A F.U.D.O.S.I. foi formada em 1934 “para proteger as liturgias sagradas, ritos e doutrinas das Ordens iniciáticas tradicionais de serem apropriadas e profanadas por organizações clandestinas”. A F.U.D.O.S.I. não era uma Ordem, mas uma Federação Universal de Ordens e Sociedades esotéricas e autônomas, portanto, um órgão administrativo antes de tudo.

“Algumas pessoas, cujas mentes ainda não receberam luz suficiente, desejam saber por que era necessária uma Federação Universal. As Ordens e Sociedades Iniciáticas que, no seu próprio campo de trabalho, desfrutam da mais absoluta e completa liberdade e perfeita autonomia e independência. A esta questão nós podemos responder que, mais que qualquer outra coisa, está no trabalho iniciático que a maior vigilância é indispensável e que uma disciplina internacional estrita e ativa deve ser exercida.

Nós devemos reconhecer e lamentamos a existência de muitos falsos profetas e vários auto-proclamados iniciados que usam, para propósitos egoístas e tirânicos de dominação, o pretexto da iniciação para explorar as pessoas crédulas e sinceras. Era tempo de advertir o público contra estes falsos líderes e contra doutrinas nocivas que eles ensinaram às almas confiantes.

Em cada país, cada Ordem autêntica e regular conhece seus imitadores e tais falsos profetas. Era necessário vigiar estes movimentos clandestinos, expor estes impostores ou instrumentos ocultos e evitar sua força, em todos os países, onde quer que eles estejam operando, e assim evitar qualquer confusão entre as Ordens regulares e autênticas e as Organizações falsas que são prejudiciais ou que ofereçam ensinamentos que nada têm a ver com a Tradição Universal e o Esoterismo.

E também era necessário que as Ordens autênticas tivessem cuidado ao selecionar os seus membros e oficiais e manter os seus adeptos e estudantes no caminho correto das verdadeiras doutrinas, obrigando-os a seguir uma linha estrita de disciplina, trabalho racional, sincero e consciencioso, para evitar ensinamentos radicais e heterodoxia. Este imenso trabalho que era pretendido e que protegia as Ordens contra os seus inimigos internos e exteriores foi efetuado com sucesso pela F.U.D.O.S.I. e continua ocorrendo.” (Jornal da F.U.D.O.S.I., novembro de 1946)

 

Wednesday, March 29, 2006

A venerável figura do Mestre Cedaior por Jehel


Em 1° de setembro de 1872, nascia em Valence (departamento de Drôme, França), na casa que fora do lendário Cavaleiro Bayard, e filho de Marie Delmas e de Eloy Cotet ou Costet, visconde de Mascheville (e mais outros títulos como: du Peuch, de la Chêvrerie, de Benhayes, etc... nessa família aparentada com os de Livron, de Taillfer, de Segur, de Narbonne, de Rastignac e outros...).

O menino assim nascido chamou-se Albert Raymond. Com poucos anos, cansou de morar em Valence, onde já tinha obtido, pelos seus dons especiais de ouvido, a proteção do célebre Charles Dancla, que lhe ensinou violino e – bem contra a vontade materna – o recomendou para o Conservatório de Paris. Antes de partir de sua terra natal – a Valência francesa, que não fica longe de Lyon – ele tinha um amigo, mais velho que ele que contava pouco mais de 13 anos.

Perto dos 13 anos consegue “arrastar” seus pais a Lyon e obter, por recomendação de Charles Dancla, um apoio para ingressar no Conservatório de Paris. Veremos que sua passagem por Lyon, foi o despertar de sua carreira iniciática, pois ali conheceu ao Mestre AMO.

Cedaior consegue, pois, antes dos 15 anos, ser enviado sozinho à Paris, e, na cidade luz não se deixa deslumbrar pelo superficial e frívolo. Para desespero de seus professores toca pela noite em orquestras de 2ª categoria, para ganhar, sozinho, o necessário à sua subsistência. Leva essa vida até que, anos depois, obtém um primeiro prêmio do Conservatório de Paris e ganha logo, por concurso, sua nomeação de Professor do Conservatório de Nancy, sendo que não assume o cargo.

Em 1891, inicia voluntariamente um período militar de quatro anos, por razões econômicas e para poder firmar seu lugar de serviço, que é Paris.

Em 1895 o encontramos no Egito, em missão oficial do governo francês, fazendo, oficialmente, estudos sobre os instrumentos antigos e a acústica das civilizações primitivas.

Por volta de 1900, cresce sua atividade material, realiza vários inventos relacionados com a música: surdina para violinos, metrônomos, etc., e consegue, sucessivamente, postos de maior categoria, chegando a tocar nos grandes concertos Colonne, Lamoureux e, finalmente, na Opera Cômica de Paris.

Em 1906 o encontramos com uma casa editora de música de aluguel e venda de pianos e Membro da Sociedade de Autores de Paris, assim como sua esposa, brilhante pianista e compositora, com a qual se havia unido antes e já sendo nascido, em 1901, seu primeiro filho.

Em 1910, desgostoso da vida européia e dos ódios raciais que já se manifestavam, embarca para a República Argentina, na qual se faz conhecer como concertista e maestro.

Funda conservatórios em Buenos Aires, Olivos e San Isidro e, com sua companheira, chegam a estabelecer rapidamente uma base material de vida muito aceitável.

Porém, em 1914, pouco antes do nascimento do segundo filho, o Iniciado começa a cativar cada vez mais o homem e a situação material de Cedaior sofre as conseqüências do desprendimento assim motivado.

Em 1919, depois de uma fase de atividades ocultas, publica sua obra principal, Las Leyes de Vayú, e desfazendo seu primeiro lar, se lança a explorar, sozinho, regiões que o atraem: a Cordilheira Andina.

Em 1921 o vemos chegar a Mendoza, onde viverá modestamente de lições de francês e de música até 1924, data em que uma nova missão oculta o leva ao Brasil.

No Brasil começará o que se poderia chamar a segunda fase da vida do Homem e do Mestre.

Faz várias tentativas, que examinaremos detidamente mais tarde, de fundar colônias naturistas e “olímpicas” (isto é, sobre a base explicada em seu livro). Todas, por diversas razões, fracassam, e sempre é o mestre um dos que mais sofrem, material e moralmente, as conseqüências. Assim transcorre a vida de Cedaior, primeiro em Santa Catarina, depois no Paraná – onde conhece sua segunda companheira, futura mãe dos cinco filhos de seu segundo matrimônio – depois em Goiás, novamente no Paraná e finalmente no Rio Grande do Sul, onde passará os dez últimos anos de sua vida, com exceção de três, passados em São Paulo, no meio de lutas de toda espécie.

De 1924 a 1942 (notar a inversão de números) no Brasil, realiza pouco materialmente, sofre muitas misérias e muitas desilusões, porém sua inquebrantável vontade espiritual e a força encontrada em sua companheira permitem resistir a todos os embates.

A partir de 1926, simultaneamente, luta pela vida material, pelo ressurgir das Ordens (Martinista e Rosa+Cruz Kabalística) e por sua missão pessoal: a preparação de núcleos Olímpicos.

Em 1921, fixa definitivamente residência em Porto Alegre, próxima da Sede da Ordem Martinista (naquela época). Consagra seus últimos anos de vida a estudar profundos problemas da Escola Platônica e a sintetizar suas atividades iniciáticas.

Já foi dito que quando Cedaior era ainda menino perto de 13 anos de idade, havia entrado pela primeira vez em contato com o Mestre AMO Philippe. Efetivamente, um senhor, amigo da família de Cedaior, o levou à presença do Mestre AMO, por haver constatado algumas particularidades no menino. O Mestre AMO o observou largamente, seguramente com a visão interior sobretudo, e resumindo sua impressão em um sorriso, perguntou ao menino: “Diga-me, pequeno: te agradaria ser útil e ajudar a curar uma senhora que sofre de um terrível martírio?”.

O menino Cedaior não vacilou em responder afirmativamente. Então o Mestre AMO colocou a mão sobre sua cabeça por alguns instantes e disse: “Diariamente, o senhor que te trouxe até aqui, te levará ao hospital no qual se encontra tal senhora, QUE TEM UM GRAVE CÂNCER NO SEIO. Tu colocarás tua pequena mão sobre o mal e DURANTE UMA HORA, desejarás que se cure e o pedirás a JESUS”.

Philippe

Com perseverante alegria o menino Cedaior fez durante dez dias o que o Mestre indicara e, ao terminar os dez dias, a senhora saía do hospital completamente curada. Que misterioso laço se estabeleceu entre o Espírito do Plano Crístico, o Mestre AMO, a vitalidade e o bom coração do menino Cedaior e a enferma assim curada?... A meditação lhes dirá se é que já não lhes disse sem nada dizer.

Profunda impressão deixou no menino Cedaior o referido fato; e, ao chegar à Paris para estudar no conservatório, como já disse, seus pensamentos e suas leituras se dirigiram com uma freqüência e uma seriedade raras em pessoas com tal idade, para os temas místicos e iniciáticos.

Aos 18 anos de idade cria uma “sociedade secreta” com alguns companheiros, na qual se celebravam ritos que eram uma síntese da adaptação de mistérios egípcios e outros, visando especialmente à obtenção de estados de transe voluntário e consciente. Graves juramentos obrigavam aos membros, e um punhal de lâmina curva e cabo de marfim gravado com hieróglifos era, ao mesmo tempo, objeto de reconhecimento e de lembrança sobre o silêncio aceito.

Vários membros da improvisada seita conseguiram resultados curiosos, e o próprio Cedaior já chamava a atenção de seus companheiros pela facilidade com a qual conseguia se colocar em catalepsia, por um período de tempo pré-fixado e sempre exatamente verificado, contando no “regresso” ou despertar, tudo o que havia feito e visto, havendo muitos fatos que foram verificados como exatas visões à distância, de fatos do presente ou do passado, e alguns até como previsões (pré-visões) de fatos ainda não acontecidos e que se realizaram tal como os descrevia o “iniciável” Cedaior.

Em 1892, sendo já militar (como solista de oboé e sub-chefe da banda de seu regimento) Cedaior conheceu o sargento Montagne, que o colocou em contato com o GROUP INDEPENDANT D’TUDES ESOTERIQUES na qual Cedaior conheceu Papus, Barlet, Sédir e outros Mestres da época, inclusive dois magnetizadores que se fizeram muito amigos de Cedaior e que foram também seus futuros companheiros de Martinismo: Raymond e Moutin.

Em 1892 mesmo, Cedaior foi iniciado na Ordem Martinista pelo grande místico SÉDIR e recebeu naquela ocasião os seguintes nomes: nome místico e simbólico CEDAIOR e nome esotérico SDR/2-H, (o que indica que ele foi o oitavo discípulo iniciado por SÉDIR).

Em 1893, encontramos Cedaior como Iniciado Martinista e logo como S:::I::: (terceiro grau) na função de Mestre de Cerimônias da Loja Martinista Mística HERMANUBIS, que se dedicava especialmente à via mística e, dentro dela, preferentemente à parte oriental da doutrina.

É possível que isto tenha influenciado para “reavivar” o seu passado oriental (todos nós devemos ter um, Carolei!...), pois que, durante certa época, os seus desdobramentos voluntários foram assistidos por Mestres do Tibete e de Allahabad, que até o levaram a prestar certos compromissos perante a chamada Grande Loja Branca, compromissos que lhes foram lembrados e exigidos mais tarde, como consta no seu livro As Leis de Vayú.

Entre tais Mestres, um deles chegou a “materializar-se” (sem a intervenção de fenômenos mediúnicos, é claro) em Paris, e fazer “prova de fé”... como aquela na qual CEDAIOR (nome iniciático com o qual ficou conhecido meu Mestre), recebeu ordem para apontar um revólver para o peito de sua jovem esposa... e atirar... ficando a bala tremendo no ar e caindo no chão, ante o espanto dos quatro ou cinco que, com Cedaior, compunham um grupo muito fechado...

Tempos antes de sua desencarnação, já à espera, a anuncia aos que o rodeiam. Declara, uns dias antes de sua morte, ainda com boa saúde: “terminei o que tinha que fazer por esta vez; vou dar uma olhadinha lá em cima e voltarei logo para continuar”.

No dia 12 dá suas instruções para depois de sua partida. No dia 14 aparecem os primeiros sintomas. Se instala uma congestão pulmonar e segue a uremia. O seu tema natal “morrerás só e abandonado, longe dos teus”, cumpria-se, pois, não obstante o carinho de sua segunda esposa e dos filhos desse matrimônio, bem como certos de seus Discípulos, ele ficou “largado” nos corredores da Santa Casa, transportado pela delicadeza do Dr. Antônio Pereira Júnior, à Casa de Saúde do mesmo, onde por curioso conjunto de circunstâncias expirou sem nenhum dos seus junto a ele. – Que bela morte, sossegada e tranqüila!...

O venerável Mestre CEDAIOR passava suavemente, ao outro plano, às 16 horas e 55 minutos do dia 22 de janeiro de 1943, e uma forte chuva veio a confirmar na hora da entrega de seus despojos à terra, suas palavras de dias antes de que “tinha que mexer um pouco em cima para interromper a seca”.

Vimos assim, sumariamente, a vida material e social do HOMEM, veremos mais tarde, a atividade do Mestre, sobre cuja tumba ressoou, carinhosamente, a voz dos representantes da Loja Maçônica Moreira Guimarães do Centro Vivekananda; da Irmã Hipathia – representando o soberano Delegado Geral da Ordem Martinista e sobre a qual se estendeu a mão amiga dos veneráveis Mestres em seus primeiros passos iniciáticos desta encarnação e aos quais sempre SERVIU o melhor que pode ao preço de qualquer sacrifício: AMO – PAPUS – VAYUSATTWA - SÉDIR.


Que as Rosas floresçam sobre a Cruz
De tua tumba, como floresceram na Luz Emanada de teu Sacrifício, de teu Coração,
E siga fecunda a trajetória de tua Missão.


___________________________________________________
Texto adaptado do original escrito pelo Dr. Jehel, S:::I:::, e retirado do livro As Leis de Vayú. Trata-se de uma segunda versão da publicação original na revista La Iniciación publicada pelo G.I.D.E.E., número 11, ano 2, março de 1943. Sevãnanda fez adaptações neste texto moderno. A tradução do original em espanhol é de Swãmi Sarvananda.

Sunday, March 26, 2006

Os Irmãos Primogênitos da Rosa-Cruz por Pierre Montloin e Jean-Pierre Bayard (*)

Roger Caro, cavaleiro dos templários do Chipre


As associações rosacrucianas que acabamos de enumerar eram conhecidas do mundo profano. Mas já não sucede o mesmo em relação àquela que vamos agora evocar.

Ela intitula-se Ordem dos Irmãos Primogênitos da Rosa-Cruz. O único membro cuja identidade é conhecida chama-se Roger Caro, residente em Saint-Cyr-sur-Mer (Var). Acabou de editar (numa tiragem extremamente reduzida) uma legenda (1) da sua Ordem, onde começa por afirmar a existência dos Irmãos Primogênitos. Mas trata-se de um livro do qual se faz presente o adágio Taoísta: «Tudo aquilo que pode ser dito não merece ser conhecido». Aplicando-se conhecido ao conhecimento integral, inexprimível e informal.

A obra relaciona, histórica e iniciaticamente, os Irmãos Primogênitos à tradição templária, da qual seriam, desde o século XV, os únicos depositários. Eles teriam recolhido aquilo que os processos de 1307 a 1314 tinham pretendido fazer desaparecer (2). Os Irmãos Primogênitos confirmariam igualmente ser os depositários de uma tradição alquímica.

Eis como a legenda explica a ligação existente entre a Ordem do Templo e a Rosa-Cruz; explicação cuja responsabilidade lhe pertence exclusivamente.

Após a dissolução da sua Ordem em 1309, os templários foram perseguidos, aprisionados, mortos. Contudo, alguns deles conseguiram escapar, quer refugiando-se no seio de algumas ordens religiosas, quer ainda exilando-se para a Espanha, para a Alemanha ou para a Inglaterra.

Entre os cavaleiros que desembarcaram na Inglaterra, encontravam-se alguns capelães e homens de armas. Refugiaram-se por algum tempo numa comendadoria situada em Londres, mas, quando o rei da Inglaterra quis aproveitar-se da sua situação de proscritos para se apoderar de todos os bens, emigraram para a Escócia, onde foram recebidos de braços abertos.

Entre eles encontrava-se o barão Guidon de Montanor, que soube convencer o único homem que considerou capaz de voltar a reunir os seus irmãos caídos em desgraça: chamava-se esse homem Gaston de la Pierre Phoebus.

Durante longos e longos meses, o primeiro instruiu o segundo em alquimia. Em, 1316, estes dois «filósofos» conseguiram convencer vinte e cinco companheiros a regressar a França, a fim de levarem a cabo uma missão excepcional.

Reagruparam-se sob um estandarte e tomaram a denominação de Irmãos Primogênitos da Rosa-Cruz. Sendo a filosofia alquímica uma filosofia universal, a sua única missão foi a de perpetuá-la. Contudo, a sabedoria e a prudência exigiam que a Ordem e os seus membros permanecessem totalmente secretos...

A legenda deduz o seguinte:

a-) Os fundadores da Ordem da Rosa-Cruz são antigos templários que, tendo sido desbaratados e perseguidos, começaram por refugiar-se na Inglaterra e seguidamente na Escócia;

b-) Entre estes refugiados havia um alquimista que, em alguns meses, iria instruir um templário exilado;

c-) Tendo em conta a filosofia ensinada, o mais absoluto segredo impunha-se a todos eles.

A questão: Onde é que os templários tinham ido buscar a sua ciência hermética?... responde a legenda: «... Os templários, sob Hassan e Saladino, estudaram todo o tipo de filosofias numa casa da Sapiência à qual tinham acesso. Mas nem todos os cavaleiros do Cristo freqüentavam esta casa da ciência. A maioria mantinha-se mais soldado do que intelectual; o número dos investigadores era restrito: alguns senescais e capelães... ».

Mais tarde, quando o acesso à via real oriental lhes foi fechado, os templários na arte da alquimia perpetuaram este ensino começando por distinguir e, seguidamente, por instruir aqueles dos seus pares aptos a suceder-lhes. Foi assim que Guidon de Montanor e, depois, Gaston de la Pierre Phoebus, vieram a encontrar-se na posse do segredo hermético e puderam, por seu turno, vir mais tarde a instruir alguns dos seus companheiros na fraternidade.

Desde o início o número dos irmãos da Ordem foi fixado em trinta e três. São dirigidos por um Imperator. O atual Imperator é o último elo de uma cadeia iniciática que, nos tempos modernos, compreende os nomes de Eliphas Levi e de William Wynn Westcott, o qual também era membro da Societas Rosicruciana in Anglia (S.R.I.A.). Westcott transmitiu os seus poderes a Liddell Mathers (MacGregor) que era simultaneamente Imperator da Golden Dawn. Sucedeu-lhe um erudito, Sir Leigh Gardner; e, seguidamente, o fundador da Sociedade Antroposófica, o Dr. Rudolf Steiner.

No próprio seio deste grupo antroposófico, Steiner estabeleceu um círculo interior, dividido em três graus. Pratica-se aí um ritual que vem parcialmente reproduzido na obra de Eliphas Levi: Dogma e Ritual da Alta Magia.

O 56º Imperator foi um irlandês, A. Crowley (3). Casado com uma francesa, Caroline Faille, veio para a França e alistou-se em 1915 na Legião Estrangeira, a fim de tratar dos feridos. Em 1916, morreu na frente de batalha.

O 57º Imperator foi Jean-Jacques d’Ossa. Bispo missionário, sempre ia para aonde havia sofrimento, miséria e lágrimas. A sua vida foi um autêntico sacerdócio de altruísmo e de amor.

O atual Imperator (o 59º) tem por hierônimo Pierre Phoebus.

A alquimia dos Irmãos Primogênitos da Rosa-Cruz é simultaneamente espiritual e material. Ou seja, tem por objetivo transmutar o homem vulgar, o profano, num verdadeiro iniciado; e, para o dito iniciado, transmutar o chumbo, metal vil, em ouro, substância divina. Com este duplo fim, os adeptos e os seus discípulos meditam e põem em prática os seguintes quarenta e dois axiomas:


I. Tudo aquilo que podemos levar a cabo por meio de métodos simples não deve ser tentado por meio de métodos complicados. Pois porque é que havemos de nos servir da complexidade para buscar aquilo que é simples?

II. Não há nenhuma substância que possa ser aperfeiçoada sem passar por longo período de sofrimento. Grande é, pois, o erro daqueles que imaginam que a pedra dos filósofos pode ser endurecida sem ter sido previamente dissolvida.

III. A natureza deve ser ajudada pela arte sempre que a energia lhe falte. A arte pode servir a natureza, mas não suplantá-la.

IV. A natureza só em si mesma pode ser aperfeiçoada.

V. A natureza serve-se da natureza, compreende-a e vence-a. Não existe qualquer outro conhecimento para além do conhecimento de si mesmo.

VI. Aquele que não conhece o movimento, não conhece a natureza. A natureza é o produto do movimento. No momento em que cessar o eterno movimento, a natureza inteira cessará de existir. Aquele que não conhece os movimentos que se produzem no seu corpo é como um estranho na sua própria casa.

VII. Tudo aquilo que produz um efeito análogo àquele que é produzido por um elemento composto é igualmente um composto. O Um é maior do que todos os outros números, porque ele produziu a infinita variedade das grandezas matemáticas; mas nenhuma alteração é possível sem a presença do Um, que penetra todas as coisas, e cujas faculdades estão presentes nas suas manifestações.

VIII. Nada pode passar de um extremo ao outro sem a ajuda de um meio-termo. Um animal não pode chegar ao celeste sem ter passado pelo homem. Aquilo que é antinatural deve tornar-se natural antes da sua natureza poder tornar-se espiritual.

IX. Devemos tornar-nos semelhantes a crianças, para que a palavra da sabedoria possa ressoar-nos no espírito.

X. Aquilo que ainda não está maduro deve ser ajudado por aquilo que já alcançou a maturidade. Assim se inicia a fermentação.

XI. Na calcinação, o corpo não se reduz, ao contrário, aumenta de qualidade.

XII. Na alquimia, nada pode dar fruto sem ter sido previamente macerado. A luz não pode luzir através da matéria se a matéria não se tiver tornado suficientemente sutil para deixar passar os seus raios.

XIII. Aquilo que mata produz a vida; aquilo que é causa de morte traz a ressurreição. Aquilo que destrói cria. A criação de uma nova forma tem por condição a transformação antiga.

XIV. Tudo aquilo que encerra uma semente pode ser aumentado, mas não sem a ajuda da natureza. Pois só por intermédio da semente é que o fruto contendo um maior número de sementes pode nascer.

XV. Todas as coisas se multiplicam e aumentam por meio de um princípio feminino. A matéria nada produz se não for penetrada pela Força. A natureza nada cria se não for impregnada pelo Espírito. O pensamento permanece improdutivo se não for tornado ativo pela Vontade.

XVI. Todo o gérmen pode unir-se àquilo que faz parte do seu reino. Todo o ser é atraído pela própria natureza representada noutros seres. As cores e os sons de natureza análoga formam acordos harmoniosos; os animais, da mesma espécie associam-se, unem-se aos germens com os quais possuem afinidades.

XVII. Uma matriz pura dá origem a um fruto puro. Só no santuário da alma é possível revelar-se os mistérios do Espírito.

XVIII. O fogo e o calor só podem ser produzidos pelo movimento. A estagnação é a morte. A alma que não sente petrifica-se.

XIX. Todo o método começa e acaba por um único método: a cozedura. Eis o grande arcano: é um espírito celeste oriundo do Sol, da Lua e das estrelas, e que foi tornado perfeito no objeto saturnino por meio de uma cozedura contínua, até ter finalmente atingido o estado de sublimação e a potência necessária para transformar os metais vis em ouro. Esta operação executa-se pelo fogo hermético. A separação do sutil a partir do espesso deve ser feita juntando-lhe continuamente água; porque quanto mais terrestres são os materiais, tanto mais diluídos eles devem ser. Deve continuar-se até que a alma esteja unida ao corpo.

XX. Toda a obra se executa empregando unicamente água. É a mesma água em que se movia o espírito de Deus no princípio, quando as trevas cobriam a face do abismo.

XXI. Todas as coisas devem voltar àquilo que as produziu. Aquilo que é terrestre vem da terra; aquilo que pertence aos astros provém dos astros; aquilo que é espiritual procede do Espírito e retorna a Deus.

XXII. Onde os verdadeiros princípios faltam, os resultados são imperfeitos.

XXIIII. A arte começa onde a natureza cessa de agir. A arte executa por meio da natureza aquilo que a natureza é incapaz de executar sem a ajuda da arte.

XXIV. A arte hermética não se alcança através de uma grande variedade de métodos. A pedra é una. Não há mais do que uma só verdade eterna, imutável. Ela pode surgir sob muitos e variados aspectos; uma, num tal caso, não é a verdade que muda, somos nós que mudamos a nossa forma de concepção.

XXV. A substância que serve para preparar o Arcanum deve ser pura, indestrutível e incombustível. Ela deve estar isenta de elementos materiais grosseiros, e ser inatacável à dúvida e à prova do fogo das paixões.

XXVI. Não procureis o gérmen da pedra dos filósofos no seio dos elementos. Pois é só no centro do fruto que pode ser encontrado o gérmen.

XXVII. A substância da pedra dos filósofos é mercurial. O sábio procura-se no mercúrio; o louco procura criá-la na vacuidade do seu próprio cérebro.

XXVIII. Emprega só metais perfeitos. A sabedoria do mundo é simples loucura aos olhos do Senhor.

XXIX. Aquilo que é grosseiro e espesso deve ser tornado sutil e fino pela calcinação. Isso é uma operação bastante penosa e lenta; mas ela é necessária para arrancar a própria raiz do mal.

XXX. Uma ciência desprovida de vida é uma ciência morta; uma inteligência desprovida de espiritualidade não passa de uma falsa luz, de uma de empréstimo.

XXXI. Na solução, o dissolvente e a dissolução devem permanecer juntos. O fogo e a água devem ser tornados aptos a combinarem-se. A inteligência e o amor devem permanecer para sempre unidos.

XXXII. Se a semente não for tratada pelo calor e pela umidade, torna-se inútil. A frialdade contrai o coração e a sequidão endurece-o, mas o fogo do amor divino dilata-o.

XXXIII. A terra não produz quaisquer frutos sem uma contínua umidade. Nenhuma revelação pode ter lugar nas trevas, a não ser por intermédio da luz.

XXXIV. A umidificação tem lugar por meio da água, com qual possui muitas afinidades.

XXXV. Todas as coisas secas tendem naturalmente a chamar a si a umidade de que necessitam para se tornarem completas na sua constituição. O Um, donde saíram todas as outras coisas, é perfeito, e é por isso que as coisas contêm em si a tendência para a perfeição e a possibilidade de a alcançarem.

XXXVI. Uma semente, só por si, é.

XXXVII. O calor ativo produz a cor negra naquilo que é úmido; em tudo o que é seco, a cor branca, e em tudo o que é branco, a cor amarela.

XXXVIII. O fogo deve ser moderado, ininterrupto, lento, igual, úmido, quente, branco, suave, abrasando todas as coisas, contido, penetrante, vivo, inexaurível. É o fogo que desce dos céus para abençoar toda a humanidade.

XXXIX. Todas as operações devem ser feitas num único vaso e sem o retirar do lume. A substância empregue para a preparação da pedra dos filósofos deve ser reunida num local e não dispersa por vários locais.

XL. O vaso deve ser hermeticamente selado, porque, se o espírito encontrasse uma fenda por onde se escapar, a força estaria perdida. Deve haver sempre à porta do laboratório um guarda armado de um gládio de fogo, a fim de examinar todos os visitantes, expulsando os indignos.

XLI. Não abrais o vaso antes da umidificação se ter completado.

XLII. Quando mais a pedra é alimentada, tanto mais a vontade se avoluma. A sabedoria divina é inesgotável; apenas a nossa faculdade de receptividade é limitada.


Notas

(*) excerto adaptado do livro Os Rosa-Cruz, Edições 70, Lisboa-Portugal, 1979.

(1) Legenda, palavra latina que pode ser traduzida por «anais»;

(2) Processo que vieram a culminar na dissolução da Ordem do Templo e na condenação à morte (ou ao exílio) de numerosos cavaleiros desta Ordem Cavaleiresca;

(3) Não confundir com o inglês Aleister Crowley.