes Secretos, nada mais eram do que os códigos de Mackenzie retirados da Ordem de Yarker. Westcott entregou os manuscritos a Mathers, e o simbolismo rapidamente tomou vida, e a Golden Dawn ganhou uma série de rituais oriundos da imaginação fascinante de Mathers, unido às suas pesquisas ocultistas.

O método da Golden Dawn, isto é, seus graus, cargos e métodos de ensino, foram tirados do sistema maçônico e da S.R.I.A.. A S.R.I.A. como já foi dito antes, nasceu sob influência de uma antiga Ordem supostamente Rosa+Cruz chamada Gold und Rosenkreuz, uma Ordem alemã que se baseava em um manuscrito antigo chamado Tresaurus Thesaurorum a Fraternitated Rosae et Aureae Crucis. Nesse manuscrito, seu autor declarou algumas regras sobre alquimia e como funcionava o sistema de iniciação da Rosa+Cruz Áurea. Essa Ordem alemã, que tomou o mesmo nome indicado no manuscrito (Gold und Rosenkreuz = Rosa+Cruz Áurea) é que publicou pela primeira vez um sistema de graus e os critérios de aceitação de membros. Essa Ordem tinha pouca semelhança com o sistema dos rosacruzes originais, porque nessa Ordem eram exigidos do candidato os três graus básicos da Maçonaria (Aprendiz, Companheiro e Mestre), e quantias diferentes em dinheiro segundo cada grau. Os graus eram estes:

1 – 9 Junior
2 – 8 Theoricus
3 – 7 Praticus
4 – 6 Philosophus
5 – 5 Minor
6 – 4 Major
7 – 3 Adeptus Exemptus
8 – 2 Magister
9 – 1 Magus

Para o primeiro grau era cobrado 3 marcos de ouro, enquanto que para o último grau era cobrado 99 marcos de ouro. Muito interessante para uma Ordem que se dizia capaz de produzir ouro com grande facilidade. Mackenzie copiou esses graus e publicou em seu Royal Masonic Cyclopaedia (1877), o que demonstra que a suposta legitimidade rosacruz de seus rituais era oriunda dessa Ordem alemã (tal como na carta a Westcott, reproduzida acima). Mathers teve acesso aos planos de Mackenzie, como já foi dito, por meio dos manuscritos codificados, e desenvolveu para a Golden Dawn os seguintes graus:

0=0 Neophyte
1=10 Zelator
2=9 Theoricus
3=8 Praticus
4=7 Philosophus

Portal

5=6 Adeptus Minor
6=5 Adeptus Major
7=4 Adeptus Exemptus
8=3 Magister Templi
9=2 Magus
10=1 Ipississimus

A partir daí podemos concluir até que ponto a Golden Dawn tinha raízes tradicionais no campo da magia. Sem dúvida são dignos de admiração os esforços de Mathers e Westcott em criar um sistema mágico muito bem elaborado a partir do simbolismo e conhecimento acessível a eles. Mas não há dúvidas de que suas fontes primordiais não eram autênticas, não eram rituais antigos da Alta Magia, tais como os pertencentes às Ordens seculares. A influência de Mackenzie é óbvia, e sua erudição no campo da magia é muito suspeita como vemos na carta a Westcott onde diz: “Possuo os verdadeiros graus” que na verdade eram os graus da Ordem alemã que cobrava dinheiro e que obviamente não era autêntica. Diz também: “Mesmo Lytton, que sabia tanto, era apenas um neófito”, sem dúvida foi muita pretensão a sua contra o autor de Zanoni. Conta-se que certa vez Mackenzie visitou Eliphas Levi, mas Levi não levou a sério sua suposta erudição, e como Mackenzie mesmo relatou, Levi lhe disse que o texto completo do clássico cabalista Sepher-ha-Zohar (que consta de 10 volumes) era tão extenso que se necessitavam várias carroças de boi para transportá-lo.

Portanto, na Golden Dawn, as raízes de seus rituais não vieram de uma fonte antiga de magos autênticos, mas da própria imaginação e estudos de Mathers; como ele mesmo explica: “Por clarividência... por projeção astral, pela mesa, o anel e o disco... às vezes uma voz direta que pode ser captada pelo meu ouvido externo... às vezes copiados de livros que não sei como chegaram a mim... às vezes por um encontro astral em certo lugar...”.

Nos rituais básicos da Golden Dawn, como o famoso ritual do pentagrama, podemos observar muita influência de Eliphas Levi: a cruz cabalística usada em todos os rituais da Ordem foi retirada do Dogma e Ritual da Alta Magia; na pág. 269 (Editora Pensamento), onde Eliphas Levi explica e traduz esse gesto ritualístico do latim: “Assim, por exemplo, o iniciado, levando a mão à sua testa dizia: A ti, depois acrescentava: pertencem; e continuava levando a mão ao peito: o reino; depois, ao ombro esquerdo: a justiça; ao ombro direito: e a misericórdia. Depois ajuntava as duas mãos, acrescentando: nos ciclos geradores. Tibi sunt Malcut et Geburah et Chesed per aeons. Sinal da cruz absoluta e magnificamente cabalístico... Este sinal, feito deste modo, deve preceder e terminar a conjuração dos quatro”.

A invocação dos quatro é clássica na obra de Levi e de Papus. Os pentagramas seguem também uma regra interessante. Para o ar, é usado o hieróglifo da águia, para a água o de aquário, para a terra o de Touro, e para o fogo o de Leão; e podemos verificar essa correspondência na tabela de Eliphas Levi e na pág. 411 do Tratado Elementar de Magia Prática de Papus.

Porém, Levi, para as armas mágicas, dava a seguinte correspondência:

- Pentagrama – Ar – Silfos
- Varinha – Fogo – Salamandras
- Taça – Água – Ondinas
- Espada – Terra – Gnomos

E Mathers mudou para:

- Pentagrama – Terra – Gnomos
- Taça – Água – Ondinas
- Punhal – Ar – Silfos
- Varinha – Fogo – Salamandras

Certamente para colocar em correspondência com o Tarô:

- Paus – Fogo – Varinha
- Copas – Água – Taça
- Espadas – Ar – Punhal
- Ouros – Terra – Pentagrama

Porém, a falta de critérios de aceitação de membros e as disputas internas levaram a Ordem à ruína. Quando não existe uma forma rigorosa para selecionar os membros de uma Ordem, rapidamente os conhecimentos dela começam a ser profanados, e aos poucos ela é completamente arruinada. Foi exatamente o que aconteceu. Na mesma época em que Mathers começou a se auto-proclamar chefe da Ordem, um louco devasso chamado Aleister Crowley publicou tudo o que aprendera na Ordem em sua revista chamada Equinox. Crowley desse modo vendeu ao público os símbolos, rituais e graus da Ordem, o que levou a Ordem às ruínas. Aos poucos, os membros mais elevados da Ordem se dividiram fundando várias outras Ordens.

Depois da Golden Dawn muitas pretensas Ordens e cultos apareceram, afirmando antiguidades absurdas, como a A.M.O.R.C. de Lewis (ex-membro da Golden Dawn), A O.T.O. reformada por Crowley (que transformou tudo com sua bizarra e doentia Lei de Thelema) e a seita, famosa em hoje dia, a Wicca, inventada por Gardner que foi ex-membro da Golden Dawn também, e criou seu culto com a ajuda de Crowley.

Da Golden Dawn surgiu também uma figura interessante, Israel Regardie, que mais tarde publicou todos os ensinamentos da Ordem, incluindo os rituais e sua filosofia teórica. Seus principais livros são The Golden Dawn e Tree of Life, a Study in Magic.

Friday, December 16, 2005

Los Rosacruces por Serge Hutin


1. Los orígenes: la leyenda y la historia


En 1614 y en 1615 la Hermandad de la Rosa-Cruz manifestó públicamente su existencia con tres obritas: la «Reforma Universal» (All-gemeine und General Reformation), la Fama Fraternitateis Rosae Crucis y la Confessio Fraternitatis, escritos cuyo autor fue verosímilmente J. V. Andreae (1586-1654). La Fama relataba la fundación de la Orden por el alemán Christian Rosenkreutz (designado con las iniciales C. R. C.), iniciado por los Sabios de Siria en el curso de un viaje a Oriente; también se encontraba en ella el relato del descubrimiento de la tumba de Rosenkreutz, en la cual los discípulos hallaron, además del cuerpo del Maestro que llevaba en la mano un libro simbólico escrito sobre pergamino, toda suerte de objetos rituales: «espejos de diversas virtudes, campanillas, lámparas encendidas (las famosas "lámparas perpetuas" de los Rosacruces), extraños cantos artificiales (¿una máquina parlante?)... » [1]. Tal es la leyenda que refiere el origen de la Hermandad y la historia de su fundador, «Cristián Rosacruz [o Rosa-Cruz]», que es, evidentemente, un personaje alegórico, y no el gentilhombre de raza germánica que según dicen dicen vivió de 1378 a 1485. Pero es necesario que el investigador estudie las fuentes reales del movimiento rosacrucista, tarea bastante difícil, pues los documentos seguros faltan a menudo, como todas las veces que se trata de buscar los orígenes de una tradición ocultista.

Hemos visto que, durante todo el Medioevo, a pesar de las hogueras y de la Inquisición, nunca cesó la fermentación intelectual: el esoterismo, cristiano o no, fue propagado por organizaciones iniciáticas, sociedades secretas que sintetizaban en teosofías sutiles corrientes de pensamiento de muy diverso origen. Hubo principalmente numerosas asociaciones de alquimistas, hermetistas, cabalistas. El Renacimiento había de acarrear condiciones ideales para el nacimiento de tales sociedades secretas: el ocaso del poderío de la Iglesia Católica permitía a la curiosidad intelectual, que ya no era frenada por el dogma, desarrollarse cada vez más, favoreciendo el gran progreso de las más heterodoxas doctrinas. Los viajes relacionaban cada vez más los adeptos de todos los países: Nicolás Barnaud (1535-1601) nos refiere cómo, desde 1589, viajó a través de toda Europa «para buscar a los aficionados a la química (es decir, a la alquimia) y comunicarles sus ideas políticas». En cuanto al célebre Paracelso, había de llegar a ser la gran autoridad para todos los autores rosa-crucistas, que utilizaron con abundancia sus doctrinas, aludiendo más de una vez a su profecía relativa a la llegada del Elías Artista: «Dios permitirá -dijo- que se haga un descubrimiento de mayor importancia que debe quedar oculto hasta el advenimiento de Elías Artista... Y es la verdad, no hay nada oculto que no deba ser descubierto, por eso tras de mí vendrá un ser maravilloso, que no vive aún, y que revelará muchas cosas» (Ese Elías Artista -decía el Rosa-Cruz Andreae - no es un individuo, sino un ser colectivo, que no es otro más que nuestra Hermandad misma).

Los Rosacruces fueron «alquimistas que mezclaban cuestiones políticas y religiosas con sus doctrinas herméticas» (F. Hoefer). Fue en Alemania, medio propicio a las ideas de Reforma, donde nació dicha Sociedad secreta, muy al final del siglo XVI, si no muy al principio del siglo siguiente: la más antigua fecha a que podamos llegar es 1598, en la cual el alquimista Studion funda en Nuremberg una asociación denominada Militia Crucifera Evangelica, especia de arquetipo de la Rosa-Cruz, y cuyas teorías se hallan reunidas en una curiosa obra, intitulada Naometria (1604), que estudia «la medida del Templo místico», utilizando el símbolo de la Rosa y de la Cruz, y anunciando una «reforma general» y una «renovación de la Tierra». Observemos igualmente que se descubren todos los símbolos rosacrucistas en uno de los pentáculos del Amphitheatrum Sapientiæ Æternæ (1598) de H. Khunrath.

Los autores han acudido a veces al esoterismo musulmán, y asimismo a los Alumbrados españoles para dar cuenta del movimiento, pero lo esencial de la inspiración de los Rosacruces parece haber sido tomado en las teorías desarrolladas por los discípulos alemanes de Paracelso, conocidas con el nombre de Pansophia («Conocimiento Universal»), aun cuando se encuentran casi todos los vestigios de las doctrinas más o menos teosóficas y místicas. La Hermandad parece haberse constituido hacia 1600, sin que puedan darse detalles precisos: el juramento de respetar el secreto absoluto respecto de la Orden parece que fue bien seguido por los afiliados hasta 1614, fecha en la cual la Rosa-Cruz creyó conveniente manifestar su existencia al mundo. Sin embargo, parece que debe atribuirse un papel de primer plano a los alquimistas que odeaban a Rodolfo II de Habsburgo y otros soberanos, como el conde Mauricio de Hesse-Cassel. El pastor luterano J. V. Andreae fue quien habló en nombre de la Hermandad, cuya existencia había de intrigar durante tanto tiempo al público culto de entonces (así como por lo demás, al pueblo).

Antes de abordar el desarrollo y las doctrinas de la Hermandad, es conveniente investigar el significado profundo del símboloque ha dado su nombre a la Orden: el de la «Rosa-Cruz esencial».

La Rosa-Cruz es el símbolo formado por una rosa roja fijada en el centro de una cruz, también de color rojo, «pues ha sido salpicada por la sangre mística y divina de Cristo».

Ese símbolo, enarbolado - nos dice Robert Fludd (Summum Bonum) - por los Caballeros cristianos en tiempo de las Cruzadas, tiene doble significación: la Cruz representa la sabiduría del Salvador, el Conocimiento Perfecto; la Rosa es símbolo de la purificación, del ascetismo que destruye los deseos carnales, e igualmente el signo de la Gran Obra alquímica, es decir, la purificación de toda mácula, el acabado y perfección del Magisterio*. Puede igualmente verse en ella la cosmogonía hermética, pues la Cruz (emblema masculino) simboliza la divina Energía creadora que ha fecundado a la matriz oscura de la substancia primordial (simbolizada por la Rosa, emblema femenino) y ha hecho pasar el universo a la existencia.


2. Expansión del Rosicrucianismo

El movimiento de los Hermanos de la Rosa-Cruz alcanzó gran extensión en Alemania, donde sus adeptos más destacados fueron Andreae Mynsicht (llamado Madathanus), Gutman y Michael Maier (1568-1622). El gran místico Jacob Boheme (1574-1624), cuyas obras están salpicadas de alusiones a la «Piedra filosofal espiritual», al Cristo, «la santa Piedra angular de la Sabiduría» (la misma expresión en el gran doctor del grupo, el inglés Robert Fludd), estuvo muy influido por esa mezcla de teorías teosóficas, cuya repercusión fue considerable [2]. Pero el rosicrucianismo enjambró fuera de su patria de origen: así el checo Comenio, uno de los principales jefes de la secta de los Hermanos moravios, autor de varias obras teosóficas en las que exhortaba a los hombres a que construyeran «un Templo de la Sabiduría según los principios, reglas y leyes del Gran Arquitecto, el propio Dios», marchó a Holanda, donde tuvo discípulos. (Los Países Bajos eran, por lo demás, un país ideal para adeptos, pues existía libertad de pensamiento casi completa). Francia parece haber sido poco todada, aun cuando la Rosacruz tuvo sus afilidados, como Michel Potier y el cirujano Dabid de Planiscampy. La mayor expansión de la Orden se vio en Inglaterra, gracias a los esfuerzos del médico Robert Fludd (1574-1637). Fludd había viajado durante seis años por el continente (1598-1603), recorriendo Francia, Italia, España y Alemania hasta los confines de Polonia: estuvo en relaciones con Hermanos alemanes, y es hizo iniciar en los ritos y en las doctrinas de la Fraternindad. De vuelta a Inglaterra, Fludd fundó en Londres grupos que se extendieron rápidamente y es verosímil que fuera el Gran Maestro de la rama británica de la organización. Hacia 1650, la Rosa-Cruz estaba poderosamente organizada en Inglaterra. Ella fue la que debiá introducir en la Francmasonería el sistema de Altos Grados, llamados «Escoceses».


3. Los Rosa-Cruces y la Francmasonería

La Hermandad de la ROSACRUZ tomó impulso, a mediados del siglo XVII, en la Francmasonería: sus adeptos hallaron refugio en los talleres masónicos, y luego de hacerse recibir como accepted Masons, «Masones aceptados», utilizaron el simbolismo de las Corporaciones de constructores para propagar sus enseñanzas; eran «Masones simbólicos», trabajando en «edificar el Templo invisible e inmaterial de la Humanidad». Modificando el ritual introduciéndole sus concepciones herméticas y cabalísticas, crearon el grado de Maestro con su ritual característico de iniciación, que hace revivir al recipiendario la muerte, la «pobredumbre» y la resurrección de Hiram (Véase Cap.V, § II); fueron ellos, igualmente, quienes introdujeron los Altos Grados, tan cargados de esoterismo cristiano, callados en las Constituciones de Anderson, pero que habían de reaparecer luego, en forma más o menos alterada. Así, puede decirse sin paradoja que la Francmasonería moderna ha copiado y continuado el esoterismo de los rosacruces, tomando de ellos sus más típicos símbolos herméticos, como el pelícano, el fénix que renace de sus cenizas, el águila bicéfala, etc.

Hubo así, durante la primera mitad del siglo XVII, una gran mezcla de ideas, un gran desarrollo de las Sociedades secretas, que se copiaban recíprocamente unas de otras. Por lo demás, es bastante difícil orientarse en ese período donde las efusiones místicas y la alquimia corrían parejas con las investigaciones científicas y los deseos de reforma social, que se traducen en el gran número de Utopías de entonces; citemos entre otras, la Ciudad del Sol, de Campanella (cuyo Templo presenta curiosas analogías con una Logia) y la New Atlantis, de Francis Bacon, que, escrita a partir de 1622, describe la «Casa de Salomón» donde residen los sabios, acudiendo a los símbolos arquitectónicos.


4. Los ritos de iniciación

Sería interesante estudiar los ritos de iniciación de los Rosacruces, así como los diferentes grados. Los Rosa-Cruces alemanes practicaron el sistema de «Superiores desconocidos», en el que los afiliados inferiores ignoraban la personalidad de los miembros superiores de la jerarquía. Por lo demás, esa concepcion se veía favorecida por las concepciones de los Hermanos, que admitían una suerte de conservación de la tradición secreta por grandes iniciados, hombres que se han librado de la dominación de los sentidos, y recorren incansablemente el mundo: son los verdaderos Rosacruces, por oposición a los simples «Rosacrucistas».

Tenemos algunas alusiones a diversos ritos iniciáticos en obras como las Noces chymiques de J. V. Andreae [3], que constituye al mismo tiempo un tratado de alquimia: muchos intérpretes han tratado de dar una explicación de las diferentes ceremonias, representaciones y pruebas por que atraviesa durante siete días Christian Rosenkreutz. Se encuentra igualmente el relato de una iniciación, destinada a hacer revivir al neófito la suerte de Elías y de Enoc (que han sido raptados al Cielo) en el Tractatus theologo-philosophicus, de Fludd [4]. Los textos sobre esos puntos son raros y bastante reticentes. Pero hay un medio indirecto de conocer los ritos iniciáticos de los Hermanos: recurrir al estudio de los rituales que se encuentran en los Altos grados de la Masonería «escocesa», grados cargados de un simbolismo hermético y cristiano muy característico. Sin embargo, es sumamente difícil reconstituir los grados originales, que en el curso del siglo XVIII sufrieron numerosos arreglos sucesivos.

No obstante, un estudio de los símbolos y de las alegorías empleados por el ritual de esos «Altos Grados» no dejaría de ser interesante: en él se encuentran casi todas las doctrinas herméticas, tal cual fueron codificadas por los adeptos del siglo XVII. He aquí, a título ilustrativo, la descripción, según Vuillaume, de la Jerusalén Celeste, tal cual está representada en el capítulo de los Rosa-cruces [5].

«En el fondo [de la última habitación] hay un cuadro en el que se ve una montaña de la que corre un río, a cuya orilla crece un árbol que lleva doce clases de frutas. En la cima de la montaña se halla un zócalo compuesto de doce piedras preciosas en doce hiladas. Encima de ese zócalo hay un cuadrilátero de oro, que lleva en cada uno de sus lados tres ángeles con nombres de cada una de las doce tribus de Israel. En ese cuadrilátero hay una cruz, en el centro de la cual está acostado un cordero».

Esta descripción (inspirada en el Libro XXI del Apocalipsis de San Juan) debe relacionarse con los desarrollos de Fludd en su Tractatus theologo-philosophicus. Ese grado de Rosa-Cruz (del que la joya reproduce precisamente el símbolo del mismo nombre) es característico con su esoterismo cristiano y su Cena mística [6].


5. Las doctrinas y los fines

Las ideas rosicrucistas están fácilmente al alcance de historiador, pues los Hermanos escribieron mucho, y las grandes bibliotecas europeas poseen numerosas obras de ese género, de la primera mitad del siglo XVII, a menudo ilustradas con gran número de figuras simbólicas, emblemas y diagramas de lo más interesantes. El escritor más notable de la Orden fue Robert Fludd, cuyos numerosos trabajos constituyen una verdadera suma, en que se abrevaron los adeptos de la Alta Filosofía masónica de los siglos siguientes.

Es muy difícil resumir, aunque sólo fuera ligeramente, la doctrina rosacrucista de filosofía religiosa tal cual está sistematizada por Fludd [7]. Es un vasto sistema teosófico, un cristianismo esotérico fuertemente influido por el Hermetismo, la Cábala Judía, el Neo-platonicismo y la Gnosis: es un sistema compuesto, que ha reunido los vestigos de todas las tradiciones más o menos secretas que caminaron subterráneamente durante todo el medioevo y el Renacimiento. Se encuentran desarrollados todos los temas clásicos del esoterismo (principalmente la Cosmogonía sexual, pues se atribuye el origen del universo a la unión del Fuego macho y de la materia hembra). Todos los seres sólo son desarrollos varos del Ser único, de la Mónada**, que se manifiestan en diferentes grados y están destinados a entrar en la Unidad primordial. Los Hermanos, depositarios de la antigua filosofía secreta perpetuada desde los tiempos primitivos, anuncian el próximo retorno de la edad de oro.

El hombre, privado de la Divinidad por su rebelión, debe reintegrarse a ella por el éxtasis; puede, debe volver a ser Dios. Traen una gnosis destinada a operar la «Reforma universal» religiosa y social. La Gran Obra hermética es ante todo el Ergon, la búsqueda interior de la Piedra Filosofal, la santificación del adepto, y es también el Parergon, subordinado al primero, que es la busca física de la Piedra, capaz de «santificar» la materia transmutándola en oro puro.

«El Cristo habita en el hombre: lo penetra enteramente; y cada hombre es una piedra viviente de esa roca espiritual, aplicándose así las palabras del Salvador a la humanidad en general; así se construirá el Templo, cuyas figuras fueron la de Moisés y la de Salomón. Cuando el Templo esté consagrado, sus piedras muertas se transformaran en vivientes, el metal impuro se transmutará en oro fino y el hombre recobrará su estado primitivo de inocencia y perfección» [8].

Observemos particularmente la creencia en una continuidad de la Revelación, y conservándose la Tradición secreta por una sucesión ininterrumpida de «grandes iniciados», que son los verdaderos Rosa-cruces, en sentido absoluto del término (pues los miembros de la Hermandad son sólo simples Rosicrucistas), depositarios de la Ciencia total, poseedores de la Piedra filosofal y el arte de prolongar la vida indefinidamente, dotados de poderes sobrehumanos y desconocidos de la muchedumbre. Son los «Invisibles» que muchos personajes de aquellos tiempos intentaron en vano encontrar; hubo, naturalmente, algunos hombres que pretendieron hallarse entre esos «Rosa-cruces». (Así un médico refiere que en 1615 viajó «con un hombre de mediana estatura, aspecto común y vestido sencillamente, que hablaba toda clase de ciencia, curaba a los enfermos gratuitamente, llevaba el traje del país, declaraba que era Rosa-Cruz, conocía las virtudes de las plantas, sabía lo que los otros decían de él, hablaba lenguas muertas y extrañas; comió impunemente brionia, hizo predicciones; era un anciano monje de ochenta y un años, el tercero de la Hermandad; hablaba sin desdecirse jamás; desapareció, y no quedaba más de dos noches seguidas en la misma localidad). Hacia 1625 corrió el rumor de que esos «Reveladores» habían vuelto hacia su país de origen: el Oriente misterioso. Desde esa fecha, y hasta nuestros días, operó en Europa cierto número de personajes que pretendían ser «grandes Iniciados»; los más célebres fueron el Conde de Saint Germain y Cagliostro, en el siglo XVIII.

La Rosacruz, esa Sociedad secreta aún tan misteriosa, ejerció un papel mucho más importante de lo que se cree: así, Descartes, seducido por esas teorías místicas y humanitarias durante su permanencia en Alemania y Holanda, tuvo oportunidad de afiliarse, sin duda por mediación de su amigo el matemático Faulhaber; y el famoso «Sueño» de Descartes, así como varios opúsculos de su juventud, como las Olympica, son reveladoras sobre el particular [9].

Esta Sociedad se integró a la Francmasoneriá, que ha sido fuertemente influida por esos adeptos; en cuanto a las organizaciones modernas que han pretendido, o pretenden, prolongar el movimiento, no tienen nada en común con las Rosa-Cruces del siglo XVII (a ese tipo pertenecen la «Orden Cabalística de la Rosa-Cruz» de S. de Guaita, la «Rosa-Cruz católica» de Péladan, la Rosicrucian Fellowship de Max Heindel, y otras sociedades menos conocidas).

oOo


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Notas

[1] Véase la traducción francesa de la Fama, por E. Coro, París, Rhea, 1931;

[2] Señalemos que el Rosa-Cruz Morsius, amigo de Boheme, mantuvo relaciones con Fludd (cf. H. Schneider, Joachim Morsius und sein Kreis, Lübeck, 1929);

[3] Trad. franc., París, Chacornac, 1928;

[4] Véase. Sédir, Hist. et doct. des Rose-Croix, págs. 115-116;

[5] Grado dieciocho del Rito «antiguo y aceptado», siete del Rito «francés»;

[6] Véase R. Le Forestier, L'Occultisme et la Franc-Maçonnerie écossaise, págs. 294-309;

[7] Remitimos a: S.Huttin, R. Fludd, Le Rosicrucien, París, Gérard Nizet, 1953. Véase J. B. Craven, R. Fludd, Kirkwall, 1902. Cf., además de las obras generales sobre los Rosacruces: Ad. Franck, Dict. des Sc. philisoph., 2ª ed. París, Hachette, 1875, págs 539-542, D. Saurat, Milton et le matérialisme chrétien, París, Rieder, 1928, págs. 13-43;

[8] Fludd, Summum Bonum;

[9] Cf. A. Georges-Berthier, Descartes et les Rose-Croix, en Revue de Synthèse, t. XVIII, 1939, págs. 9-30; G. P. Ersigout, L'Illumination de R. Descartes rosicrucien, en C. R. du Congrès Descartes, París, Hermann, 1938, y X Novembris 1619, París, ed. de la Paix, 1938;


6. Thesaurus

*Magisterio: Alquimia. Elixir al que se atribuía la propiedad de transformar los metales en oro y plata.

**Mónada: (del lat. monas-adis y éste del gr. monás, unidad) f. Cada uno de los seres indivisibles, pero de naturaleza distinta, que según el sistema de Leibniz, compomen en universo. § Monadismo: Doctrina según la cual el sistema está compuesto de mónadas. § Monadología: Obra filosófica de Leibniz donde el autor expone su doctrina espiritualista.§ Leibniz: (Gottfried Wilhelm) Fil. Filósofo y matemático alemán nacido en Leipzig (1646-1716). Entre sus principales escritos están De arte combinatoria; Nova methodus docenci discendique juris; Confessio naturae contratheistas; Hypothesis physica nova; La monadología, y Ensayo de teodicea sobre la bondad de Dios, la libertad del hombre y el origen del mal. Leibniz no admite la unidad de substancia; por el contrario, sostiene en su teoría filosófica, a la que llamó monadología, que el universo está constituído por mónadas, o sea substancias distintas y diferentes entre sí y principios constitutivos de las cosas, que sin ser puntos indivisibles, carecen de extensión y forman las partes infinitesimales del ser material. La mónada suprema es Dios, ser infinito e inmutable. Las almas racionales son, según Leibniz, una serie de mónadas o unidades, dotadas de una representación clara y distinta. Las mónadas se distinguen entre sí por el grado de perfección con que reflejan la universalidad de las cosas. La idea de la armonía es fundamental en este sistema filosófico: la mónada creada no puede recibir nada de otra mónada creada, y la incomunicabilidad entre ellas produce el que la una no pueda influir físicamente sobre la otra; de ahí la necesidad de una armonía preestablecida en el mundo creado y su afirmación de éste es un conjunto de pequeños relojes montados con tanta perfección, que los movimientos del uno corresponden a los de todos, sin la menor discrepancia. La importancia de Leibniz en el campo de las matemáticas es tan grande como en el de la filosofía. Según él, en 1674 concibió la idea del cálculo infinitesimal, cuyos resultados expuso en 1686 en un escrito titulado De Geometria recondita, aunque Newton recabó para sí la prioridad del descubrimiento sin que en esta controversia se llegase jamás a un resultado definitivo.

Saturday, December 10, 2005

Historia de una Orden Tradicional por Christian Rebisse



EL “HADA DE LA ELECTRICIDAD”

En 1889 se inauguró en París La 4ª Exposición Universal, que conmemoraba el centenario de La Revolución Francesa de 1789. Fue una gran exposición donde triunfo el “hada de la electricidad”. La clave de esta exposición fue la inauguración de la Torre Eiffel, el gigantesco monumento metálico que se iba a convertir rápidamente en el símbolo del materialismo triunfante, de la tecnología y de la industria. ¿Era la encarnación de una nueva Torre de Babel? ¿Una nueva “Maison Dieu” “Casa de Dios” desde lo alto de la cual el hombre se arriesgaba a tener una mala caída... ? Por esa misma época, el Martinismo se reorganizaba y publicaba la revista “La Iniciación”.

¿En base a qué fundamentos podían apoyarse los Martinistas de aquella época para elevar su Templo y quiénes fueron los artífices de esa reconstrucción? Es a partir del encuentro de Gérard Encausse (Papus) y de Augustín Chaboseau, ambos poseedores de una iniciación que les fue transmitida directamente por Louis-Claude de Saint-Martin (1743-1803), cuando nace la Orden Martinista.


LOS ELUS-COHEN

Louis-Claude de Saint-Martin fue discípulo de Martines de Pasqually. Este había creado, hacia 1754, la “Orden de los Elus-Cohen”. Martines de Pasqually proponía a sus discípulos trabajar para su reintegración a través de la práctica de la teurgia. Esta ciencia se basaba en un ceremonial de gran complejidad, y aspiraba a lo que Martines de Pasqually llamaba la reconciliación del “menor”, el hombre, con la Divinidad. Esta teurgia se basaba en la relación del hombre con las jerarquías angélicas. Los ángeles constituían, según Martines de Pasqually, el único apoyo de que disponía el hombre después de su caída para conseguir la reconciliación (reintegración) con lo Divino. Contrariamente a lo que se piensa, el Martinismo no es la prolongación de la orden de los Elus-Cohen y, con mayor motivo, Martines de Pasqually no debe considerarse como el fundador de la Orden Martinista. En 1772, incluso antes de haber concluido la organización de su propia orden, Martines de Pasqually parte para Santo Domingo.

De ese viaje no regresará, pues muere en 1774. Después de la desaparición de Pasqually, algunos de sus discípulos continuarón la labor de difundirlas enseñanzas dándoles un tono particular. Entre esos discípulos se distinguen dos, Jean-Baptíste Willermoz y Louis-Claude de Saint-Martin.

Jean-Baptíste Willermoz, un ferviente adepto de la francmasonería y de la teurgia, entró en relación con la “Estricta Observancia Templaria” alemana. En 1782, en el congreso masónico que esta orden celebró en Wilheimsbad, J. B. Wiliermoz hizo integrar las enseñanzas de Martines de Pasqually en los grados altos de esta orden, los de “Profeso” y “Gran Profeso”. Sin embargo, él no transmitió a esta orden las prácticas teúrgicas de los Elus-Cohen. Durante ese congreso, la Estricta Observancia Templaria cambió su nombre por el de los “Caballeros Bienhechores de la Ciudad Santa”.

En cuanto a Louis-Claude de Saint-Martin, abandonó la francmasonería. Dejó a un lado la teurgia, la vía externa, en favor de la vía interna. En efecto, juzgaba que la teurgia era peligrosa, y la invocación angélica la juzgó como poco segura cuando sale al exterior. Por otro lado, se podría poner en boca de Saint-Martin la frase de Angelus Silesius que, en su poema Querubínico, dice: “Alejaos, Serafines, ¡no podéis reconfortarme! Alejaos, ángeles, y todo lo que se puede ver relacionado con vosotros; yo me lanzo solo en el mar increado de la Deidad pura”. La herramienta y el crisol de esta misteriosa comunión debe ser, según Saint-Martin, el corazón del hombre. Quería “entrar en el corazón de la Divinidad, y hacer entrar la Divinidad dentro de su propio corazón”, y con este sentido es por lo que se llamó a esta vía, preconizada por Saint-Martin, la “vía cordial”. La evolución en la actitud de Saint-Martin se debió en gran parte al descubrimiento de la obra de Jacob Boehme. En su diario personal, dice: “A mi primer maestro es a quien debo mis primeros pasos en la vía espiritual, pero es al segundo a quien debo los pasos mas significativos que he conseguido dar”. Enriqueció las ideas de su primer maestro y las de su segundo maestro para construir con ambas un sistema personal. Louis-Claude de Saint-Martin transmitió una iniciación a algunos discípulos escogidos. (1)

Recordemos igualmente que tampoco Louis-Claude de Saint-Martin es, él mismo, el creador de una asociación que lleva el nombre de Orden Martinista. Por el contrario, se sabe que se constituyó alrededor de él un grupo (sobre 1795) al cual algunos de sus amigos se referían como “Círculo Intimo”, “Sociedad de los Íntimos”. Balzac, en “El lirio en el valle”, nos da testimonio de la existencia de grupos de los discípulos de Saint-Martin: “Amiga íntima de la Duquesa de Borbón, Mme. de Verneuil formaba parte de una sociedad santa cuya alma era M. Saint-Martin, nacido en Touraine, y llamado el Filósofo Desconocido. Los discípulos de ese filósofo practican las virtudes aconsejadas por las altas (especulaciones) de la iluminación mística” (2). La iniciación transmitida por Louis-Claude de Saint-Martin perduró hasta principios de siglo a través de diferentes filiaciones. A finales del siglo XVIII dos hombres eran depositarios de esa iniciación: el Doctor Gérard Encausse y Augustín de Chaboseau, cada uno por una filiación diferente. Examinemos rápidamente esas filiaciones.


LINAJE MARTINISTA

Louis-Claude de Saint-Martin falleció el 13 de Octubre de 1803. Había iniciado a Jean Antoine Chaptal, un químico a quien debemos el descubrimiento de algunos procedimientos para la fabricación del alumbre y de la tintura del algodón, así como el procedimiento de vinificación que lleva el nombre de “Chaptalización”. Chaptal tuvo varios hijos, de los cuales una hija por su matrimonio se convirtió en la Sra. Delaage. Esta última tuvo un hijo, Henri Delaage, autor de numerosos libros sobre la historia de la iniciación antigua. H. Delaage fue iniciado por alguien cuyo nombre no nos es conocido, probablemente su padre o su madre, pues cuando su abuelo (Chaptat) murió, el joven Henri Delaage solo tenía 7 años y era demasiado joven para recibir esta iniciación. Henri Delaage transmitió esta iniciación a Gérard Encausse, en 1882.

Hacia mediados de 1803 Louis-Claude de Saint-Martin estuvo alojado en casa de su amigo el Abad de la Noue, en Aulnay. Había iniciado a éste mucho tiempo antes de su muerte. Este eclesiástico, sacerdote libre y hombre de una cultura enciclopédica, inició al abogado Antoine-Louis Marie Hennequin. Este último inició a Hyacinthe Joseph-Alexandre Thabaud de Latouche, más conocido por su nombre de escritor Henri de Latouche, quien inició a su vez a Honoré de Balzac y a Adolphe Desbarolles, el Conde de Authencourt, a quien debemos un célebre tratado de quiromancia. Este último inició a la sobrina de Henri de Latouche, Amélie Nouël de Latouche, Marquesa de Boisse-Mortemart, la cual a su vez inició a su sobrino, Augustín de Chaboseau, en 1886 (3).


LA CREACIÓN DE LA ORDEN MARTINISTA

Por medio del encuentro de estos dos “descendientes” de Louis-Claude de Saint-Martin, Augustín Chaboseau y Papus, es como va a nacer una orden iniciática que tomará el nombre de “Orden Martinista”. Papus y Augustín Chaboseau eran dos estudiantes de medicina. Un amigo común, P. Gaëtan Leymarie, director de “la Revista Espiritista”, conociendo el interés de cada uno de ellos por el esoterismo, se encargó de organizar su encuentro. Los dos estudiantes de medicina enseguida se hicieron amigos y no tardaron en darse cuenta de que ambos eran depositarios de una iniciación que remontaba a Louis-Claude de Saint-Martin. En 1888 pusieron en común lo que habían recibido uno y otro y decidieron transmitir la iniciación de la que eran depositarios a algunos buscadores de la verdad. Para ello crearon una Orden iniciática y le dieron el nombre de “Orden Martinista”.

!Qué actividad! ya había fundado la “Escuela Hermética”, había organizado la Orden Martinista, había creado las revistas “La Iniciación”, “El Velo de Isis” y había escrito “El Tratado Elemental de las Ciencias Ocultas” (a los 23 años) y “El Tarot de los Bohemios” (a los 24 años). Sus colaboradores, aparte F. Ch. Barlet, tampoco eran mucho mayores que él. A partir de 1887 debe su interés por el esoterismo al descubrimiento de las obras de Louís Lucas, químico, alquimista y hermetista. Apasionado con el ocultismo, estudia los libros de Eliphas Levi. Entra en contacto con el dirigente de la revista Teosófica “El Loto Rojo”, Félix Gaboriau, conoce a Barlet (Albert Faucheux) un erudito ocultista. En 1887, Papus se une a la Sociedad Teosófica, fundada algunos años antes por Madame Blavatsky y el Coronel Olcott.


El CONSEJO SUPREMO - 1891

En poco tiempo, Papus comenzó a disonar de la Sociedad Teosófica. Esta organización tenía una concepción muy orientalista y budista del esoterismo; esa misma posición iba a disminuir, e incluso iba a suprimir toda perspectiva de un esoterismo occidental real. Esta actitud, que preconizaba una superioridad absoluta de la tradición oriental, escandalizó a Papus. Pero en el horizonte se de lineaba un peligro mas grave aún. Sin él, nos dice Papus, la tradición occidental habría podido continuar transmitiendo su antorcha de iniciado a iniciado en el silencioy en el incógnito.

En efecto, según Papus y Stanislas de Guaita, ciertos ocultistas intentaron desplazar el eje de gravitación del esoterismo para colocarlo fuera de París, la tierra de elección; “Así pues se decidió en Haut Lieu (Lugar Elevado - aclara misteriosamente Papus), que debía emprenderse un movimiento de difusión para seleccionar a los verdaderos iniciados, capaces de adaptar la tradición occidental al siglo que empezaba”. Su fin era el preservar la perennidad de esta tradición y contrarrestar la maquinación encaminada a conducir a los buscadores sinceros hacia una situación crucial. El Martinismo fue el crisol de esta transmutación. Papus dimitió de la Sociedad Teosófica en 1890, y desde ese momento el Martinismo se organizó de una manera más precisa.

Las iniciaciones martinistas se hicieron más numerosas y al año siguiente, en julio de 1891, la Orden Martinista creó un Consejo Supremo compuesto por 21 miembros (4). Se procedió a la elección para designar al Gran Maestro de la Orden y allí fue elegido Papus para este cargo. Gracias al talento de Papus y a la ayuda material de Lucien Mauchel (Chamuel), la orden se extendió rápidamente. Se crearon las primeras logias martinistas y París contó muy pronto con cuatro logias: “La Esfinge”, dirigida por Papus, donde se hacían los estudios generales. “Hermanubis”, dirigida por Sédir, donde se estudiaba el misticismo y la tradición oriental. “Velleda”, dirigida por Victor-Emile Michelet, que se dedicó al estudio del simbolismo. “Esfinge” quedó reservada a las adaptaciones artísticas. En varias ciudades francesas, e incluso en el extranjero, se formaron grupos martinistas. La Orden Martinista tomó una gran expansión en el extranjero: Bélgica, Alemania, Inglaterra, España, Italia, Egipto, Túnez, Estados Unidos, Argentina, Guatemala, Colombia. En el número del mes de Abril de 1898 de “La Iniciación” se explica que en 1897 existían 40 logias en el mundo y que en 1898 ese número aumentó a 113.


LA FACULTAD DE CIENCIAS HERMÉTICAS

Los Martinistas querían renovar el esoterismo occidental; sin embargo, no existía ningún lugar en Francia donde se pudieran estudiar las ciencias herméticas. Papus reflexionó sobre esto y se dijo: “Puesto que existen facultades donde se pueden aprender las ciencias materialistas, ¡por qué no podría haber una donde se pudieran estudiar las ciencias esotéricas!”. Así pues, los Martinistas constituyeron un grupo que organizaba cursos y conferencias con el fin de mostrar a los buscadores los valores del esoterismo occidental. Ese grupo constituyó el vivero de donde fueron seleccionados los futuros Martinistas. Se convirtió en el círculo externo de La Orden Martinista y tomó el nombre de “Escuela Superior Libre de las Ciencias Herméticas”. Más tarde tomó el nombre de “Grupo Independiente de Estudios Esotéricos”, después el de “Escuela Hermética” y “Facultad de Ciencias Herméticas”.

Eran numerosos los cursos y los temas que se estudiaban allí e iban desde la Cábala a la Alquimia y el Tarot, pasando por la historia de la filosofía hermética, o sea, alrededor de unos doce cursos al mes. Los profesores más asiduos eran Papus, Sédir, Victor-Emile Michelet, Barlet, Augustín Chaboseau, Sisera... Una sección en particular estudiaba las Ciencias Orientales, bajo la dirección de Augustín Chaboseau. Otra, bajo la dirección de F. Jollivet-Castelot, se dedicaba a la Alquimia. Este grupo tomó el nombre de “Sociedad Alquímica de Francia”.


LA ORDEN CABALÍSTICA DE LA R+C

Si los Martinistas habían constituído un círculo externo, “El Grupo Independiente de Estudios Esotéricos”, a su vez, también creó un círculo interno, “La Orden Cabalística de la Rosa+Cruz”. El 5 de Julio de 1892 la Orden Martinista y la Orden Cabalística de la Rosa+Cruz se unieron por medio de un tratado. Para Stanislas de Guaita, “el Martinismo y la Rosa+Cruz constituían dos fuerzas complementarias, en todo el ámbito científico del término” (5). Esta Orden había sido renovada en 1889 por Stanislas de Guaita y Joséphin Péladan. La entrada en esta orden estaba estrictamente reservada a los Martinistas “S.I.” que poseyeran ese grado por lo menos desde tres años antes y que reunieran unas condiciones particulares. El número de miembros debía estar limitado a 144 pero parece que ese número nunca se alcanzó. La Orden Cabalística de la Rosa+Cruz tenía como fin perfeccionar la formación de los S.I.. Se dividía en tres grados de estudios con diplomas de: Bachiller en Cábala, Licenciado en Cábala y Doctor en Cábala. Después de la muerte de Stanislas de Guaita en 1897 (o sea, 8 años después de su creación), Barlet fue designado para dirigir la Orden, pero nunca ejerció su función y la Orden Cabalística de la Rosa+Cruz quedó más o menos en estado durmiente. Papus la pone de nuevo en actividad, sin éxito, y dura hasta la primera guerra mundial en 1914.

Para expandir la iluminación, los Martinistas no dudaron en buscar alianzas con otras sociedades iniciáticas. Así, en 1908, Papus organizó una gran convención espiritualista internacional en París, que reunió por lo menos unas treinta organizaciones iniciáticas. El secretario de esta amplia tentativa era Victor Blanchard, un Martinista que retomó esta idea algo más tarde para organizar la F.U.D.O.S.I.. Desgraciadamente, en sus numerosas alianzas, Papus se dejó a veces arrebatar por el entusiasmo de sus colaboradores, como pasó con la “Iglesia Gnóstica”. Esta iglesia había sido fundada por Jules Doinel hacia 1889, después de una experiencia espiritista. Se dice a menudo que la Iglesia Gnóstica llegó a ser la iglesia oficial de los Martinistas. De hecho la importancia de esta alianza ha sido aumentada por ciertos pseudo-sucesores de Papus. Si se alió con numerosas organizaciones: “Los Iluminados”, “Los Babístas” (persas), “El Rito Escocés” o “Menphis Misraim”, la Orden Martinista no por eso dejó de guardar su independencia. En esa época, era normal pertenecer a varias organizaciones iniciáticas al mismo tiempo, muchos abusaron y algunos fueron contaminados por una terrible enfermedad que acometía a los “pseudo-iniciados”, “la cordonitis”. Papus y la mayor parte de los dirigentes Martinistas habían tomado importantes responsabilidades en la Franc-Masonería egipcia del rito de Menphis-Misraim. ¡Comparados con los 97 grados de este rito, los pocos grados del Martinismo parecían bien pobres! Algunos Martinistas, turbados por los títulos atractivos de los grados de Memphis-Misraím, no se tomaron ni siquiera el tiempo de estudiar sus enseñanzas, muchos se hundieron en un cierto sincretismo iniciático y se olvidaron del propósito de la iniciación y de sus fundamentos, para perderse en sus formas.


LA GUERRA DE 1914-1918

Podemos decir que con la primera guerra mundial la Orden entró en estado letárgico. Cada uno se aprestó a defender a su patria. Papus se traslado voluntariamente al frente. Fue médico jefe, con el grado de capitán. Consideraba sagrado el deber hacia su país. Augustín Chaboseau, reformado, se alistó en los gabinetes ministeriales de Aristide Briand, primero en el de Justicia, después en la Presidencia del Consejo. Papus murió antes del final de la guerra, el 25 de Octubre de 1916. Después de la guerra, los miembros del Consejo Supremo se estaban dispersados y no hubo elección de un nuevo Gran Maestro. “Sin Papus, el Martinismo ha muerto” exclamó Jollivet-Castelot (6). No obstante, varios Martinistas intentaron tomar la dirección de la Orden. Modificaron de tal manera la naturaleza del Martinismo, que muchos Martinistas prefirieron no asociarse a tales proyectos y mantenerse independientes.


LAS SUCESIONES EFÍMERAS

En esa época nacieron varios grupos martinistas, pero la mayor parte de esas organizaciones tuvieron una existencia bastante efímera, sólo se componían de algunos grupos, todos ellos independientes. Cuando un Martinista ruso preguntó en esa época a Barlet, quién era el jefe de la Orden en Francia, éste respondió con una sonrisa: “El Martinismo es un círculo cuya circunferencia está en todas partes y el centro en ninguna parte...” (7). Veamos rápidamente cuáles fueron las organizaciones de este periodo transitorio que a menudo resulta oscuro, debido a que algunos historiadores han disfrutado confundiendo vestigios.

La primera de la que hablaremos es la que se formó bajo la dirección de Jean Bricaud. Este afirmó que Teder había sucedido a Papus y que Teder, en su lecho de muerte, le había designado como su sucesor. Enseñó a los Martinistas parisienses un documento que atestiguaba su nombramiento al frente de la Orden. Ningún miembro tomó en serio ese documento, que probablemente Bricaud había escrito él mismo, y no aceptaron reconocerle (8). Sin embargo, en Lyon se formó un pequeño grupo bajo su autoridad, transformó el Martinismo “masonizando” atrevidamente la Orden, y reservando su acceso solamente a los miembros que tuvieron la categoría de masones y titulares del grado 18. Ese grupo creó una clase de Martinismo que no tenía casi nada que ver con el que habían creado Papus y Augustín Chaboseau. Además, Jean Bricaud reivindicó abusivamente una afiliación de Elus-Cohen. Robert Ambelain demostró que esta pretensión no estaba basada sobre ningún fundamento (9). El movimiento de Bricaud permaneció circunscrito a Lyon (10).

Se formó un segundo grupo bajo la dirección de Victor Blanchard. Este último había sido el Maestro de la Logia Parisiense “Melchissedec” y fue reconocido por una parte de los Martinistas parisienses que se agruparon a su alrededor. El 11 de Noviembre de 1920 el “Journal Officiel” anunció la constitución de una Orden bajo el nombre de “Unión General de los Martinistas y los Sinárquicos” u “Orden Martinista Sinárquica”. En 1934, H. Spencer Lewis fue niciado en esta orden por Victor Blanchard.

Algo más tarde recibió una carta nombrándole Gran Inspector para las tres Américas, una carta como Soberano Legado y Gran Maestro para los Estados Unidos de América y la autorización de crear en San José el Templo “Louis-Claude de Saint-Martin”. (Ralph Maxwell Lewis sería iniciado igualmente en esa Orden en Septiembre de 1936). Más adelante volveremos sobre la Orden Martinista Sinárquica.

En París, se formaron vanos grupos independientes pero no hubo realmente un Consejo Supremo reconocido como tal por el conjunto de los Martinistas. De hecho, la mayoría de los Martinistas, más que lanzarse a luchar por la sucesión, prefirieron continuar trabajando en la sombra, quedando aislados.


EL NACIMENTO DE LA ORDEN MARTINISTA TRADICIONAL

La situación no parecía tener salida. En 1931 Jean Chaboseau sugirió a su padre que reuniera a los supervivientes del Consejo Supremo de 1891 para volver a hacerse cargo de la situación y poder restablecer la Orden Martinista sobre sus verdaderas bases. Los únicos supervivientes, aparte de Augustín Chaboseau, fueron Victor-Emile Michelet y Chamuel.

No olvidemos que Augustín Chaboseau fue el cofundador del Martinismo de 1889 y había recibido su iniciación por vía directa de su tía Amélie de Boisse-Mortemart. Victor-Emile Michelet había sido un miembro importante de la Universidad Hermética y Maestro de la Logia “Velleda”; en cuanto a Chamuel, había sido el organizador material de la Orden, en la trastienda de su librería, que había acogido las primeras actividades de la Orden. Otros Martinistas se unieron a ellos: el Dr. Octave Béliard, el Dr. Robert Chapelain, Pierre Levy, Ihamar Strouvea, Gustave Tautain... así como Philippe Encausse, el hijo de Papus. Este último frecuentó durante algún tiempo la Orden Martinista Tradicional, después se apartó. En aquella época sus preocupaciones parecían estar en algún otro sitio. El libro que consagró ala memoria de su padre, al año siguiente, parece demostrar esta postura suya (11). El 24 de Julio de 1931, los Martinistas, reunidos alrededor de Augustín Chaboseau, decidieron despertar el Martinismo bajo su aspecto auténtico y tradicional. Para distinguirlo de las numerosas organizaciones pseudo-martinistas que existían, añadieron al nombre de la Orden el calificativo “Tradicional”. Por medio de este acto, los supervivientes del Consejo Supremo de 1891 revindicaron “la perennidad de la Orden fundada por ellos junto con Papus” (12).

El Martinismo volvió a tomar fuerza y vigor. Se procedió a la elección del Gran Maestro y como lo requería la Tradición, fue el miembro más antiguo quien resultó elegido para este cargo: Augustín Chaboseau. Este, a partir de Abril de 1932, prefirió dejar esta función a Victor-Emile Michelet. Aunque en activo, la Orden permaneció relativamente discreta bajo la dirección de este último. A la muerte de Michelet, el 12 de Enero de 1938, nuevamente Augustín Chaboseau fue el Gran Maestro de la Orden Martinista Tradicional.


LA GUERRA DE 1939-1945

La Tradición Martinista se instaló de nuevo al otro lado del Océano Atlántico. Fue un buen momento, ya que unos meses más tarde los Martinistas europeos iban a conocer una nueva prueba, la segunda guerra mundial. Esta tendría fuertes consecuencias, pues numerosos Martinistas perderían la vida en los campos de batalla o en los campos de concentración. Poco después del comienzo de las hostilidades, el 14 de Agosto de 1940, el periódico oficial publicó un decreto gubernamental de Vichy prohibiendo en Francia todos las organizaciones secretas. La mayoría de los responsables de esas oganizaciones fueron arrestados. La Orden Martinista Tradicional pasó oficialmente a estar durmiente en Francia, pero de hecho el verdadero trabajo no cesó, y las Logias “Athanor” y “Brocéliande” permanecieron secretamente activas. Augustín Chaboseau refugiado en Bretaña, no se inquietó demasiado, pero el Dr. Béliard tuvo algunos contratiempos con la Gestapo. Georges Lagréze se vió obligado a ocultarse en Normandia, después en Angers y, a pesar de las incesantes indagaciones en su domicilio, permaneció en contacto con Ralph M. Lewis por mediación de Jeanne Guesdon.

Después de la guerra, en 1945, no quedaban más que algunos supervivientes. Bajo la dirección de Augustín Chaboseau, la Orden Martinista Tradicional se recobró oficialmente. Pero, Augustín Chaboseau pasó la transición el 2 de Enero de 1946 y Georges Lagreze falleció en Angers el 16 de Abril de 1946. Con ellos, la Orden en Francia perdió los elementos esenciales. Jean Chaboseau fue elegido como sucesor de su padre. Jean Chaboseau era un Martinista de valor, pero no tenía sentido de organización. No tuvo éxito en reorganizar la Orden en Francia. Los miembros del Consejo Supremo le retiraron poco a poco su confianza y le dimitieron. Aquí es necesario aclarar que algunos Martinistas hicieron todo lo posible para hacerle difícil su tarea, y harto de querellas, él prefirió dejar a la Orden durmiente. Los Martinistas belgas, bajo la dirección de Sâr Renatus (René Rossart), intentaron continuar el trabajo de la Orden bajo el nombre de “Orden Martinista Universal”. Victor Blanchard aprobó esta Decisión, pero la muerte de René Rosart en Octubre de 1948 puso freno a la evolución de la Orden Martinista Universal. El hermano Heb Ailghim Sî, (el Dr. E. Bertholet), sucedió a René Rossart, pero dejó extinguirse una Orden que jamás tuvo actividad alguna. El Dr. Bertholet murió el 13 de Mayo de 1965 sin haber nombrado sucesor.

A pesar de ello, la Orden Martinista Tradicional no había sufrido ningún daño en Estados Unidos y trabajaba modestamente, esperando que las cosas se apaciguaran en Europa. Ralph M. Lewis conservó su título de Gran Maestro Regional. Unos diez años más tarde, cuando la Orden Martinista Tradicional se volvió a implantar en Francia y en otros países desde Estados Unidos, Ralph M. Lewis tomó el título de Gran Maestro Soberano. Durante 48 años dirigió la Orden Martinista Tradicional, es decir, hasta su transición el 12 de Enero de 1987. Gary Stewart le sucedió, después en Abril de 1990 fue elegido Christian Bernard para dirigir la Orden Martinista Tradicional.


LA ORDEN MARTINISTA TRADICIONAL HOY

Como puede observarse, la Orden Martinista, a pesar de las adversidades, siempre ha logrado transmitir su luz a través de los tiempos. Si bien existen actualmente en algunas partes del mundo diversas “obediencias” martinistas, la Orden Martinista Tradicional es la que cuenta con el mayor número de miembros, esforzándose en mantener la luz que los Maestros del pasado le han confiado. Desde hace algunos años, el Gran Maestro Soberano de la Orden Martinista Tradicional, el hermano Christían Bernard, ha estado trabajando pacientemente para reorganizar la Orden. Cien años después de la creación del Consejo Supremo de 1891, y sesenta años después de la creación de la Orden Martinista Tradicional, quiere volver a centrar la Orden sobre sus valores y prácticas tradicionales, y adaptarla al mundo moderno. Así pues, la Orden está conociendo, bajo su dirección, un renacimiento.

Cien años después de la Revolución francesa, los Martinistas, bajo la dirección de Papus, habían querido contribuir a la espiritualización de su época. Con la esperanza de participar en esta gran misión, habían propagado al mundo los “Servidores Desconocidos”, para que la Obra pudiese llevarse a cabo. Las circunstancias de esa época eran importantes: las amenazas que pesaban sobre el esoterismo occidental y el desarrollo de la civilización industrial, el advenimiento del “reinado de la cantidad”. Nuestra época presenta numerosas similitudes con ese período, y cada uno de nosotros puede comprobar que, aunque hemos celebrado, hace poco, el bicentenário de la Revolución francesa, todavía queda mucho por hacer. Victor Hugo decía: “La revolución cambia todo, excepto el corazón humano”. El hombre, como en la época del resurgimiento del Martinismo, está en peligro por el progreso y no es por casualidad que Organizaciones Inicíáticas, tales como la Orden Martinista Tradicional, vuelvan a estar de nuevo activas, pues nos enseñan que no es en el exterior donde se produce la revolución, sino en el corazón de cada uno de nosotros; esto es lo que los Martinistas Llaman la “Vía Cordial”.


NOTAS

(1) No todos los historiadores del Martinismo están de acuerdo sobre este punto. Algunos consideran que Saint-Martin no ha transmitido iniciaciones en el sentido en el que se entiende habitualmente. Según ellos, es a Papus a quien hay que considerar como el creador de la Iniciación Martinista. Sobre esto, ver “Le Martinisme” de Robert Amadou, ed. de l’Ascése 1979, Chap. IV. Hasta ahora, ningún elemento permite aportar un juicio definitivo en un sentido o en otro;

(2) “Le Lys dans la Vallée”, H. de Balzac, Nelson 1957, pág. 64;

(3) Sobre las circunstancias de esta iniciación, ver el artículo “Un Servíteur Inconnu Pierre-Augustín Chaboseau”, a consultar en: Pierre-Augustín Chaboseau: Un servidor desconocido;

(4) Esta creación fue anunciada en “La Iniciación”: n.º 10, Julio de 1891, pág. 83-84; n.º 11, Agosto de 1891, pág. 182 y nº 12 Septiembre, pág. 277 1891;

(5) “Essais de Sciences Maudites, 1, “Au Seuil du Mystére”, G. Carré, París 1890, pág. 158;

(6) “Esai de Synthése des Scíences Ocultes”, F. Jollivet-Castelot, E.Nourry, París 1928, pág. 189;

(7) y (8) “Tutti gil Uomíni del Martinismo”, Gastone Ventura, Editrice Atanor, Roma 1978, pág. 52;

(9) “Le Martinisme”, Robert Amadou, Niclaus, París 1946, pág. 151-155;

(10) Jean Bricaud tuvo sucesores de los que es imposible hablar aquí por falta de espacio. Para más información sobre este punto, ver nuestro estudio próximo a aparecer “Le Martinisme, son histoire et sa philosophie”, Christian Rebisse;

(11) “Papus, sa Vie, son Oeuvre”, Philippe Encause, ed. Pythagore, París 1932. Jean Reyor en el “Voíle d’Isis” de Diciembre 1932, pág. 793-794, fue el primero en señalar este aspecto sobre el hijo de Papus: “Parece que se haya dejado de lado sistemáticamente todo lo que ha podido ser verdaderamente interesante en la carrera tan activa de ese asombroso Papus... ni una palabra sobre la constitución y sobre la vida de esta Orden Martinista de la cual Papus fue el animador...” Philippe Encausse corregirá ese defecto en las ediciones sucesivas de esa obra;

(12) “Le Martinisme”, Robert Ambelain, Niclaus, París 1946 pág. 174.